“Eu creio na ressurreição da carne”

Dom Pedro Brito Guimarães
Arcebispo de Palmas ( TO) 

Gosto muito de pensar, pronunciar, escrever, crer, rezar e de viver a expressão: “eu creio”. Como é bom e bonito crer. Nascemos para crer e cremos para viver. A fé na ressurreição é o maior ato de fé do cristianismo. A ressurreição de Jesus e a nossa ressurreição são as fontes da esperança cristã. Deus mesmo, em todo o arco da história da salvação, progressivamente, foi nos ensinando a dizer: “eu creio”. Somos discípulos de Jesus ressuscitado. Ele é, de fato, a ressurreição e a vida (Jo 11,25). Como e porque Ele ressuscitou, também nós ressuscitaremos. E a nossa Mãe, Igreja, neste sentido, ousadamente, vai além. Ela, no Símbolo Apostólico, nos faz rezar: “Creio na ressurreição da carne”. E no Símbolo Niceno-constantinopolitano: “E espero a ressurreição dos mortos”.

Como assim? A carne também ressuscita? Não é só a alma que ressuscita? Como entender esta afirmação de fé? A questão é muito profunda e não é fácil de ser compreendida. Mas, não é impossível. Aliás, para quem crer, nada é impossível. Então, vamos entender? Consultemos então a Paulo: “Como ressuscitam os mortos? Com qual corpo voltam? Semeado corruptível, o corpo ressuscita incorruptível; semeado na humilhação, ressuscita na glória; semeado na fraqueza total, ressuscita no maior dinamismo; semeia-se um corpo só com vida natural, ressuscita um corpo espiritual” (1Cor 15,35.42-44).  

A fé da Igreja na ressurreição da carne tem Jesus como modelo. Pelo batismo, o cristão é inserido e incorporado à morte e à Ressurreição de Cristo. E, com isto, é configurado a esta nova vida. Como Cristo ressuscitou, assim também nós ressuscitaremos no fim do mundo, voltando a unir nossa alma ao nosso corpo, para nunca mais se separar e morrer. Esta transfiguração do corpo para ressuscitar é preparada pela nossa participação nos sacramentos, especialmente na Eucaristia. Assim, o corpo de cada um de nós já é ressonância de eternidade. O que é a morte? É a separação da alma e do corpo. Com a morte, a alma se separa do corpo. E o que é ressurreição da carne? No último dia, Deus restituirá a vida ao corpo, e este se junta novamente à alma. Para que ressuscitará nosso corpo? Nosso corpo ressuscitará para ser julgado juntamente com nossa alma e receber o prêmio ou castigo eterno, segundo tenham sido as obras que fizermos aqui na terra.

Portanto, “a ressurreição dos mortos é a fé dos cristãos: é por crer nela que somos cristãos” (Catecismo da Igreja Católica, 991). “Deus não é o Deus dos mortos, mas dos vivos” (Mc 12,27). Na glória de Deus todos estarão de corpo e alma. Jesus liga a fé na ressurreição à sua própria pessoa. Nós ressuscitaremos como Ele, com Ele e por Ele (Catecismo da Igreja Católica, 995). Jesus depois de ressuscitado, comeu com seus discípulos (Lc 24,42), mandou Tomé colocar os dedos em suas chagas (Jo, 20,27) e, finalmente, disse: “vede minhas mãos e meus pés: sou eu mesmo! Tocai em mim e vede. Um espírito não tem carne, nem ossos, como estais vendo que eu tenho” (Lc 24,39). Por isso, se diz: creio na ressurreição dos mortos ou na ressurreição da carne.

“Tudo está estreitamente interligado (papa Francisco, Laudato Si, 16) e interdependente, de corpo e de alma. Por favor, não jogue fora o seu corpo. Cuide dele com carinho e amor. Ele servirá para a sua ressurreição. Mesmo que você tenha dificuldade de intender intelectualmente, continue rezando: “creio na ressurreição da carne. Amém!”

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