Bispo de Frederico Westphalen (RS)
A Festa da Sagrada Família de Jesus, Maria e José, celebrada no Domingo na Oitava de Natal, convida as famílias cristãs a contemplarem o modelo perfeito de vida familiar em Nazaré. Nesta liturgia, a Igreja destaca as virtudes da família como lugar de santificação mútua, obediência filial e proteção divina, inspirando-nos a imitar a humildade, a caridade e a providência vividas por José, Maria e o Menino Jesus. Como ensina o Diretório sobre a Piedade Popular e a Liturgia, esta solenidade é propícia para rituais familiares, como a bênção das crianças e a renovação do compromisso matrimonial, recordando que a Sagrada Família é patrono de todas as famílias cristãs.
Primeira Leitura: Eclesiástico 3,3-7.14-17a – A Honra aos Pais como Tesouro Espiritual.
O livro do Eclesiástico exalta a honra devida aos pais como caminho de reconciliação com Deus: “Quem honra o pai expia os pecados, e quem respeita a mãe é como quem acumula um tesouro”. Esta passagem sublinha que o filial respeito aos pais não é mero dever social, mas ato de humildade que atrai bênçãos divinas, longevidade e perdão, contrapondo-se à ingratidão que equivale a blasfêmia. Na Sagrada Família, José e Maria exemplificam essa dinâmica recíproca, onde a obediência mútua fortalece os laços espirituais.
Salmo Responsorial: Salmo 128(127),1-2.3.4-5 – Bênçãos para a Família que teme o Senhor.
O salmista proclama a felicidade da família piedosa: “Bem-aventurado todo aquele que teme o Senhor e anda em seus caminhos! Do trabalho de tuas mãos comerás, feliz serás e bem-aventurado”. Aqui, o temor de Deus é chave para a prosperidade: esposa fecunda como videira, filhos como rebentos de oliveira, e bênçãos de Sião. Essa imagem poética evoca a Sagrada Família como fruto da obediência à vontade divina, prometendo paz e alegria às famílias que cultivam a fé no cotidiano.
Segunda Leitura: Colossenses 3,12-21 (ou 3,12-17) – Vestir-se da virtude da Caridade.
São Paulo exorta os fiéis como “eleitos de Deus, santos e amados” a revestirem-se de “compaixão, bondade, humildade, mansidão e paciência”. O texto bíblico, que se estende à vida conjugal e familiar (perdão mútuo, amor das esposas, autoridade paterna sem amargura), reflete o ambiente de Nazaré, onde a Sagrada Família viveu essas virtudes em meio à pobreza e às provações. A paz de Cristo deve reinar nos corações, como num corpo unido.
Evangelho: Mateus 2,13-15.19-23 — A Providência na fuga para o Egito.
O Evangelho narra a obediência imediata de José aos anjos: “Levanta-te, toma o menino e sua mãe e foge para o Egito”. Frente à ameaça de Herodes, a família foge, retorna e se estabelece em Nazaré, cumprindo as profecias. São Tomás de Aquino comenta que essa fuga manifesta a humanidade de Cristo, ensina a fugir da perseguição e simboliza a misericórdia divina sobre nações pagãs. José, como pai adotivo, protege com docilidade a vontade de Deus, modelo para pais contemporâneos.
Aplicação Prática: A Sagrada Família no Dia a Dia.
A mensagem da Festa irrompe nas realidades familiares atuais, onde divórcios, ausências parentais e pressões econômicas desafiam a unidade. Como recorda São João Paulo II, a Sagrada Família era pobre, exilada e obediente, aproximando-se de todas as famílias em suas dificuldades.
Algumas sugestões para a vivência no dia a dia:
Cultivara paciência nas realidades diárias da vida familiar;
Honraros idosos da família, visitando-os com frequência e procurando manter contato com eles;
Rezaro Salmo 128 em família aos domingos;
Priorizar, como São José,a proteção dos filhos ante os perigos modernos (redes sociais, ideologias).
Renovaro compromisso familiar com toda a família, confiando na Sagrada Família para obter graça na educação, no perdão e na alegria doméstica. Assim, cada lar torna-se igreja doméstica, ecoando a oração coleta: “concedei-nos imitar a Sagrada Família nas virtudes da vida familiar e nos laços da caridade”.
Ter em casa, em lugar de honra, uma imagem da Sagrada Família e reunir a família em alguns momentos de oração diante desta imagem.
Em síntese, esta liturgia nos chama a transformar o lar em santuário de virtudes, sob o olhar providente de Deus, para colher as bênçãos eternas prometidas.
