Dom Leomar Antônio Brustolin
Arcebispo de Santa Maria (RS)
O ato de comer estabelece uma relação com a Criação, com a terra, de onde provêm os alimentos. Isso significa que comer é entrar em comunhão com todo o Universo. Nesse caso, não se trata de consumir no sentido de “devorar”, mas de comungar com a realidade cósmica. A Eucaristia remete a essa integração do ser com toda a Criação e com o Criador.
Outra dimensão do ato de comer é a da solidariedade. Nossa subsistência depende da relação que estabelecemos com tudo o que existe, especialmente com os frutos da Criação e com nossos semelhantes. A comunhão criatural reivindica a comunhão social. Nesse sentido, a refeição expressa um ato privilegiado do ser humano que deseja a relação e a comunicação interpessoais. A Eucaristia pode ser concebida como banquete fraterno. Não se come apenas os alimentos, alimenta-se, também, daqueles que compartem o mesmo pão e bebem do mesmo vinho. É uma partilha de vidas, esperanças e dores.
O pão e o vinho consagrados concretizam o banquete de comunhão com as Pessoas Divinas. A função material desse banquete fica superada pelas suas funções simbólica e espiritual que tendem a manifestar a união e a amizade dos seres humanos entre si e com a Trindade.
Geralmente, denomina-se “comunhão” o ato de receber e comer o pão e beber o vinho. Essa é a parte substancial do banquete eucarístico. Tal dimensão supõe comunicação, participação e partilha. A partilha supõe dar algo de si aos outros. Não se partilha só o que sobra, mas aquilo que se tem para viver: a mesa, a casa.
Na Eucaristia, Jesus partilha seu Corpo e seu Sangue, dá a si mesmo como alimento e bebida para que todos tenham vida e vida em abundância. Jesus dá tudo de si para que a humanidade possa ter nele a vida glorificada e eterna. Ele reparte o pão da Palavra e o pão da Eucaristia.
Jesus dá o pão e expressa, assim, sua entrega total para a nossa salvação. A ceia e o sacrifício da Cruz estão integrados. Jesus também faz circular o cálice com o vinho da nova e eterna aliança, mostrando, assim, o derramamento do seu Sangue. Por isso, a Eucaristia anuncia todo o dinamismo da vida, a Paixão, a morte e a Ressurreição de Cristo. Há um dar e um receber o pão e o vinho, a salvação, o amor de Deus. Ao dom oferecido corresponde a acolhida comensal no banquete salvífico.
Na Eucaristia, quem está presente e se dá como comida é o Kyrios (Senhor), que nos oferece a comunhão com sua vida divina. Não é uma coisa que se torna presente a nós, mas é alguém, uma Pessoa Viva, que se faz alimento e se doa para dar vida plena a outras pessoas. É uma pessoa glorificada, e, por isso, seu Corpo pode se doar totalmente para a comunhão plena. Isso significa que não conseguiremos entender a Eucaristia partindo de nós, dos elementos pão e do vinho, ou da comunidade reunida, mas somente através de Cristo mesmo, que se dá a nós como Ressuscitado.
A Eucaristia é corpo verdadeiro. Não é uma figura, uma imagem ou um sinal que faz memória de Cristo. É uma presença real e objetiva, que não depende de nossa subjetividade, que não é fruto de nossa imaginação, ou apenas de nossa fé. A fé permite receber o Cristo que se dá. É uma presença real, quando o pão e o vinho não são apenas alimento e bebida, mas remetem à realidade total do Corpo de Cristo.