“Tendo nascido Jesus na cidade de Belém, na Judéia, no tempo do rei Herodes, eis que alguns magos do Oriente chegaram a Jerusalém, perguntando: ‘Onde está o rei dos
judeus que acaba de nascer? Nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo.’ (Mateus 2, 1-12).
O primeiro domingo do ano tem como ponto de referência litúrgica a Epifania do Senhor. É a manifestação de Deus na fragilidade da humanidade ao fazer-se homem, nascendo em Belém de Judá, visitado e reconhecido pelos Magos vindos de longe para o adorar.
Deus na sua admirável e misericordiosa providência decidiu vir, nos últimos tempos, em socorro do mundo perdido. Determinou primeiramente preparar o povo de Israel, através dos patriarcas e profetas que lhes revelariam os seus ensinamentos, para salvar não somente a casa de Israel, mas todos os povos, por meio de seu Filho, feito homem, nascido de Maria Virgem.
Quando Deus chamou o patriarca Abraão para sair de sua terra e dirigir-se para onde lhe indicaria, disse-lhe: “Serás pai de uma incontável descendência”, gerada não segundo a carne, mas pela fecundidade da fé. Todos os povos entram pois na família do patriarca como filhos da promessa e recebem as bênçãos da descendência de Abraão, não segundo a carne mas segundo a fé.
O que celebramos hoje na liturgia manifesta e revela, de muitas formas, que Deus veio ao mundo num corpo humano, para que os homens, mergulhados nas trevas de todas as maldades, não perdessem por ignorância o que só puderam alcançar e possuir pela graça. Aquele que quis nascer para nós não quis ser ignorado por nós. Os magos o procuravam escondido resplandecente nos astros, e o encontraram envolto em panos na manjedoura. Os magos finalmente contemplaram maravilhados, no presépio, o céu na terra, Deus no homem, na pequenez de uma criança, aquele que o universo não pode conter. Vendo-o, proclamam sua fé e não discutem, oferecendo-lhe místicos presentes sempre explicados: incenso oferecido a Deus, ouro ao rei e mirra ao que haveria de morrer. Assim os povos pagãos tornaram-se os primeiros chamados, porque a fé dos magos deu início à fé de todos os povos.
Jesus, nascido de Maria, continuará desse modo a manifestar-se, enquanto permaneceu visível, até a morte na cruz. Falou no silêncio de sua pequenez, na autoridade com que ensinava, sem contradições, sem duas palavras, sem discriminações, acolhendo a todos, manifestando o rosto da misericórdia, do amor infinito de Deus, para perdoar e salvar.
Ele não vem hoje para salvar o mundo dos desmandos dos projetos de globalização da economia que não demonstram preocupação pelo valor do trabalho humano com o suor de seu rosto, mas com o ganho do capital, continuando a deixar a maioria da humanidade sempre mais pobre e carente até do indispensável para sobreviver.
Só há uma equação para resolver os problemas do mundo, aquela que Jesus Cristo fez e ensinou com sua vida e sua palavra: morrer na cruz por amor. Isso aconteceu não por derrota infligida, mas por escolha pessoal contida no plano de Deus. Desde a apresentação de Jesus no Templo, no oitavo dia do nascimento, Simeão e a profetiza Ana anunciaram que Ele viera e seria sinal de contradição para muitos que não o reconheceriam. Uma espada de dor transpassaria o coração de sua mãe, a dor que a acompanharia até o desfecho da morte de Jesus na cruz.
Jesus ensina com autoridade. A felicidade que desejamos pelos votos de Ano Novo e a Paz tão sonhada só podem ser produto do amor. Todos somos convocados e convidados à conversão ao amor, ao perdão para os que nos ofendem, a solidariedade sem condições para os semelhantes que mais sofrem e os mais necessitados.
Os magos, ao encontrarem o menino com Maria, sua mãe, prostraram-se e o adoraram. É a profissão de fé na divindade de um menino. Deus se faz presente e se manifesta na pequenez de uma criança.
A liturgia deste dia é um convite: se Deus dignificou a fragilidade humana a ponto de assumi-la para, através dela, dar-se a conhecer ao mundo, à nenhuma pessoa humana pode ser negada a sua importância, o seu irrenunciável direito de viver com dignidade.
As festas de fim de ano e de novo ano passaram. Não podem ser transformadas em cinzas. Aguardam nossa conversão.
