Dom Paulo Antônio De Conto
Administrador Apostólico da Diocese de Nova Friburgo
Queridos irmãos e irmãs, estamos vivendo desde o último domingo a Semana das semanas. Somos conduzidos pela liturgia da Igreja a viver os últimos passos de Jesus sobre a Terra. Contemplaremos cada momento em que Ele manifestou seu amor incondicional por toda a humanidade.
Quis a Providência Divina que estes dias fossem vividos na intimidade de nossos lares. Movidos pela solidariedade e mútua cooperação, nos vemos impedidos de nos encontrar fisicamente para conter a proliferação do coronavírus. Esta será uma excelente oportunidade de, contemplando a finitude e fragilidade de nossas vidas, nos unir ao Cristo chagado e crucificado na certeza da ressureição.
São Paulo no grande hino cristológico declara que Jesus “esvaziou-Se a Si mesmo, tomando a condição de servo” (Flp 2, 7). O Papa Francisco, inspirado por esta certeza, durante a homilia de Domingo de Ramos motivou toda Igreja viver a Semana Santa contemplando o Deus que nos serviu gratuitamente e no seu exemplo se inspirar. “Quando nos sentimos encurralados, quando nos encontramos num beco sem saída, sem luz nem via de saída, quando parece que nem Deus responde, lembremo-nos que não estamos sozinhos” (Papa Francisco, 05 abr. 2020).
Deus esvaziou-se, assumiu nossa condição humana, participou de nossos sofrimentos mais atrozes. Foi traído, castigado, chicoteado, despido de suas vestes, pregado numa cruz experimentou a abandono mais profundo. Mas também nestes passos exalava amor, caridade e esperança. Acabrunhado sobre o peso da cruz, consolou as mulheres que choravam, concedeu o perdão aos que o ofenderam… entregou-se por toda a humanidade.
O Santo Padre lembrou ainda que no drama da pandemia somos submetidos por muitos infortúnios. Certezas que se desmoronam, expetativas traídas, sentimento de abandono que nos aperta o coração, diante de tudo isto somos chamados a dar testemunho da ressurreição de Cristo a toda humanidade.
Esta é, e sempre deverá ser, nossa resposta ao amor incondicional que recebemos de Jesus, desde a Sua Encarnação, Paixão, Morte e Ressurreição. Ele mesmo nos ensinou a “Amar a Deus sobre todas as coisas, e ao próximo como a ti mesmo” (Mt 22, 34-40). “Estamos no mundo, para amar a Ele e aos outros: o resto passa, isto permanece. O drama que estamos a atravessar impele-nos a levar a sério o que é sério, a não nos perdermos em coisas de pouco valor; a redescobrir que a vida não serve, se não se serve. Porque a vida mede-se pelo amor” (Papa Francisco, 05 abr. 2020).
Infelizmente foi preciso um vírus cruel atingir a humanidade inteira para reaprendermos a valorizar o que realmente tem valor. O convívio com os amigos, familiares, vizinhos, a participação ativa na vida da comunidade e nos Sacramentos. Mas ao mesmo tempo, precisamos cuidar para que todo este aprendizado não se limite ao tempo da crise.
Nosso Senhor já nos alertou inúmeras vezes, pelos profetas, patriarcas e até mesmo pelo Seu próprio filho, sobre as consequências das nossas transgressões, e nós continuamos a fechar os ouvidos e o coração vivendo seguindo nossas mazelas e paixões desordenadas.
No próximo domingo, depois de atravessar o deserto e subir ao calvário, somos chamados a contemplar a pedra removida do sepulcro anunciando a vitória da vida sobre a morte e a certeza de nossa salvação. Como verdadeiros Arautos da luz do Ressuscitado busquemos fazê-la brilhar em nossos lares, famílias e nos corações dos que se encontram abandonados e traídos em sua esperança.
Que a alegria do Ressuscitado invada nossas vidas de modo a experimentá-la!
Uma Santa e feliz Páscoa a todos!