Envelhecer com dignidade e qualidade de vida

Dom Roberto Francisco Ferreria Paz
Bispo de Campos (RJ)

 

Lembrando a compaixão e o cuidado que São Vicente de Paulo dispensava aos necessitados e desfavorecidos e certamente incluindo-se os idosos nesta solicitude, a comissão de educação do Senado Federal determinou que esta data homenagearia este setor da população, às vezes tão sofrido. Junto a esta comemoração, a homologação do Estatuto do Idoso, pela lei10.741, assegurando direitos àqueles com 60 anos ou idade superior, para que seja preservada sua saúde e aperfeiçoamento físico, mental, moral e espiritual, com inclusão e cidadania.

Não se trata só de dar atendimento preferencial, mas criar uma cultura de valorização e proteção do idoso visando implementar o que Kofi Amann, ex-presidente da ONU, desejava: uma sociedade para todas as gerações e idades. A Igreja acolhe todas estas iniciativas com alegria e por sua parte se compromete a servir os idosos não só por uma questão de justiça ou sensibilidade humana, mas pelo que constituem como capital espiritual, sabedoria e profunda experiência de vida.

Como os anciãos do Templo, Simeão e Ana apontando para o Menino Jesus, os idosos são reserva de esperança e memória viva dos valores humanos permanentes, mantendo uma conexão e ligação profunda com o Deus e Senhor da Vida.

Com os idosos aprendemos a determos o ritmo frenético e considerar que podemos viver mais devagar (slaw) para contemplar o sabor e a beleza da vida. A superar a cultura do fast food que consome tudo e termina com a arte de sentar-se para comer juntos e conversar sem pressa. Com eles, compreendemos o sentido e o valor das narrativas e histórias que contam as origens das famílias, dos bairros e das vivências fundamentais do ser humano. Como no livro Ferenheit 51, de Ray Bradury, quando num futuro distópico os bombeiros queimavam livros e as pessoas tinham prazo limitado para viver, os anciãos se tornaram como hoje bastiões da ressistência pela dignidade da vida, sendo sinais de paciência e teimosia da verdadeira esperança.

Benditos os cabelos grisalhos, as rugas, os passos lentos e as lembranças conservadas, longe de ser sinais de decadência ou de deterioro, são marcas e cicatrizes de vitória, do bom combate travado, da paz com a vida e a consciência. Queridos irmãos/ãs idosos/as nós os amamos e precisamos muito de vocês, partilhem vossos talentos e vossos dons, repitam sempre vossas histórias, porque assim resgataremos a vontade de lutar, de viver com integridade, de resistir às tentativas reducionistas de tornar o ser humano numa máquina ou numa mercadoria. Deus seja louvado!

 

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