Dom Adelar Baruffi
Bispo de Cruz Alta
Na parábola evangélica do Bom Samaritano (cf. Lc 10,25-37), a pergunta feita a Jesus é sobre o modo de alcançar a vida eterna. A narrativa se desenvolve de tal maneira que a resposta se dá pela atitude de fazer-se próximo de quem sofre, deixando-se comover e agir. Conclui Jesus: “Vá e faça o mesmo” (Lc 10,37).
Temos muita necessidade de nos fazermos próximos uns dos outros. Em tempo de crescente individualismo, com frequência, a vida e os sofrimentos das pessoas com quem convivemos podem passar despercebidos. Assim, pode acontecer, também, com a vida e o sofrimento das pessoas a nível social. A dor é invisível. Fica escondida nas casas, nos apartamentos, nas ruas, sem quase ninguém enxergar. Quando há um acontecimento importante numa cidade, os moradores de rua são recolhidos, para que a cidade fique “limpa”! Não se pode esperar que os sofredores venham até nós. Nós temos que ir ao seu encontro.
Outra passagem bíblica, dos Discípulos de Emaús (Lc 24,13-35), nos apresenta Jesus como modelo de quem se aproxima, com respeito, do sofrimento das pessoas. O objetivo da presença de Jesus com os dois discípulos foi, em primeiro lugar, escutar, dar importância ao que estavam sentindo, sem julgar. A atitude empática é a primeira característica para poder ajudar alguém. Conseguimos oferecer um espaço interior para que a pessoa com seu sofrimento seja acolhida. Quem se faz próximo não pode se apresentar como modelo, mas com a abertura de coração para ouvir e, ao mesmo tempo, entrar no mundo da outra pessoa. O equilíbrio de quem já percorreu um trecho do caminho é importante, bem como o fato de ser uma pessoa de fé, que já olhou e trabalhou suas próprias fraquezas e fragilidades.
Hoje, cresceu muito um tipo de sofrimento que se manifesta sobretudo nos adolescentes, a falta de sentido da vida. Quando a Igreja realizou o Sínodo dos Jovens apresentou como uma urgência a necessidade de pessoas que, além dos familiares, se façam próximos e os auxiliem, sem invadir o espaço de sua liberdade de decidir. Ajudar a perceber que a vida é bela e que vale a pena arriscar sempre. O acompanhador é um verdadeiro ministério, que exige tempo, preparação e paciência. Este deve ser testemunha de humanidade e busca de santidade. Que saiba compreender sem ser moralista ou desejar converter às suas ideias aquele que sofre ou, pior ainda, ao seu modo de viver. Com o coração bondoso saiba acolher e manter-se na sua postura. Reconheça seus limites e, como pecador, já tenha experimentado a misericórdia de Deus. Recordamos sempre que o jovem é protagonista de seu caminho. Aproximar-se do sofrimento do outro é “plantar simplesmente a semente da fé nos jovens sem querer ver imediatamente os frutos do trabalho do Espírito Santo” (Francisco, Christus Vivit, n. 246).
De fato, a cura da sociedade doente que vivemos passa não somente por programas oficiais, estes também necessários, mas pela postura humanizadora que cada um é chamado a ter. O que se passa na vida dos outros (doentes, sofredores, famintos, migrantes) tem a ver comigo, diz de mim. A humanidade só será feliz quando superarmos a indiferença excludente e nos tratarmos com acolhida e responsabilidade. Louvemos a Deus tantos belos exemplos de vidas que se doam. São os santos anônimos. Se passar a vida sendo próximo e fazendo o bem a alguém, sou feliz.