Dom Rodolfo Luís Weber
Arcebispo de Passo Fundo
Diante da finitude dos seres vivos, as notícias de morte serão permanentes. Podemos e devemos diminuir aquelas que se originam da falta de cuidado, de desprezo da própria vida e a dos outros. As estatísticas de crimes contra a vida assustam. Sonhamos em ouvir somente notícias de morte natural, nem estas gostaríamos de ouvir, pois ninguém se conforma com a quantidade de tempo de vida neste mundo.
Levar à sério a morte é sinal da valorização da vida. É importante falar sobre ela. A morte é uma realidade que não se conforma com a superficialidade, pois influencia sobre todo o ser humano. Não pode ser ignorado o fato existencial do medo de morrer e a sua imprevisibilidade. O medo vem acompanhado com a angústia que questiona o modo e o sentido da vida.
O livro bíblico do Eclesiastes, escrito por volta de 250 aC., influenciado pela filosofia popular grega, faz a proclamação geral da “vaidade” na roda da vida. A agitação humana é mera ilusão: fascinante, mas passageira onde “não há nada de novo debaixo do sol” (Ecl 1,9). Porém, um dia aconteceu algo jamais anunciado. “Vós não precisais ter medo! Sei que procurais Jesus, que foi crucificado. Ele não está aqui! Ressuscitou, como havia dito!” (Mateus 28, 5-6).
A ressurreição de Jesus Cristo lançou sobre os nebulosos desejos humanos de imortalidade, uma nova e grande luz. A limitada condição humana, marcada pela morte, pode ser vista sob nova perspectiva. Os seguidores de Cristo podem professar: eu creio na vida eterna! Esta convicção influencia a compreensão da vida e da morte.
O desejo da vida eterna desperta para a vigilância. Não se vive para a morte e sim para a vida. Viver é também conviver com a ideia de que tudo, agora ou mais tarde, acabará. A morte se faz presente em cada instante da vida. O comportamento evangélico da vigilância fundamenta assim uma ética do discernimento: quem espera o Senhor sabe que é chamado a viver responsavelmente cada ato na presença de seu Deus.
A fé na vida eterna faz o cristão viver na esperança. A esperança não é somente a espera de um bem futuro árduo, mas possível ser conseguido; mas é antecipação das coisas futuras prometidas e já doadas pelo Senhor. “Na esperança, o hoje se abre para o horizonte da eternidade e a eternidade vem colocar as suas tendas no hoje; graças à esperança, o tempo quantificado (que nunca nos é suficiente, que é sempre muito pouco) torna-se tempo qualificado, hora da graça, tempo favorável, hoje da salvação, momento degustado na paz”, escreve o Cardeal Martini.
A esperança é a condição filial. “Caríssimos, desde já somos filhos de Deus, mas nem sequer se manifestou o que seremos! Sabemos que, quando Jesus se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque o veremos tal como ele é” (1João 3,2).
O dia de finados proporciona refletir sobre a vida e a morte, a nossa e a dos já falecidos. As preces em favor deles são apelo para a misericórdia de Deus. As flores ressaltam a beleza da vida temporal e eterna. As velas apontam para a luz e a fé na eternidade. Cuidar e valorizar os cemitérios é sinal de respeito pelos que nos antecederam, na fé e na construção da sociedade. Que nossos falecidos descansem em paz.