Dom Leomar Antônio Brustolin
Arcebispo de Santa Maria (RS)
A Arquidiocese de Santa Maria, há décadas, conta com religiosos e religiosas que plantaram árvores frondosas nesta região, produzindo frutos generosos na educação, na área da saúde, na assistência social, na vida pastoral, e na vida contemplativa. Aqui chegaram e transformaram a realidade, promovendo o bem comum e a cultura, cuidando da vida ameaçada e trabalhando por justiça e paz, e, também, testemunhando que é possível dedicar-se exclusivamente a Deus. São mulheres e homens de vidas consagradas a Jesus Cristo. Não realizaram as obras por seguirem uma causa, mas sim, por conta do seguimento do Evangelho, produziram frutos que permanecem.
Podemos constatar suas obras: escolas, faculdades, universidades, projetos sociais, asilos, creches, obras de caridade, hospitais, centros de saúde, mosteiros, entre outras. Mas essa grande árvore tem raízes que nem sempre são conhecidas.
A primeira tarefa de um consagrado não é realizar obras, mas um permanecer com Cristo e nada antepor a Ele. Talvez, aqui se encontre o grande tesouro a ser redescoberto por todos nós: no cristianismo, o primado do ser se eleva sobre o do fazer.
Para viver essa consagração, escolheram seguir um fundador, ou fundadora, que os inspirou no seguimento do Evangelho. São pessoas que formam uma nova família vivendo os votos de pobreza, castidade e obediência. Cada um não perde a individualidade, mas não se pertencem mais, afinal, no seu ser e agir, deverá transparecer o carisma que Cristo concedeu à família religiosa que, livremente, escolheram para congregar, por isso algumas se chamam Congregação, outras, Ordem, Sociedade de Vida Apostólica e outras ainda, Associação.
Como nos recorda a Perfectae Caritatis, um decreto do Concílio Vaticano II, desde os princípios da Igreja, houve homens e mulheres, que, pela prática dos conselhos evangélicos, procuraram seguir a Cristo com maior liberdade e imitá-lo mais de perto, consagrando a própria vida a Deus. Por isso vivem a castidade “por amor do reino dos céus” (Mt 19,12). Ser casto é a forma de viver a fidelidade a Jesus. Não se trata de negação do ser, pelo contrário, é consequência de quem se sente tão amado por Cristo que, diariamente, dirá: “Guardo no meu coração tua Palavra para não te ofender.”
Também são chamados a viver a pobreza voluntária, abraçada para seguir a Cristo. Por ela, participam da pobreza de Cristo, que, sendo rico, se fez pobre, para que nós sejamos ricos da sua pobreza. O maior sinal dessa liberdade diante dos bens e dos dons é a partilha de tudo. Não há comunhão sem partilha, pois dela depende a promoção do bem-comum.
Pelo voto de obediência, oferecem a oblação da própria vontade como sacrifício de si mesmo a Deus, e, por ele, se unem mais constantemente à vontade divina. A exemplo de Jesus Cristo, que veio para fazer a vontade do Pai, se dispõem escutar a voz de Deus pelas diversas instâncias da família religiosa da qual passam a participar mais efetivamente com o ato solene da consagração.
A esses homens e mulheres que estão no nosso cotidiano, agradecemos não apenas as boas obras de seu labor, mas, sobretudo, sua consagração a Jesus Cristo que lhes permite fazerem a diferença em nossa sociedade. Gratidão pelo ser que se expressa em tantas obras de caridade entre nós.
