Dom Anuar Battisti
Arcebispo Emérito de Maringá (PR)
Neste último Domingo do Advento, a liturgia coloca-nos, uma vez mais, frente a frente com o projeto de salvação que Deus tem para oferecer a todos os seus filhos e filhas. Esse projeto, anunciado já no Antigo Testamento, torna-se uma realidade concreta, tangível e plena com a Encarnação de Jesus.
A primeira leitura – 2Sm 7,1-5.8b-12.14a.16 – apresenta a “promessa” de Deus a Davi. Deus anuncia, pela boca do profeta Natã, que nunca abandonará o seu Povo nem desistirá de o conduzir pelos caminhos da história. A “promessa” de Deus irá concretizar-se num “filho” de Davi, através do qual Deus oferecerá ao seu Povo a estabilidade, a segurança, a paz, a abundância, a fecundidade, a felicidade sem fim. Davi desejou construir uma casa – Templo – para o Senhor Deus, por meio da profecia de Natã, promete que Ele, sim – construirá uma casa – dinastia – uma descendência real de linhagem davídica. Um filho de Davi, não Salomão – quem, de fato, construiu o Templo – físico – em Israel –, herdará um reino estável e seu “trono será firme para sempre”. Essa promessa, depois de quase um milênio, se realiza em Jesus, no Evangelho de hoje.
A segunda leitura – Rm 16,25-27 – chama ao projeto de salvação, preparado por Deus desde sempre, “o mistério”; e garante que, em Jesus, esse projeto se manifestou a todos os povos, a fim de que a humanidade inteira integre a família de Deus. São Paulo conclui a carta aos Romanos com uma oração de louvor e glória, porque o mistério de Deus, ou seja, seu plano salvífico, oculto nos séculos passados, foi revelado à humanidade por meio de Jesus encarnado.
O Evangelho – Lc 1,26-38 – refere-se ao momento em que Jesus encarna na história dos homens, a fim de lhes trazer a salvação e a vida definitivas… E mostra como a concretização do projeto de Deus só é possível quando os homens e as mulheres que Ele chama estão disponíveis para dizer “sim”, acolher Jesus e apresentá-l’O ao mundo. O texto mesclado de gêneros literários – anúncio do nascimento de uma criança extraordinária; gênero vocacional; gênero de revelação – faz referências e se inspira em passagens do Antigo Testamento (Jz 6,11-24; 13,2-7; Gn 17,15-24; 18,1-16; 1Sm 1,1-20; Dn 7,13-14; Is 7,14; 9,6). Entretanto, a referência à filiação real davídica estável, perene e eterna de 2Sm 7,12.14.16 se acomoda e se cumpre em Jesus, que nascerá de Maria, pela força do Espírito Santo. O anjo, para explicar a Maria o que estava se cumprindo, revela-lhe a identidade humano-divina de Jesus. Assumido legalmente por José – da descendência de Davi – o menino que de Maria nascerá é, humanamente, o Messias, filho de Davi, cujo reinado não terá fim. Divinamente, concebido pelo Espírito Santo, Jesus é o Messias, o Santo, Filho do Altíssimo, o Filho de Deus. Maria aceita a revelação, recebe e responde à vocação à maternidade divina com um “sim”, traduzido em “eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra!”
Maria Santíssima é a jovem que, dizendo “sim” à Palavra de Deus, reconhece o poder vivo e transformador dessa Palavra, faz-se serva e torna-se, então, a Mãe daqueles que é “Santo, Filho de Deus”. Aceitando ser a Mãe de Jesus, Maria torna-se, assim, a mãe de todos.
Maria é a Mãe de todos os que ouvem a Palavra de Deus e perseveram, na certeza de que o Senhor continua conosco, cumulando-nos de graças mesmo em meio às dificuldades.
Lembro a todos que, quem participa da missa no dia 23 pela tarde e pela manhã do dia 24, para cumprir o preceito do 4º. Domingo do Advento, fica obrigado a participar ou da Missa da Vigília – na tarde deste domingo – ou da Missa da Noite, da Aurora ou do Dia do Natal.
Caminhemos com Maria – a Mãe de Jesus – que acolhendo a Palavra de Deus e abrindo-se ao Espírito Santo, testemunham ao mundo que Deus, tudo podendo, quer mesmo é continuar contando com nossa pequenez para vir ao mundo. Santo e abençoada Vigília e Noite de Natal!