Dom Roberto Francisco Ferreria Paz
Bispo de Campos (RJ)
No dia 10 de dezembro celebra-se, em razão da Promulgação da Declaração da Carta de São Francisco, que é a Carta Magna dos Direitos Humanos, o dia Mundial de fazer ecoar o direito universal de ser gente, de ser humanos. Em pleno mundial de futebol, em Catar, percebemos, em vários jogadores e seleções, o protesto contra o racismo, a discriminação, a exploração do trabalho, que afetou milhares de operários injustiçados no país que é sede da Copa.
Na verdade, no futebol sempre foi escutado o grito de jogadores e times contra ditaduras, alienação e culto à personalidade de tiranos totalitários, e atentados contra os direitos humanos. É, tristemente célebre, um jogo da Itália fascista, em Florença, entre a Itália e a Espanha, no qual, alimentados pelo slogan fascista de vencer ou morrer, os jogadores da Itália bateram, de modo selvagem, deixando sete craques feridos.
Já a Espanha, em 1938, na Copa da França, através do General Franco, convocou a todos os jogadores, mesmo os que defendiam a República, a formarem a seleção sob pena de prisão e suspensão. Os craques Isidro Lángara e Angel Zubieta, objetores de consciência, não se curvaram e migraram para a Argentina, integrando o time de São Lourenço de Almagro, tornando-se, ainda hoje, admirados pelo Papa Francisco. Mais adiante, na invasão, a União Soviética, e os nazistas, para efeito de lazer, organizaram um jogo com o famoso Dínamo de Kiev e proibiram de ganhar pois haveria retaliações.
Os jogadores do Dínamo preferiram ganhar e morrer pela resistência contra o nazismo. Na copa da Argentina, em 1978, o craque brasileiro Reinaldo, famoso jogador do Atlético Mineiro, celebrou um gol fazendo um gesto com o punho levantado como protesto contra o genocídio. Temos, ainda, o paradigma singular da “democracia corintiana” onde todos, dirigentes, gestores, equipe técnica e jogadores, liderados pelo craque Dr. Sócrates, discutiam, decidiam e planejavam juntos.
Tudo isto mostra que sempre existiram, além do comportamento esportivo, da técnica futebolística apurada, valores solidários e humanos, que não toleravam atropelos e violações contra os direitos humanos e a opressão de seus povos. Mas, também é importante ressaltar, que o futebol, que atrai e galvaniza multidões, torna-se um instrumento precioso para a educação da paz e da amizade fraterna entre os povos; como foi um jogo da seleção brasileira de Parreira enviada, em 2004, ao Haiti, com a missão de dar alegria e esperança através do chamado “jogo da paz”.
Finalmente, o grande Nelson Mandela, para superar os ressentimentos e as feridas ainda abertas do Apartheid, organizou um campeonato mundial de rugby (futebol americano), mas com a condição de fazer uma seleção misturada e integrada de negros e brancos, que cresceram em respeito e aceitação. Por um futebol que seja arte de jogar e conviver, e por cima dos resultados, nos torne mais humanos e compassivos. Deus seja louvado!