Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)
Celebramos hoje o terceiro domingo do tempo comum. O Tempo Comum não celebra um ou outro aspecto particular do mistério de Cristo, como acontece, por exemplo, com o Advento-Natal ou a Quaresma-Páscoa, mas celebra o mistério, na sua globalidade. Realiza isso pela constante referência à Páscoa, que caracteriza os domingos, assim acompanhando e orientando o caminho pascal do povo de Deus, no seguimento de Jesus, rumo ao cumprimento da história.
O Tempo Comum nos pode levar a refletir sobre a espiritualidade desse tempo do ano e sobre o sentido do tempo como dom de Deus. Se chama “tempo comum”, para distinguir do extraordinário, do festivo. No Ano litúrgico, como em nossa vida, existem tempos fortes de festa e tempos ordinários, comuns.
A liturgia deste domingo, nos apresentam as seguintes leituras:
A primeira leitura – Ne 8,2-4a. 5,810 – apresenta a descoberta do Livro da Lei causou uma viva emoção no Povo de Israel, recém retornado do exílio. Ele ouviu a sua leitura chorando de alegria: “Este é um dia consagrado ao Senhor, nosso Deus! Não fiqueis tristes, nem choreis”. Neemias recebeu a autorização para visitar Jerusalém e contribuir para a reconstrução da cidade e do templo como emissário do rei da Pérsia, que havia conquistado o território da Palestina, derrotando a Babilônia. É nesse contexto que Neemias reúne os israelitas ao redor do que tinham de mais sagrado: as Escrituras.
Na segunda leitura – 1Cor 12,12-30 – o povo cristão forma um único corpo, o Corpo de Cristo enquanto todos os membros são vivificados pela ação do Espírito Santo. Sem esta união afetiva não somos membros vivos de Cristo. Somos membros doentes, destinados à morte! A segunda leitura da liturgia deste dia é a continuidade do texto lido no domingo passado. Para falar da importância dos carismas na comunidade cristã, São Paulo recorre a uma comparação alegórica com o corpo humano. Ele recorre à imagem dos diversos membros que formam o corpo, os quais, na sua diversidade de funções, formam uma unidade. A comunidade cristã, como corpo de Cristo, é uma comunidade de irmãos e irmãs que recebem os dons do Espírito Santo para serem partilhados na fraternidade.
No Evangelho – Lc 1,1-4;4,14-21 – o Evangelista Lucas, como bom historiador, recolheu as informações seguras da Comunidade e narrou o início do trabalho de Jesus: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque Ele me consagrou com a unção para anunciar a Boa Nova aos pobres… e para proclamar o Ano da Graça do Senhor!” São Lucas documentou sua pesquisa: Depois de um estudo cuidadoso de tudo o que aconteceu, decidi escrever de modo ordenado para dar fundamento sólido à verdade. Não cremos em lendas, mas na verdade revelada ao Povo de Deus! A nossa fé tem fundamentos sólidos: “Desse modo podereis verificar a solidez dos ensinamentos que recebestes”.
Jesus voltou para a Galileia com a força do Espírito e sua fama se espalhou por toda a redondeza. Começou a ensinar lendo na sinagoga de Nazaré: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me consagrou com sua unção para anunciar a Boa Nova aos pobres…e proclamar o Ano da Graça do Senhor… e ensinando: Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes de ouvir!” O ensinamento não se esgota na Sinagoga; mas ele se atualiza neste momento. É hoje que Jesus cumpre com sua missão! Hoje somos desafiados pela Palavra de Jesus!
Por meio de uma citação do profeta Isaías, Jesus anuncia que seu ministério inclui a boa notícia da salvação para os pobres, a redenção dos cativos, a recuperação da vista aos cegos, a liberdade aos oprimidos e a proclamação do ano da graça, com o perdão de todas as formas de dívidas. Como todos os judeus piedosos de seu tempo, Jesus frequentava a sinagoga, a casa da Palavra para a comunidade dos fiéis.
O que Jesus proclama na sinagoga de Nazaré se tornará realidade. Ele cura os doentes, acolhe e perdoa os pecadores, liberta toda sorte de marginalizados, como as mulheres, os considerados impuros e os estrangeiros. Ao olhar para o Evangelho de hoje vemos a nítida missão de Jesus. Ele veio para curar os doentes, acolher os pecadores e dar um norte aqueles que estavam perdidos. Jesus é o Evangelizador do Pai. Um Evangelizador que se faz próximo. O seu Reino é de humildade. Por isso, quem quiser ser o maior, seja aquele que segue ou ainda se torne como uma criança. Que nesta caminhada da nossa vida, possamos ter os olhos fixos em Jesus. Jesus por nós e fazei que tenhamos um coração semelhante ao Seu.
