Dom João Justino de Medeiros Silva
Arcebispo Metropolitano de Montes Claros
Em fevereiro de 2013, o mundo se assustou com o inesperado anúncio da renúncia do Papa Bento XVI. A Igreja se preparou, não sem apreensão, para acolher o novo Papa. Nova surpresa houve quando foi anunciada a eleição do primeiro papa latino-americano e, também, o primeiro jesuíta, Jorge Mario Bergoglio, Cardeal Arcebispo de Buenos Aires, que escolheu para si o nome de Francisco. É emocionante o relato do novo Papa acerca da escolha de seu nome. Aqui o transcrevo:
“Alguns não sabiam por que o Bispo de Roma se quis chamar Francisco. Alguns pensaram em Francisco Xavier, em Francisco de Sales, e também em Francisco de Assis. Deixai que vos conte como se passaram as coisas. Na eleição, tinha ao meu lado o Cardeal Cláudio Hummes, o arcebispo emérito de São Paulo e também prefeito emérito da Congregação para o Clero: um grande amigo, um grande amigo! Quando o caso começava a tornar-se um pouco «perigoso», ele animava-me. E quando os votos atingiram dois terços, surgiu o habitual aplauso, porque foi eleito o Papa. Ele abraçou-me, beijou-me e disse-me: «Não te esqueças dos pobres!» E aquela palavra ficou gravada em minha cabeça: os pobres, os pobres. Logo depois, associando com os pobres, pensei em Francisco de Assis. Em seguida pensei nas guerras, enquanto continuava o escrutínio até contar todos os votos. E Francisco é o homem da paz. E assim surgiu o nome no meu coração: Francisco de Assis. Para mim, é o homem da pobreza, o homem da paz, o homem que ama e preserva a criação; neste tempo, também a nossa relação com a criação não é muito boa, pois não? [Francisco] é o homem que nos dá este espírito de paz, o homem pobre… Ah, como eu queria uma Igreja pobre e para os pobres!” (Encontro com os representantes dos meios de Comunicação Social, 16.03.2013).
Esse discurso do Papa Francisco ilustra sua compreensão da identidade e da missão da Igreja e, portanto, de todos os católicos. O Papa tem ensinado todos os dias, por gestos e palavras, o caminho de fidelidade a Jesus Cristo, “aquele que se fez pobre para nos enriquecer com sua pobreza” (cf. 2Cor 8,9). E para incrementar o ambiente eclesial de compromisso com os pobres, o Papa instituiu, ao concluir o Ano da Misericórdia, o Dia Mundial dos Pobres, para ser celebrado a cada ano, no 33º domingo do tempo comum.
Diferentes e múltiplas iniciativas mobilizaram as comunidades pelo mundo afora no último dia 18 de novembro. A Arquidiocese de Montes Claros, mais uma vez, somou forças para fazer desse dia uma fecunda oportunidade de mobilização, conscientização e compromisso com os mais pobres. Todos sabemos que não basta dedicar um dia aos pobres. É preciso fazer muito mais. A articulação, entre si, de todos os setores das comunidades e com o poder público é fundamental para a defesa dos direitos dos pobres e para a superação da desigualdade social, infeliz marca da sociedade brasileira. Urge identificar quem são eles e onde estão. Reconhecer o rosto de cada um deles, o nome e a história abrirá perspectivas de promoção humana e social desses irmãos – sacramentos de Jesus Cristo – num mundo consumista e excludente, opulento e desigual. Diante disso, a Igreja e o mundo se deixem interpelar, mais uma vez, por outro Francisco dos pobres.