“Formaste-te me no seio de minha mãe” (Sl 138,13)

Dom Edney Gouvêa Mattoso
Bispo de Nova Friburgo (RJ)

 

Caros amigos, a maternidade é dom precioso de Deus e participação em sua obra criadora (cf. São João Paulo II, 12/03/1980). Toda nova vida que se forma no seio materno, é um projeto de Deus Pai e do seu amor eterno. Antes de ser gerada no ventre, está, desde sempre, no coração de Deus e por Ele é amada (cf. Amoris laetitia, 168).

O dom da maternidade não se resume somente na capacidade procriadora da mulher. Ele é, antes de tudo, a capacidade de amar gratuitamente e de testemunhar a beleza da vida com a entrega total e diária. “Ser mãe não significa somente colocar um filho no mundo, mas é também uma escolha de vida (…) é a escolha de dar a vida” (Papa Francisco, 07/01/2015).

Vale a pena lembrar que valorizar a maternidade, não é o mesmo que negar às mulheres o desenvolvimento profissional e o exercício de todas as suas dimensões. Marcar a importância da mulher no lar, na educação dos filhos e na transmissão da fé, não significa usurpar-lhe o direito e o dever de sua participação ativa na sociedade (cf. Documento de Aparecida, 456).

“Uma sociedade sem mães seria uma sociedade desumana, porque as mães sabem testemunhar sempre, mesmo nos piores momentos, a ternura, a dedicação, a força moral. As mães transmitem, muitas vezes, também o sentido mais profundo da prática religiosa: nas primeiras orações, nos primeiros gestos de devoção que uma criança aprende, é inscrito no valor da fé na vida de um ser humano” (Papa Francisco, 07/01/2015).

Apesar de todo o seu valor para a construção de um mundo novo, a figura da mãe, denuncia o Santo Padre, é pouco escutada e pouco ajudada no dia-a-dia, pouco considerada no seu papel central na sociedade. Para isto, basta refletirmos o que se tornou o Dia das Mães: uma ótima oportunidade de mercado, na qual se valoriza o consumo em detrimento do carinho e atenção. A comemoração hoje segue a lógica do consumo, que procura transformar tudo em objeto de troca, tudo se torna negociável.

A dinâmica própria da maternidade não condiz com essa lógica. A doação da vida de uma mãe por um filho não pode ser mensurada pelas cifras, embrulhos e fitas dos presentes que recebem. A única medida capaz de abarcar a grandeza maternal é a infinitude da gratuidade do amor.

Maria é o exemplo pleno de Mãe. O mistério de sua maternidade divina contém a medida superabundante daquele dom de graça que cada maternidade humana traz consigo (cf. Bento XVI, 01/01/2012). Desde a decisão desafiadora de abraçar a missão de ser Mãe do Filho de Deus, encerrada na convicção de seu Sim, a Virgem de Nazaré gerou, ensinou, cuidou e amou até o fim. Maria, aos pés da cruz, com o coração traspassado pela dor de Seu Filho, transbordou-se em amor. E por Ele foi amada até o extremo de sua entrega na cruz, quando a deixou aos cuidados de João (cf. Jo 19,27).

Por isso, cabe a nós filhos e filhas, agradecer a todas as mulheres que exercendo o dom da maternidade fazem deste mundo um lugar melhor, alimentando-nos na fé, esperança e caridade. “Obrigado a ti, mulher-mãe, que te fazes ventre do ser humano na alegria e no sofrimento de uma experiência única, que te torna o sorriso de Deus para o novo ser que dás a luz, que te faz guia dos seus primeiros passos, amparo do seu crescimento, ponto de referência por todo o caminho da vida” (São João Paulo II, 29/06/1995).

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