Festa do Divino Espírito Santo

Dom Benedito Araújo
Bispo da Diocese de Guajará-Mirim-RO

“O tempo atual exige de todos nós a renovação de forças missionárias para bem cumprir a tarefa de anunciar a Palavra de Deus e, assim, promover a paz, superar a violência, construir pontes em lugar de muros, oferecer a misericórdia de Cristo Jesus como remédio para a vingança e reacender a luz da esperança para vencer o desânimo e as indiferenças. Essa é nossa vocação, pois somos discípulos missionários a anunciar o Reino de Deus até a plenitude.” (Doc. CNBB – 109).

A plenitude da vida que o Espírito recebe do Pai e do Filho transforma-se em dom para a humanidade, uma fonte de onde brota a vida, o suspiro de toda criação. Na Bíblia é a ação do espírito que tudo move e cuida, na vida de Jesus tudo transcorre na presença do Espírito Santo, dai a razão, dele mesmo proclamar: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar a remissão aos presos e aos cegos a recuperação da vista, pra restituir a liberdade aos oprimidos e para proclamar um ano de graça do Senhor”. (Lc. 4,18-19).

Portanto, cada batizado que faz sua confissão de fé no Espírito Santo, Consolador e Santificador, tem como compromisso viver segundo o espírito.

Por isso, enquanto batizados, no momento que acolhemos a Palavra de Deus e deixamos nos educar e desafiar pelo Espírito que fala através das Escrituras, sendo nosso alimento, trilhamos os caminhos de Jesus na força do Espírito Santo e na unidade do único Espírito.

O Espírito Santo que ora em nós, com a sua “docilidade conserva-se em nós pela oração, que também é obra sua. Ele provoca e sustenta a oração dos filhos e filhas. O Espírito Santo infunde em nós esta atitude filial: “O Espirito atesta ao nosso espírito que somos filhos de Deus”. (Rm 8,16) e “como sois filhos, Deus infundiu em vossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: Abbá, Pai” (Gl 4,6).

Com efeito, “o sopro da vida divina, o Espírito Santo, em sua maneira mais simples e comum, manifesta-se e faz-se sentir na oração… Em qualquer lugar do mundo onde se ora, ali está o Espírito Santo, sopro vital da oração…”; e “de modo igual está estendida a presença e a ação do Espírito Santo, que alenta a oração no coração da criatura” (DeV 6,5).

Ao longo dos séculos a devoção ao Divino Espírito Santo, em diversos países adquiriu sempre adornos particulares nos ritos, festas, linguagens, músicas, culinária, hierarquia, responsabilidades e outros.

Segundo a história, no Vale do Guaporé tudo começou em “25/07/1893, quando o Sr. Manuel Fernandes Coelho trouxe de Vila Bela da Santíssima Trindade, antiga capital de Mato Grosso, a coroa de prata, maior símbolo da festa para que fosse venerada pelos féis no Vale do Guaporé, que compreende uma região fronteiriça formada por comunidades brasileiras e bolivianas”.

O desdobramento da devoção levou a criação de outras festas de caráter comunitário e também familiar.

A grande festa da Diocese de Guajará Mirim é do “Senhor Divino Espirito Santo” aos cuidados da Irmandade do Divino Espirito Santo. Esta festa se estende desde o Domingo de Páscoa até Pentecostes ao longo do Vale do Guaporé fazendo mil quilômetros de romaria fluvial e também na região terrestre.

A Coroa, a Bandeira e o Cetro – principais símbolos da festa, com reverencia e muita devoção, são solenemente levados na peregrinação sob os cuidados dos devidos festeiros, adentrando os lares, visitando e reavivando a piedade do povo em particular dos povos tradicionais: os quilombolas, ribeirinhos, indígenas, brasileiros e bolivianos. Neste universo pluricultural, são muitas as vidas marcadas pelo clamor, louvor e ação de graças ao Divino Espirito Santo!

Neste ano de 2020, ano atípico, marcado pela pandemia do Covid-19, foi impossível realizar as romarias e festas (fluvial e terrestre). O anúncio da ronqueira deu espaço para o silêncio e a comunhão com a dor da humanidade e sofrimento de tantos irmãos e irmãs próximos de todos nós que “choram seus entes queridos falecidos e, por vezes sepultados de um modo que fere a alma”.

Cumprindo as orientações das autoridades sanitárias, fechamos nossas Igrejas, para isso é louvável o esforço de tantos fiéis que se empenham no uso dos recursos das redes sociais, para que a fé em Deus e a piedade popular sejam vivenciadas com espirito de comunhão e missão.

Mesmo sem a tradicional magnitude da Festa do “Senhor Divino”, o fogo abrasador que nasce do Divino Espirito Santo, continua abrasando nossas vidas para que possamos continuar nos comprometendo com a solicitude pastoral, a generosidade e solidariedade.

Nestes dias da Ascenção ao Pentecostes, celebramos também a semana de Oração pela Unidade dos Cristãos (SOUC), que neste ano traz como tema: “Gentileza gera gentileza” (At 28,2), relato em que Paulo é gentilmente acolhido após um naufrágio. Esta semana tem como objetivo estimular e educar para o respeito, o diálogo, a comunhão e a oração pela unidade cada vez mais plena, que é o desejo do Próprio Cristo Jesus.

Com a força do canto “Divino Companheiro…”, sob a proteção de Nossa Senhora do Seringueiro, nossa padroeira, rogo as suas luzes e proteção para toda nossa Diocese de Guajará-Mirim.

Deus vos abençoe!

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