Ficai preparados e vigilantes! 

Dom Anuar Battisti
Arcebispo Emérito de Maringá (PR) 

Iniciamos hoje a caminhada do advento. Ao longo dos próximos dias, passo a passo, iremos preparar o caminho para que Jesus possa vir ao nosso encontro e nós possamos reconhecê-l’O e acolhê-l’O quando Ele chegar. A Palavra de Deus que escutaremos nestes dias vai ajudar-nos a balizar esse caminho. A liturgia deste primeiro domingo do advento diz-nos: “vigiai”, “estai atentos”, “não vos deixeis adormecer”. Seria dramático se, por comodismo, por desleixo, por indiferença, por distração, perdêssemos a oportunidade de acolher Aquele que vem libertar o mundo e imprimir um dinamismo novo à história dos homens.  

Junto com o Advento iniciamos um novo ciclo na caminhada de fé do Ano Litúrgico. Neste tempo favorável de preparação para o Natal, nossa fé e nossa esperança se unem às de todo o povo de Israel e de todos os povos de hoje, que vivem seus anseios e desejos. O Senhor Jesus, que veio uma primeira vez e virá uma segunda vez, já está no meio de nós e alimenta a nossa vida com sua presença viva. 

Maranathá – vem, Senhor! – é um refrão meditativo que perpassa todo o Advento. Este tempo favorável que iniciamos com esta liturgia é um convite à vigilância e a expectativa pela vinda de Jesus que se transformarão em consolo e esperança para aqueles que perseverarm na fé: “agora a salvação está mais perto de nós do que quando abraçamos a fé!” (Rm 13,11). 

Neste tempo, enquanto esperamos a celebração do Natal – celebração da Encarnação da primeira vinda de Cristo –, contemplemos a promessa da segunda vinda do Senhor que “virá para julgar os vivos e os mortos e o seu Reino não terá fim”. 

Na primeira leitura – Is 2,1-5 –, o profeta Isaías partilha connosco o seu sonho da paz universal e da comunhão fraterna de todos os povos e nações. Trata-se de uma utopia ingénua e impossível? Trata-se de uma promessa de Deus; e as promessas de Deus não costumam cair em saco roto. Jesus, Aquele cujo nascimento celebraremos no final do advento, foi enviado por Deus ao nosso encontro para concretizar essa promessa. Num cenário de crise político-religiosa, o profeta Isaías anuncia a reunião do povo eleito. O trecho, de cunho messiânico, apresenta e anuncia a esperança da paz para os povos, trazida pelo Messias: “Ele há de julgar as nações e arguir numerosos povos; estes transformarão suas espadas em arados e suas lanças em foices: não pegarão em aramas contra os outros e não mais travarão combate” (Is 2,4).  

Na segunda leitura – Rm 13,11-14a –, São Paulo avisa os cristãos de Roma – e os cristãos de todas as épocas e lugares – que o tempo está a passar e que se aproxima o dia da nossa libertação definitiva. Portanto, é altura de abandonarmos as “obras das trevas” e de nos revestirmos das “armas da luz”. O Senhor Jesus vai chegar; temos de estar preparados para o encontro com Ele. 

O Evangelho – Mt 24,37-44 – traz-nos parte de um discurso de Jesus pronunciado diante dos discípulos, no Monte das Oliveiras, poucos dias antes da Sua paixão e morte. A indicação que Jesus deixa é clara: “Vigiai, estai sempre preparados, não vos deixeis distrair por futilidades, vivei atentos aos desafios que Deus vos lança, não esqueçais a Boa nova que vos propus, olhai com amor e misericórdia os irmãos que caminham ao vosso lado, empenhai-vos a cada instante na construção de um mundo mais justo, mais humano e mais feliz”. Para os discípulos de Jesus, o desleixo, a preguiça, a indiferença, o conformismo, não são opção. Jesus diz aos seus discípulos como será o fim – a vinda do Filho do Homem. Devemos estar, portanto, preparados e vigilantes para a vinda gloriosa do Senhor, conforme a sua exortação: “também vós ficai preparados! Porque na hora em que menos pensais, o Filho do Homem virá!”. 

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