São inúmeras as pessoas que se perguntam por que, de uns anos para cá, importantes órgãos da imprensa nacional e internacional se decidiram a mover os mais renhidos ataques contra a Igreja Católica, sobretudo na pessoa de seu líder supremo, o Papa Bento XVI.
Uma tentativa de resposta foi dada por Dom Henrique Soares da Costa, bispo auxiliar de Aracaju, ao questionar o modelo de religião e de cultura que tenta se impor na sociedade atual: «O homem da sociedade consumista e hedonista do Ocidente não está à procura da Verdade, mas do bem-estar. A sociedade ocidental já não crê que se possa atingir a Verdade e viver na Verdade. Agora há somente a “verdadezinha” de cada um, feita sob medida: é verdade para mim o que me faz sentir bem, o que resolve minhas necessidades imediatas. Religião não é mais questão de aderir à Verdade que dá sentido à existência, mas, sim, de entrar num grupo que resolva meus problemas afetivos, emocionais, de saúde e até materiais. Religião não é um modo de servir a Deus e nele me encontrar, mas um modo de me servir de Deus para resolver minhas coisas. Como diz o Edir Macedo, a Bíblia é uma ferramenta para se conseguir aquilo que se quer!».
É nesse contexto que se insere a atuação de Bento XVI. Como se sabe, sua figura inspirava desconforto, medo e rejeição antes ainda de subir ao trono de Pedro. A contestação começou dentro da Igreja Católica e atingiu outros segmentos da sociedade, em quantos teimam percorrer caminhos onde a verdade é decidida pela democracia ou substituída pelo pluralismo cultural e moral. O que acontece é que o Papa atual tem autoridade. Uma autoridade que não é construída sobre o prestígio ou a imposição, mas, como ele mesmo escreveu em sua Carta Encíclica de 29 de junho de 2009, sobre “o amor na verdade”. É por isso que não teme o diálogo: «No amor, não há lugar para o temor» (1Jo 4,18). Quem prefere o ataque, demonstra insegurança e desorientação, como patentearam alguns professores e alunos da maior universidade romana, no dia 17 de janeiro de 2008, ao se oporem à visita de Bento XVI ao estabelecimento.
Mas, quem conhece de perto o Santo Padre, encontra nele a sinceridade de um irmão, que pede permissão para percorrer, lado a lado, os caminhos do Senhor. Foi o que ele demonstrou no dia 14 de março de 2010, 4º Domingo da Quaresma, na alocução que proferiu aos fiéis reunidos na Praça São Pedro, em Roma. Comentando o Evangelho do dia, conhecido como “a parábola do filho pródigo”, o Papa analisou o processo de conversão operado por Deus em quantos se deixam amadurecer pela vida.
«Este texto do Evangelho nos fala de Deus, nos dá a conhecer o seu rosto ou, melhor, o seu coração. Depois do que Jesus nos revelou do Pai misericordioso, as coisas não são mais como antes. Agora conhecemos a Deus: ele é nosso Pai que, por amor, nos criou dotados de liberdade e consciência, que sofre se nos perdemos e faz festa se regressamos. A nossa relação com ele se constroi através de uma história, como sucede a todo filho com seus pais: no início, ele depende deles; depois, reivindica a própria autonomia; por último – se houver um desenvolvimento positivo –, alcança um relacionamento maduro, baseado no reconhecimento e no amor autêntico.
Nessas etapas, podemos interpretar também os passos do homem em sua relação com Deus. Há uma fase que pode ser definida como infância, quando a religião é movida pela necessidade e pela dependência. À medida que cresce, o homem quer emancipar-se dessa submissão e ser adulto, capaz de se reger por si mesmo e tomar as próprias opções de maneira autônoma, pensando, inclusive, que pode prescindir de Deus. É uma fase delicada, que pode levar ao ateísmo. Contudo, não poucas vezes, ela esconde também a exigência de descobrir o autêntico rosto de Deus.
Felizmente, Deus não esmorece em sua fidelidade e, por mais que nos distanciemos e nos percamos, ele nos segue com seu amor, perdoando os nossos erros e falando interiormente à nossa consciência, para nos atrair a si.
Na parábola, os dois filhos se comportam de forma oposta: o menor sai de casa e se atola cada vez mais. O mais velho fica com o pai, mas não tem com ele uma relação madura. Quando o irmão regressa, ao invés de se alegrar como o pai, revolta-se e não quer entrar. Os dois filhos representam dois modos imaturos de se relacionar com Deus: a revolta e a obediência servil. Ambas as formas são superadas por uma experiência da misericórdia. Só experimentando o perdão e reconhecendo que somos amados com um amor gratuito, maior que a nossa miséria – e a nossa justiça – conseguiremos uma relação verdadeiramente filial e livre com Deus».