Dom Roberto Francisco Ferreria Paz
Bispo de Campos (RJ)
Os romanos chamavam fevereiro mês das febres, e tratavam de retirar-se da cidade para reequilibrar-se. Hoje, ainda em tempos de pandemia, adoecemos por febres virais, mas também pela febre da falta de sentido ou estafa existencial (bornought) a febre da pressa, do consumismo, do ressentimento e ódio.
As férias, para serem tais, devem oportunizar uma sanação da pessoa, um descanso verdadeiro que nos leve a repousar em calma e na beleza que a vida oferece quando se tem um tempo para cuidar-se e reencontrar-se. Torna-se necessário sair primeiro de si mesmo, do encapsulamento defensivo, ir ao encontro das fontes e nascentes da vida. Não se trata de viajar necessariamente ou conhecer lugares exóticos. A viagem essencial é interior, ter tempo para escutar e tratar com ternura a si mesmo.
Desrotinizar a jornada, ser capaz de admirar-se e reencantar-se com um olhar novo da natureza, de reaprender ritmos e sons escutando música que nos harmonize. Caminhar descalço sentindo a Terra debaixo dos pés, ou molhando-os na água contemplando o rumor das ondas. Unir-se na inteireza do ser, mas conectar-se novamente com Deus e o universo, vivenciando a integração e interligação de tudo com todos.
Comer e beber devagar sentindo sabores, cheiros e temperos, desfrutando cada momento da mesa como um ágape fraterno e comunional. Encontrar a serenidade e verdadeira paz, na oração e na prece integral do corpo e da alma, colocando-nos com gratidão e confiança como artífices e guardiães da Concórdia e da Vida, assumindo a responsabilidade universal. Escutar, com atenção e reverência, narrativas, experiências e testemunhos tratando de acolhê-los no coração com interesse cordial e amigo.
Assim, as férias não só serão saudáveis e prazerosas, mas tornar-se-ão um momento de cura interior e do planeta, contribuindo a superar a patética e trágica pandemia que nos tira a alegria de viver e a liberdade de ser. Férias que transpareçam o bem viver e o bem conviver, que aprofundem a cultura do encontro e da mística, da presença e da confiança, da partilha da ternura e da compreensão que estamos na mesma barca e somos da mesma família. Deus seja louvado!