Desrespeito aos direitos humanos, violência e impunidade foram os temas que predominaram no multidão atenciosa na Tenda Ir, Dorothyseminário “A Igreja e seus
mártires em defesa dos direitos humanos na Amazônia”, abrindo, hoje, a Tenda Ir. Dorothy, no Fórum Social Mundial. Organizada pelas Pastorais Sociais da CNBB, em conjunto com a Cáritas e Comissão Justiça e Paz, a tenda reuniu cerca de 400 pessoas que ouviram entusiasmadas os relatos sobre a violação dos direitos humanos e as ameaças que sofrem as lideranças que denunciam o crime no Pará.
Na abertura do evento, o presidente do Regional Norte 2 da CNBB, dom Jesus Maria Cizaure Berdones, da prelazia de Cametá, deu boas-vindas aos participantes e apresentou outros bispos presentes, entre eles, o ex-presidente da CNBB e atual presidente da Comissão Episcopal para a Amazônia, dom Jaime Chemelo, bispo de Pelotas (RS).
Violência e impunidade
Segundo o advogado e membro da Sociedade Paraense da Defesa dos Direitos Humanos, Marco Apolo, a terra está no centro dos conflitos na região, sendo cobiçada por dois motivos. “De um lado, os fazendeiros querem as terras para formar pastos e criar bois, por isso derrubam as florestas; de outro, os madeireiros, que querem a madeira para exportar”, disse. Além da terra, o advogado credita os conflitos no Pará também ao minério e à construção, pelo Governo, de hidrelétricas.
“A impunidade é o que mais alimenta a violência aqui no Pará”, disse Apolo ao lembrar que os mandantes do assassinato da Ir. Dorothy continuam soltos. A religiosa trabalha na organização dos trabalhadores sem terra e foi assassinada em fevereiro de 2005.
As lideranças que defendem os direitos humanos, na opinião do advogado, passam por um processo de difamação, criminalização e vitimização desenvolvido pelos que se sentem incomodados com a atuação das lideranças que defendem os direitos dos trabalhadores. “Os defensores dos direitos humanos são demonizados pelos que são contrariados em seus interesses”, destacou.
Atuação da Igreja
“A luta pela defesa dos direitos humanos é parte integrante da mensagem evangélica”. Com estapadre Humberto afirmação, padre Humberto Guidotti falou sobre o compromisso da Igreja com os direitos humanos. Depois de mostrar que nem sempre foi assim ao longo da história, padre Guidotti recordou alguns documentos em que a Igreja afirma seu compromisso com esta causa. Ele disse, no entanto, que falta passar esta afirmação teológica presente na Doutrina Social da Igreja para a cabeça das lideranças.
Testemunhos
Outro momento forte da Tenda Ir. Dorothy foram os testemunhos dados por alguns dos ameaçados de morte no Pará. Os bispos dom Luis Azcona e dom Erwin Krautler, além da líder sindical Maria Joelma Dias da Costa dentre outros.
“Estou pensando na morte nem com angústia, nem com ansiedade, mas com paz”, disse dom Azcona ao explicar que sofre ameaças por ter denunciado a exploração sexual de crianças e adolescentes na Ilha de Marajó, onde é bispo.
Já a líder Maria Joelma, emocionada, falou como assumiu a luta de seu marido, o sindicalista José Dutra da Costa, o Dezinho, morto em 2000. “Minha filha de 11 anos foi chamar o pai para morre”, recordou ao contar que o pistoleiro apresentou-se a ela como um trabalhador que precisa da ajuda do Dezinho para resolver o problema de aposentadoria de sua avó. Quando Dezinho chegou, foi assassinado em frente a esposa e as filhas. “Ele chegou, entrou na minha casa, bebeu água antes de matar meu marido”, lembrou. “Hoje, também sou ameaçada por continuar a mesma luta do Dezinho e tenho que andar com dois policiais para me proteger”.
Dom Ewin denunciou o “consórcio de morte” que existe no Pará. Explicou que também ele tem proteção policial por estar ameaçado de morte e recordou o assassinato do Dezinho e do Dema. “Que o sangue deles não tenha sido derramado em vão”, disse.