Há cem anos nascia, aos sete de fevereiro, em Fortaleza, um ser humano realmente humano – Helder Pessoa Câmara. Sua presença na história do Brasil foi marcante. Na Igreja foi um marco, já antes do Concílio, durante o mesmo e o que dirá depois?! A CNBB [Conferência Nacional dos Bispos do Brasil] e o Celam [Conselho Episcopal Latino-Americano] puderam ver o exemplo e a atuação desse homem nem sempre compreendido. Sua visão de Igreja servidora dos pobres e luz para a humanidade apresenta de cheio todo o sentido da [Constituição Pastoral] “Gaudium et Spes” (Alegria e Esperança) do Concílio Vaticano II [1962-1965].

Como assessor do Arcebispo do Rio, depois como Bispo Auxiliar na mesma Arquidiocese e, mais ainda, como Arcebispo de Olinda e Recife, foi um profeta da esperança de um mundo novo possível. Para ele, a quase utopia do amor de Cristo se torna possível quando a pessoa se abre ao outro para ajudá-lo a ser gente com todas as letras. Taxado de comunista pelo regime militar [1964-1984], quiseram abafar sua voz de denúncia ao desrespeito à dignidade humana. Já que então era censurado no Brasil, no exterior pôde ser voz de quem não tinha voz aqui.

Na CNBB, foi secretário geral por 12 anos. Aí conseguiu articular projetos necessários para a implementação das orientações do Concílio, colaborando eficazmente com a Pastoral de Conjunto e a promoção da evangelização que levasse à transformação da vida das pessoas e da sociedade. Sua ação na criação também do mesmo enfoque com a iniciação do Celam mostrou sua visão de cidadão latino-americano, iluminado pela autoridade de homem de Deus conferida pela sucessão apostólica. Sua autoridade, pois, se deu na qualidade apostólica. Seu apostolado abraçou o mundo, tal qual o Apóstolo Paulo.

No Evangelho, encontramos a narrativa da ação de Jesus, que ensinava e era admirado por sua maestria. “Todos ficavam admirados com o seu ensinamento, pois ensinava como quem tem autoridade, não como os mestres da lei” (Mc 1, 22). É tão bom vermos pessoas seguidoras do Mestre, ensinando com a mesma cartilha de Jesus. Assim, sua autoridade se impõe, apesar de muitos quererem abafar sua voz profética!

Em D. Helder Câmara, temos um marco profético de quem explicita o Evangelho na prática da promoção da justiça e na opção evangélica preferencial pelos empobrecidos! Até exterior e aparentemente, esse homem de Deus marcou presença na simplicidade e no estar no meio dos simples e humildes. No meio dos grandes, ele mostrou a singeleza e a franqueza no trato afável e franco para apresentar a verdade de Jesus, que é um Deus pobre e humano conosco, enriquecendo-nos com seu amor e sua divindade. Grande é quem se faz pequeno e serviçal!

Em geral, é perseguido quem é temido pelo seu poder. Helder tinha o poder do amor e a arma do serviço à causa dos simples e humildes. Os canhões não o intimidaram. Seu poder profético do amor de Jesus era e é muito superior! Como é bom termos homens assim, que nos convencem do grande mal, ou seja, da injustiça em relação principalmente aos pobres!

Dom José Alberto Moura

Tags:

leia também