Dom Walmor Oliveira de Azevedo

Na galeria dos ilustres da sociedade brasileira, a Arquidiocese de Belo Horizonte contribui, também, com a figura magnânima e admirável de Dom João Resende Costa, seu segundo arcebispo metropolitano, no período de 1957 a 1986. Ao celebrar seu centenário de nascimento, em 19 de outubro deste ano, criamos a oportunidade para reavivar Dom João na memória de todos os mineiros.

Uma figura ilustre que, na “Galeria,” não é apenas uma foto recordando um tempo do passado. Suas feições marcadas pela ternura e pela bondade nos lembram a sua voz serena e firme que, até mesmo quando se referia às coisas mais simples do dia a dia, as expressava com nobreza e elegância.  Seu dizer lúcido que entrelaçava corações, curava feridas causadas pela desunião, tecia identidades sempre apontando na direção do bem e da paz.

A galeria dos ilustres de Minas Gerais é admirável. Uma lista que inclui estadistas, políticos de renome, poetas, escritores, intelectuais, artistas, profissionais renomados de várias áreas. Também homens e mulheres que na simplicidade primam pela honestidade de vida no zelo pelo bom nome e pela fidelidade aos seus compromissos cidadãos e familiares. Dom João Resende Costa é um desses mineiros. Nascido em Borda da Mata, Sul de Minas, sacerdote da Congregação Salesiana, na qual ingressou em 1928, autêntico filho de Dom Bosco, teve uma trajetória acadêmica invejável, incluindo o doutoramento em Teologia , em 1937, na Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma.

A fecundidade dos serviços prestados, particularmente nas tarefas educativas e pastorais e, em especial, como provincial, conselheiro geral e visitador, renderam-lhe, certamente, a eleição para a missão de bispo por quatro anos em Ilhéus, na Bahia. Em 1957 foi nomeado arcebispo coadjutor de Dom Antônio dos Santos Cabral, primeiro Arcebispo de Belo Horizonte. Tornou-se arcebispo metropolitano da capital mineira em 1967, período marcado por uma vida vivida na simplicidade, na alegria e na bondade terna do seu pastoreio até fevereiro de 1986.

Dom João fez muito na Igreja e pela Igreja, consequentemente pela cultura e pela sociedade na sua desmedida procura de liberdade, justiça e paz. Foi capaz de fazer muito fazendo com que muitos fizessem tudo o que podiam, fecundados por seu reconhecimento e encantamento, sustentadores da coragem indispensável para levar tarefas grandes adiante.

A ocupação de um lugar na galeria dos ilustres não se dá tão somente por edificações ou feitos materializados em obras e projetos concretizados. É ouro considerável a capacidade da sensatez e do equilíbrio, da sabedoria que não deixa perder a serenidade e mantém o coração seduzido pelo bem e o gosto por uma vida honesta. Estas são as qualificações mais consideradas para se ocupar um lugar na galeria dos ilustres, exatamente por serem condições indispensáveis da credibilidade necessária a quem governa, decide e forma opinião.

A comemoração do centenário de nascimento de Dom João, com uma rica semana de celebração na Arquidiocese de Belo Horizonte, reaviva no coração dos que o conheceram, a gratidão e a lição perene que ele nos deixou. Ao mesmo tempo, tem força para produzir ecos por toda a extensão de Minas Gerais, firmando a convicção de que entre os ilustres desta galeria mineira, honrando o Brasil, está um “João de Deus”.

Perpetuado na memória de todos pela força de sua nobreza, em gestos e palavras, na sua sabedoria e alegria de viver, fecundando sonhos e, muitas vezes, escondidamente, Dom João fazia avançar grandes projetos e conquistas.

De Dom João Resende Costa, para o bem da sociedade, há uma lista considerável de feitos, destes muitos partilhados com outros. Riquíssimo é o patrimônio que ele deixou como fonte inesgotável de referência e sustento nos valores da serenidade, da sabedoria, da honestidade, do bem querer e da inteligência devota a serviço da verdade, da justiça, da paz e do bem.

Entre celebrações, homenagens, exposição fotográfica e outros eventos, também há a publicação da obra admirável, inteligente e densa de espiritualidade de Dom João. Nascida da pena e do seu coração, Palavras no caminho é uma obra que precisa ser conhecida por todos. A voz do seu coração pode continuar a ser ouvida, ecoando lições que educam para o que a sociedade contemporânea mais procura: homens e mulheres do bem, merecedores de confiança, especialmente no exercício de cargos públicos e com responsabilidades que tenham impactos nos rumos sociais, políticos e culturais.

Dom João continua inspirando e tem muito a ensinar, orgulho santo da Igreja. A lembrança de sua vida garante páginas abertas do Evangelho ensinando vida. Não é simples lembrança. É memória que ensina e convence a respeito de valores. Com razão, por isso, está na galeria dos ilustres.

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