Entrevista com o apóstolo

Para saber alguma coisa sobre o apóstolo São Paulo nada melhor do que perguntar a ele sobre sua vida e sobre suas atividades pastorais. É bom saber a sua história, conhecer suas viagens, descobrir a razão de suas cartas para compreender o que ele escreve. Iniciando uma série de artigos sobre o apóstolo por causa do Ano Paulino proposto pelo papa, podemos pedir a Paulo que se apresente e nos diga alguma coisa de suas viagens missionárias. Como fazer isso? Um caminho seguro é consultar as cartas que ele escreveu.

Nelas, encontramos informações dadas por ele mesmo. Atenção, porém! Das catorze cartas que na Bíblia aparecem sob o título de “Escritos Paulinos”, apenas sete são aceitas por todos os estudiosos como autenticamente paulinas. As sete cartas são as seguintes: Romanos, 1ª e 2ª aos Coríntios, Gálatas, Filipenses, 1ª aos Tessalonicenses e Filêmon. Há três outras chamadas por alguns de dêutero-paulinas, sobre cuja autenticidade se discute, isto é, há quem ache que foram escritas por São Paulo e há quem ache que foram escritas por outra pessoa, possivelmente um discípulo de Paulo. São elas: as cartas 2ª aos Tessalonicenses, Colossenses e 2ª a Timóteo.

As quatro restantes certamente não foram escritas por Paulo, mas por alguém que o conheceu e com ele trabalhou. São elas: Efésios, 1ª a Timóteo, Tito e Hebreus. Que informações, então, nos dão as cartas sobre a pessoa de Paulo? Primeiramente, que ele era um judeu fervoroso e praticante, observante das leis e das tradições de seu povo. Ele escreve aos filipenses dizendo que era hebreu, filho de hebreus, da raça de Israel, da tribo de Benjamin, do grupo dos fariseus e circuncidado ao oitavo dia conforme as prescrições da Lei (cf Fl 3,5-6). Aos coríntios, ele reafirma que é hebreu, israelita, descendente de Abraão (cf 2Cor 11,22). Aos romanos, mais uma vez ele dirá que é descendente de Abraão e da tribo de Benjamin (cf Rm 11,1). Ele se identifica, portanto, como um bom judeu, zeloso e irrepreensível na observância da Lei de Israel (cf Fl 3,6). Temos ainda uma outra fonte de informação sobre a vida de Paulo, que é São Lucas. As descrições que ele faz de Paulo são sempre mais extensas, com dados que não se encontram nas cartas.

Assim, pelo livro dos Atos dos Apóstolos ficamos sabendo que Paulo se chamava Saulo e que tinha nascido na cidade de Tarso, na província romana da Cilícia, com direito, portanto, à cidadania romana (cf At 9,11; 21,39). Paulo era judeu de sangue e legalmente romano (cf At 16,37; 22,27-28; 23,27). Lucas acrescenta ainda que Paulo foi criado em Jerusalém e que nesta cidade estudou sob a orientação de Gamaliel, tornando-se um zeloso observante da Lei de seus pais (cf At 22,3). Foi em Jerusalém que Paulo começou a perseguir os cristãos. O que é que Paulo diz sobre sua aversão aos cristãos e a perseguição que moveu contra a Igreja nascente? De fato, nas cartas, Paulo reconhece ter perseguido a Igreja.

Ele escreve aos gálatas dizendo que perseguiu muito e devastou a Igreja de Deus (cf Gl 1,13-14), e repete aos filipenses e aos coríntios que perseguiu a Igreja (cf. Fl 3,6 e 1Cor 15,9). Lucas tem as mesmas informações sobre a atitude de Paulo contra os cristãos e acrescenta que Paulo “respirando ameaças de morte contra os discípulos do Senhor, dirigiu-se ao sumo sacerdote. Foi pedir-lhe cartas para as sinagogas de Damasco, a fim de poder trazer para Jerusalém, presos, os que lá encontrasse pertencendo ao Caminho, quer homens, quer mulheres” (At 9,1-2). Note como Lucas chama a Igreja primitiva. Ele a chama de “Caminho”, e isto significa uma maneira de se viver. Os discípulos de Jesus seguem um caminho, eles têm uma maneira própria de viver. Saulo de Tarso, que depois se chamará Paulo, é, pois, um judeu com cidadania romana, do grupo dos fariseus, educado em Jerusalém por Gamaliel, zeloso observante das Leis de Israel, adversário e perseguidor dos primeiros cristãos.

Cônego Celso Pedro
Arquidiocese de São Paulo

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