Dom Antonio de Assis Ribeiro
Bispo Auxiliar de Belém do Pará (PA)

 

ESPIRTUALIDADE DO ADVENTO: UM CAMINHO ESPIRITUAL RUMO AO NATAL (1)

 

Introdução

O mundo ocidental cristão, no mês de dezembro, se reveste de uma tonalidade e clima humano todo especial. Não há como negar algo de extraordinário nesse mês: as decorações por todos os lados, a criatividade artística, a solenidade das músicas, a sedução das propagandas, o brilho das luzes, as confraternização, as festas familiares e entre amigos.

Certamente para muitos tudo isso não passa da roupagem do final de mais um ano, sendo um tempo dedicado às festas, viagens, compras e diversões. Todavia, para outros, tudo ganha um sentido especial por causa da fé, sendo um especial tempo de memória do Nascimento do Senhor Jesus Cristo, o Salvador da Humanidade.

Enquanto discípulo de Jesus Cristo, somos convidados a resgatar o verdadeiro sentido da celebração do Natal, que é essencialmente acolhida de Alguém que vem para reacender a chama da Fé, reavivar a nossa Esperança, alimentar nossa sede de Amor e de Paz.

A preparação da festa do Natal

Ao contrário do que vive a sociedade materialista e consumista, para aqueles que tem fé em Jesus Cristo, a celebração do seu Nascimento é uma profunda oportunidade de celebração da vida, de renovação do coração e assunção de propósitos de mudança de vida.

O Natal, para nós cristãos, não é uma festa qualquer. O seu sublime significado nos exige uma atitude de dinâmica expectativa e preparação interior! É aí que entra o discurso sobre o advento. Sem a perspectiva da celebração do Nascimento do Senhor, como extraordinário evento de intervenção de Deus na humanidade, não há Natal.

A palavra advento quer dizer «chegada», «vinda»… O Advento, para nós católicos, é o tempo litúrgico que precede o Natal caracterizado pela preparação à festa do «nascimento» de Jesus Cristo.

O advento é o tempo da dinâmica preparação no Natal; tempo da Esperança, da acolhida do Deus que assume a forma de gente, a natureza humana, se faz «um de nós», sem deixar de ser Deus. É Deus conosco! Por isso, somos convidados a viver o advento a exemplo de alguns personagens bíblicos como o profeta Isaías, João Batista e Maria.

 A importância do advento

O ser humano é faminto de transcendência, sendo capaz de ir além dos seus limites! Isso se manifesta no nosso desejo de comunicação através de ritos, sinais, símbolos, festas, êxtase, contemplação, sonhos, visões, querer e esperança. O advento nos fala de sonho!

O ser humano na sua capacidade de inquietude está sempre buscando. Mas é bem verdade que nem tudo aquilo que busca alcança, e entre a busca e o encontro, está a experiência da espera! O advento nos fala da beleza da experiência da espera do tempo de Deus, o Kairós por excelência. Advento é dinâmica espera interior.

Quem espera deve vigiar, por isso, o tempo do advento, é também caracterizado pela experiência da reflexão sobre a vigilância, a conversão, a esperança e alegria. Esses são temas refletidos ao longo das quatro semanas de preparação ao Natal.

Personagens do advento

Como cristãos, gente de fé, somos convidados a viver o advento a exemplo de alguns personagens bíblicos como o profeta Isaías, João Batista e Maria.

O profeta Isaías: ele alimenta em nós a capacidade de sonhar! O profeta Isaías é o profeta da Esperança, do sonho Messiânico, do Salvador da humanidade, da Paz universal, de utopias profundas como aquela de animais ferozes se tornando mansos e do deserto que vira mar!

 Isaías viveu em tempos difíceis, no meio de um povo desanimado e de uma fé envelhecida. Ele nos ensina que é necessário cultivar a esperança, a sermos inquietos, a cultivar o otimismo, a ter visão de futuro, a buscar o significado das coisas, a sermos sensíveis em relação ao movimento da história!

Isaías, profetas dos sonhos, nos questiona: conservo em mim a capacidade de sonhar? Como administro os momentos difíceis da vida? Sei infundir esperança nos outros? Procuro ver o positivo na história?

Outro personagem do advento é o profeta João Batista; era primo de Jesus, filho de Izabel esposa do sacerdote Zacarias. É aquele que teve como missão fazer a preparação imediata do povo em vista da acolhida do Filho de Deus que já estava no meio do povo vivendo anonimamente. Seu discurso foi duro, sincero ao extremo, contundente, decisivo… Deixava as pessoas inquietas, as desinstalava do comodismo… Já havia acabado o tempo da espera, era chegada a hora de decisões e de acolhida do Salvador. Seu final foi trágico, sendo decapitado; Ele é referência de alguém que tem paixão pela verdade e coerência com a própria missão profética.

João Batista era uma voz que gritava no deserto. Ele nos questiona: sou desejoso de transformação ou sou acomodado? Abraço com radicalidade os desafios da missão que assumo? Como vai a minha sobriedade?

O terceiro personagem do advento é Maria; ela viveu seu tempo de advento de modo muito dinâmico: para ela o advento foi o tempo de gravidez, servindo sua prima Isabel, dando uma ajuda a quem dela precisava. Não foi intimista!

A experiência do advento de Maria nos fornece um dado importante: Maria «esperava» seu filho, mas, ao mesmo tempo, já o trazia consigo em seu ventre! Maria nos ensina o desafio de «cuidar da gravidez”: deixar Jesus Cristo crescer em nós, nascer sadiamente, não abortá-lo, dar condições de vida! Maria nos ensina que fé e luta por um mundo melhor estão profundamente unidas. Quem tem fé, serve, trabalha, sensibiliza-se diante das necessidades alheias.

A experiência do advento de Maria nos lança alguns questionamentos: como vai a minha capacidade de “gestar”? Sou paciente na gestação ou logo aborto aquilo que me custa?  Como Maria, luto para vivenciar a experiência da intimidade com Cristo, fazendo-o crescer em mim? Visto que Maria viveu seu advento servindo, como vai a minha capacidade de servir tomando boas iniciativas em prol do outro?

A você um bom caminho espiritual de preparação ao Natal!

 

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