Dom Antonio Carlos Rossi Keller

Bispo de Frederico Westphalen (RS)

 

A mensagem central deste 27 Domingo do Tempo Comum C pode ser resumida assim: a verdadeira fé se expressa no serviço fiel e despretensioso, e se fortalece quando reconhecemos, com gratidão, a misericórdia de Deus em nossas vidas. Em um mundo marcado pela busca de reconhecimento, produtividade e recompensa imediata, as leituras deste domingo nos desafiam a viver com simplicidade, confiança, realizando ações concretas, buscando mudar um cristianismo de simples ideias e boas intenções, em uma fé comprometida e viva.

Primeira Leitura – Habacuque 1,2–3; 2,2–4

O profeta Habacuque clama a Deus diante da injustiça e da violência que vê ao seu redor. Sua pergunta é universal: “Até quando, Senhor, clamarei sem que me escutes?” Deus responde com uma palavra de esperança: “O justo viverá por sua fidelidade”. A mensagem é clara: mesmo diante do sofrimento e da aparente ausência de Deus, a fé não se baseia em sentimentos ou em resultados imediatos, mas na fidelidade contínua à aliança com o Senhor. A justiça divina se revela no tempo certo, e o justo é aquele que permanece firme, mesmo na escuridão.

Segunda Leitura – 2 Timóteo 1,6–8.13–14

Nesta passagem, Paulo exorta Timóteo a reacender o dom de Deus que está nele — o dom da fé e do ministério. Ele o encoraja a não ter vergonha do testemunho de Cristo, mesmo diante das perseguições. A fé não é um sentimento passivo, mas um fogo que deve ser mantido aceso através da coragem, da memória das verdades recebidas e da guarda do “depósito” da fé. Paulo nos lembra que a fé é um dom que deve ser cultivado, protegido e vivido com integridade.

Evangelho – Lucas 17,5–10

Jesus responde ao pedido dos discípulos: “Aumenta a nossa fé!”. Sua resposta é surpreendente: mesmo uma fé do tamanho de uma semente de mostarda pode mover montanhas. Mas, em seguida, Jesus oferece uma parábola sobre o servo que, após cumprir suas tarefas, não espera elogios — apenas cumpre seu dever. A lição é profunda: a fé autêntica não busca reconhecimento nem recompensa; ela se expressa no serviço cotidiano, feito com simplicidade e fidelidade. O discípulo não é “mais que um servo”; é alguém que faz o que lhe é devido, sem pretensões.

Indicações Práticas para Viver a Mensagem do Domingo

Cultivar a fé no cotidiano

A fé não depende de grandes gestos, mas da constância nas pequenas coisas: orar diariamente, mesmo quando não sentimos nada; ser honesto no trabalho; tratar os outros com respeito, mesmo quando ninguém está olhando. É importante, já desde o início de cada dia, que peçamos ao Senhor que reacenda em em nós o dom da fé.

Servir sem esperar recompensa

Procuremos sempre oportunidades de ajudar os outros sem buscar elogios ou reconhecimento. Ofereçamos nosso tempo, nossa escuta, nossa presença — não por obrigação, mas como resposta de amor a Deus. Lembremo-nos: o serviço é fruto da fé, não moeda de troca para ganhar méritos.

Praticar a gratidão

Ao final de cada dia, nunca esqueçamos de fazer um breve exame de consciência agradecendo a Deus pelas bênçãos recebidas — inclusive pelas provações, que também são caminhos de crescimento. A gratidão abre o coração para reconhecer a presença de Deus na vida ordinária.

Manter viva a chama da esperança

Diante das injustiças e dificuldades do mundo, nunca devemos nos deixar levar pelo desânimo. Como Habacuque, é importante dialogar com Deus na oração, buscando permanecer fiéis. A justiça de Deus se realiza no seu tempo, e nossa fidelidade é parte dessa história.

Testemunhar com coragem

Assim como Timóteo foi encorajado a não ter vergonha do Evangelho, nós também somos chamados a viver nossa fé com autenticidade — na família, no trabalho, nas redes sociais. Não se trata de impor ideias, mas de irradiar a luz de Cristo com a nossa própria vida.

Conclusão

O 27º Domingo do Tempo Comum nos convida a uma fé madura, que não busca milagres espetaculares, mas se alimenta da fidelidade cotidiana. É uma fé que serve sem alarde, que espera com paciência e que agradece com humildade. Que possamos, nesta semana, ser servos fiéis — não por obrigação, mas por amor — e, assim, tornar visível o Reino de Deus no mundo de hoje.

Tags:

leia também