“Esforcem-se para entrar pela porta estreita” (Lc 13, 24)

Dom José Ionilton Lisboa de Oliveira
Bispo Prelado de Marajó (PA)

 

 

No Evangelho do 21º Domingo do Tempo Comum, Lucas escreve que perguntaram a Jesus: “Senhor, são poucos os que se salvam?” (Lc 13, 23). Jesus não disse seriam poucos ou muitos. Sabemos, por Jesus, que a salvação que Ele nos trouxe é para todos: “Eu vim para que todos tenham vida” (João 10, 10). Mas Jesus faz um alerta importante: “Esforcem-se para entrar pela porta estreita” (Lc 13, 24). Qual seria esta porta estreita? Podemos dizer que esta porta estreita é a porta do amor, da solidariedade com os excluídos. Basta que nos lembremos do ensinamento de Jesus em Mateus 25, 31-46, a parábola do julgamento final, onde Ele afirma que entrará no Reino do Pai quem souber amar e servir a Ele nos famintos, sem roupa, sedentos, presos, doentes, estrangeiros. Por que o amor é a porta estreita? Porque o amor necessariamente nos leva a sair do comodismo, do egoísmo, do individualismo, da indiferença. Fazer o caminho do amor é passar pela porta estreita. Portanto, Jesus responde à pergunta sobre a quantidade de pessoas que se salvarão de forma indireta, dizendo que quem ama (passa pela porta estreita) se salvará. 

Alguns tentaram questionar a Jesus dizendo: “Nós comíamos e bebíamos em sua presença e tu ensinastes em nossas praças… Não sei de onde são vocês” (Lc 13, 26-27). A resposta é forte, dura. Ou seja, se a gente não amar e não servir, de nada adiantará as outras coisas que fazemos na Igreja, a partir de nossa experiência de fé e vivência de nossa vocação. É bom pensarmos bem nisto! Se a minha oração pessoal, na família e na igreja; se minha participação na celebração da Eucaristia, na adoração eucarística, na procissão, no círio de Nazaré, não me levar a amar e a servir os excluídos e marginalizados, tudo perderá sentido diante de Cristo. 

Jesus então faz outra declaração que nos provoca e nos leva a fazer uma séria revisão de vida: “Afastem-se de mim, vocês que praticam a injustiça” (Lc 13, 27). Não tem como ser de Cristo e praticar a injustiça; não tem como ser de Cristo e ser indiferente, omisso diante das injustiças; não tem como ser de Cristo e colaborar com quem faz a injustiça. Lembremos do que Deus nos fala pelo Profeta Isaías: “Não suporto injustiça junto com solenidade” (1,13). Ou ainda: “Quando vocês erguem para mim as mãos, eu desvio o olhar. Ainda que multipliquem as orações, eu não escutarei. As mãos de vocês estão cheias de sangue” (1, 15). Erguer as mãos, poderemos entender como sendo rezar; mãos cheias de sangue, poderemos entender como cometer, aceitar, apoiar as injustiças. O Papa Francisco na Exortação Apostólica “Querida Amazônia” nº 15 nos ensina que “não é saudável que nos habituemos ao mal. Faz-nos mal permitir que nos anestesiem a consciência social”. O Papa Francisco nos ensinou que não poderemos deixar as injustiças que ferem e que matam acontecerem e a gente fazer de conta que está tudo bem ou afirmar que combater as injustiças não tem nada a ver com a vivência de nossa fé cristã católica.  

Sugiro que possamos traduzir a fala de Jesus “afastem-se de mim, vocês que praticam a injustiça” para o positivo. Possamos escutar Jesus nos dizendo: “Aproximem-se de mim, vocês que praticam a justiça”. Imaginemos Jesus repetindo para nós o que está no livro do Profeta Isaías: “Aprendam a fazer o bem, busquem o direito, socorram o oprimido, façam justiça ao órfão, defendam a causa da viúva. Então venham e discutiremos!” (1, 17-18). 

 

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