Dom Eurico dos Santos Veloso
Arcebispo Emérito de Juiz de Fora (MG)
A liturgia do 19º Domingo do Tempo Comum dá-nos conta, uma vez mais, da preocupação de Deus em oferecer aos homens o “pão” da vida plena e definitiva. Por outro lado, convida os homens a prescindirem do orgulho e da auto-suficiência e a acolherem, com reconhecimento e gratidão, os dons de Deus. Neste domingo, no Brasil, rezamos por todos os nossos pais para que sejam homens fortalecidos por Deus para educar e conduzir seus filhos. Rezamos por todos os pais que estão desempregados, enfermos e pelos que estão nos cárceres, privados de suas famílias. Confiamos nas mãos do Senhor os pais, como o meu, que já estão na glória de Deus.
A primeira leitura(1Rs 19,4-8) mostra como Deus Se preocupa em oferecer aos seus filhos o alimento que dá vida. No “pão cozido sobre pedras quentes” e na “bilha de água” com que Deus retempera as forças do profeta Elias, manifesta-se o Deus da bondade e do amor, cheio de solicitude para com os seus filhos, que anima os seus profetas e lhes dá a força para testemunhar, mesmo nos momentos de dificuldade e de desânimo. O profeta desanima-se ao longo de seu caminho com as constantes perseguições. A dor e o desafio, em sua jornada, parecem triunfar sobre ele. Deus, no entanto, prepara-lhe um tempo e ânimos novos. Agora, com a força da Palavra de Deus e do pão, poderá prosseguir. Com Elias, aprendemos que, estando ao lado do Senhor, o caminho difícil torna-se uma estrada de paz, esperança e segurança. A missão confiada por Deus nunca vem sem o seu auxílio e a sua proteção.
O Evangelho(Jo 6,41-51) apresenta Jesus como o “pão” vivo que desceu do céu para dar a vida ao mundo. Para que esse “pão” sacie definitivamente a fome de vida que reside no coração de cada homem ou mulher, é preciso “acreditar’, isto é, aderir a Jesus, acolher as suas propostas, aceitar o seu projeto, segui-l’O no “sim” a Deus e no amor aos irmãos. São João, no seu longo e belo discurso sobre o Pão da vida, Jesus afirma sua identidade e intimidade com o Pai. A sua ação no mundo enfrenta a incredulidade de seus oponentes e, também, o desânimo até daqueles que o seguem. Ele, contudo, segue anunciando sua mensagem de vida e testemunhando com palavras e ações a presença de Deus no meio da humanidade. Recorda o antigo maná e apresenta o novo pão que é a sua “carne dada para a vida do mundo”(Jo 6,51).
A segunda leitura(Ef 4,30-5,2) mostra-nos as consequências da adesão a Jesus, o “pão” da vida… Quando alguém acolhe Jesus como o “pão” que desceu do céu, torna-se um Homem Novo, que renuncia à vida velha do egoísmo e do pecado e que passa a viver no caridade, a exemplo de Cristo. A leitura nos convida a abrir espaço para que o Espírito de Deus aja em nós. Ele nos ajuda a eliminar em nós tudo o que nos impede de viver como fiéis seguidores do Mestre. Sufocamos o Espírito quando damos liberdade aos vícios, que atrapalham a vivência comunitária. Se somos discípulos de Cristo, cabe-nos atender ao chamado para viver como ele viveu: amando e perdoando.
Se conhecer Jesus é ser “discípulo de Deus”, assimilar a vida que ele oferece ao mundo permanece um desafio. A comunhão da qual participamos na Eucaristia é o momento central de nossa missão, pois manifesta nossa identidade e um compromisso fundamental. Somos discípulos do Deus que se revela em Jesus. Nós o vamos conhecendo, dele vamos aprendendo e com ele vamos assumindo o compromisso de saciar a fome do mundo. Fome de pão, de vida mais digna; fome de atenção, de carinho e de amor.
Relembremos uma importante catequese do Papa Francisco sobre a importância do papel dos pais: “A primeira necessidade é essa: que o pai seja presente na família, próximo à mulher para partilhar tudo e que seja próximo aos filhos no seu crescimento (…) Pai presente sempre”. O Pontífice ressaltou, porém, que “presente” não é o mesmo que ser “controlador”, porque os pais muito controladores acabam anulando os filhos, não os deixam crescer. Francisco mencionou ainda a parábola do filho pródigo, também conhecida como a parábola do pai misericordioso. Ele destacou a dignidade e a ternura do pai que está esperando o retorno do filho. “Os pais devem ser pacientes. Tantas vezes não há nada a fazer que não esperar: rezar e esperar”. Segundo Francisco, um bom pai sabe esperar e perdoar do fundo do coração, mas também sabe corrigir com firmeza quando é preciso. E acrescentou que, sem a graça do Pai, os pais perdem a coragem. Os filhos precisam de um pai à espera quando retornam de alguma situação de insucesso. “A Igreja é empenhada em apoiar a presença dos pais nas famílias, porque eles são protetores da fé na bondade, na justiça e na proteção de Deus, como São José”.( Papa explica a importância do pai na família (cancaonova.com), último acesso em 31-07-2021).
Confio a Deus todos os pais que não tiveram medo de ter muitos filhos e educa-los na fé católica. Precisamos de pais e casais que não tenham medo de ter filhos. Peço que do céu os pais falecidos continuem intercedendo por nós, seus filhos, que ainda peregrinamos neste vale de lágrimas. Parabéns a todos os pais e recebam a minha bênção!
