Evangelizar: missão de todos, compromisso de amor 

Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ) 

 

Caminhamos a passos largos neste tempo litúrgico do Advento, um período de vigilância e de alegre expectativa. A liturgia nos conduz, progressivamente, ao encontro do Menino Deus que se faz carne e habita entre nós. É um tempo de preparação interior, de aplainar os caminhos e endireitar as veredas, como nos exorta a voz profética de João Batista. Contudo, a preparação para o Natal não é apenas um movimento introspectivo; ela exige de nós uma resposta concreta de “saída” ao encontro do outro. 

É neste contexto de esperança que a Igreja no Brasil nos convida a participar, de forma generosa e consciente, da Campanha para a Evangelização. Realizada anualmente, culminando na coleta do 3º Domingo do Advento – o Domingo Gaudete, ou da Alegria –, esta iniciativa da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) é um chamado à corresponsabilidade. Se a alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus, como nos ensina o Papa Francisco, essa alegria não pode ficar retida; ela precisa transbordar. E para que ela chegue aos confins do nosso imenso país, a evangelização necessita de recursos, estruturas e, acima de tudo, da solidariedade de cada batizado. 

A Solidariedade que Sustenta a Missão 

É verdade que o Espírito Santo é o protagonista da missão, mas Deus, em sua infinita sabedoria, quis precisar das mãos humanas e da generosidade dos fiéis para realizar a sua obra. A Coleta da Evangelização nasceu em 1998 com um objetivo muito claro: despertar nos fiéis a consciência de que todos somos responsáveis pela sustentação das atividades pastorais da Igreja Católica no Brasil. 

O Brasil é um país de dimensões continentais e de profundas desigualdades. Da mesma forma, a realidade de nossas dioceses e prelazias varia imensamente. Enquanto algumas Igrejas particulares, em grandes centros urbanos, possuem estruturas mais consolidadas, existem comunidades na Amazônia, no sertão nordestino e nas periferias das grandes metrópoles que carecem do básico para anunciar a Palavra de Deus. Há locais onde o missionário precisa de barco e combustível para visitar uma comunidade uma vez ao mês; há locais onde não existe sequer um espaço digno para a celebração da Eucaristia ou para a catequese das crianças. 

É aqui que entra o sentido profundo desta coleta: a comunhão de bens. O que arrecadamos neste domingo não é apenas uma doação financeira; é um gesto de amor fraterno que diz: “Eu me importo com a evangelização do meu país”. É a atualização daquele gesto das primeiras comunidades cristãs, onde os que tinham mais auxiliavam os que passavam necessidade, para que não houvesse indigentes entre eles e para que a Palavra corresse veloz. 

Para Onde Vão os Recursos? 

A transparência é fundamental para a credibilidade de nossa missão. Por isso, é importante que todo católico saiba como são distribuídos os recursos oriundos da Coleta da Evangelização. O montante arrecadado é partilhado de forma solidária em três níveis eclesiais, garantindo que a ajuda chegue a quem mais precisa e sustente as estruturas de comunhão. 

Do total arrecadado, 45% permanece na própria Diocese. Isso é vital para apoiar as ações pastorais locais, a formação de nossos leigos, a manutenção de seminários e o auxílio às paróquias mais necessitadas dentro de nosso próprio território arquidiocesano. Outros 20% são destinados ao Regional da CNBB (no nosso caso, o Regional Leste 1, que compreende as duas arquidioceses e as dioceses do Estado do Rio de Janeiro e a Administração Pessoal São João Maria Vianney). Esses recursos financiam a articulação pastoral em nível estadual, permitindo encontros, formações e a unidade entre as dioceses vizinhas. Por fim, 35% são enviados à CNBB Nacional. É com essa parcela que a Igreja no Brasil consegue manter projetos missionários em áreas carentes, apoiar a Igreja na Amazônia, sustentar as Comissões Episcopais que cuidam desde a liturgia até a ação social transformadora, e garantir o funcionamento da estrutura que une os bispos de todo o país. 

Ao colocar sua oferta no envelope ou no cestinho da coleta, o fiel está, simultaneamente, ajudando sua paróquia vizinha, fortalecendo a Igreja em seu estado e enviando missionários para os rincões mais distantes do Brasil. É a catolicidade – a universalidade – da Igreja acontecendo na prática. 

Evangelizar: Um Dever de Amor 

O tema da campanha deste ano nos recorda que Cristo bate à nossa porta: “Hoje é preciso que eu fique em tua casa” (Lc 19,1). Em um mundo marcado por guerras, polarizações e desesperança, a Igreja tem a missão urgente de anunciar o Príncipe da Paz. Mas como anunciarão, se não houver quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados? (Rm 10, 15). O envio dos missionários, a impressão de materiais catequéticos, o uso dos meios de comunicação social, a formação de novos padres e religiosos, tudo isso exige recursos materiais. 

Não podemos ter uma visão angelical que ignora a materialidade da missão. O próprio Jesus e os apóstolos tinham uma bolsa comum para suas necessidades e para os pobres. A Coleta da Evangelização é a nossa “bolsa comum”. Ela garante que a voz da Igreja continue a defender a vida desde a concepção até o fim natural; garante que a Doutrina Social da Igreja chegue aos legisladores e à sociedade civil; garante que os sacramentos continuem a ser ministrados. 

Além disso, esta coleta é um exercício espiritual de desapego. No Advento, meditamos sobre o mistério da Encarnação: Deus, sendo rico, fez-se pobre por nós (2Cor 8, 9). Ele se despojou de sua glória para nos enriquecer com sua divindade. Quando partilhamos nossos bens, imitamos a generosidade de Deus. Combatemos o egoísmo e o consumismo desenfreado que muitas vezes ofuscam o verdadeiro sentido do Natal. O presente que oferecemos à Igreja reverte-se em dons espirituais para todo o povo brasileiro. 

Um Convite à Generosidade 

Sei que os tempos são difíceis e que muitas famílias enfrentam desafios econômicos. No entanto, a experiência pastoral nos ensina que a generosidade não depende do tamanho da conta bancária, mas da grandeza do coração. Muitas vezes, é o óbolo da viúva – aquela pequena oferta dada com sacrifício e amor – que sustenta as grandes obras de Deus. 

Convido cada um de vocês a se preparar para este gesto concreto no próximo domingo. Que a Coleta da Evangelização seja assumida com alegria. Que possamos dizer, através de nossa oferta: “Senhor, eu quero que o Teu Evangelho chegue a todos. Eu quero ser parte ativa desta missão”. 

Que Maria Santíssima, a Estrela da Evangelização, aquela que nos trouxe o maior de todos os dons, Jesus Cristo, interceda por nossa Arquidiocese e por toda a Igreja no Brasil. Que o nosso gesto de partilha prepare nossos corações para acolher o Salvador que vem. Um santo e abençoado Advento a todos. 

 

 

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