Nesta terça-feira, 18 de novembro, o Auditório Uruçu, na Zona Verde da COP30, recebeu a atividade “Caminhos para a Governança Climática: a mobilização do processo Pré-COP”, mediada por Rocheli Koralewski, secretária da Articulação da Igreja Católica na COP30.
O painel reuniu o cardeal Jaime Spengler, presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e do Conselho Episcopal Latino-Americano e Caribenho (Celam); dom Paulo Andreoli, bispo auxiliar de Belém; Rabeca Silva, do Movimento Laudato Si’; e o professor Mario Tito Almeida, da arquidiocese de Belém.

Um itinerário de dois anos
Em sua intervenção, dom Jaime destacou que esta é sua primeira participação em uma Conferência do Clima e que ouviu de organizadores e participantes que a COP30 é, possivelmente, a edição com maior presença e incidência da Igreja Católica. A partir dessa percepção, apresentou o histórico do processo de preparação e mobilização do Celam e de diversas entidades eclesiais.
O cardeal explicou que, nos últimos dois anos, a Igreja na América Latina e no Caribe desenvolveu, em parceria com organizações da sociedade civil e de outros continentes, uma rota preparatória continental com foco na ecologia integral. Essa trajetória, denominada Arruta Laudate Deum, buscou garantir que “a voz dos povos e da natureza seja ouvida verdadeiramente”.
Segundo ele, a Arruta se estruturou em dois grandes eixos: articulação com a sociedade civil; e articulação dentro das Igrejas, acompanhada pela Comissão de Ecologia Integral da América Latina e Caribe e pelo Centro de Programas e Redes do Celam.
Essa plataforma, destacou dom Jaime, representa “uma experiência regional e intercontinental”, baseada na convicção de que a resposta à crise climática nasce prioritariamente dos territórios e comunidades locais, que defendem seus modos de vida e seus direitos de autodeterminação. Ao longo do percurso, diversas entidades eclesiais uniram forças em ações de incidência, mobilização e escuta dos povos.
Articulação inédita no Brasil
Dom Jaime também recordou o processo articulado no Brasil. Por iniciativa da presidência da CNBB, formou-se um grupo de trabalho com bispos, Repam, CRB, Movimento Laudato Si’, Cáritas Brasileira e Cáritas Latinoamericana. Esse grupo realizou um amplo processo de escuta, envolvendo mais de 80 entidades da Igreja, do campo educativo, religioso, institucional e ecumênico.
A integração continental ganhou força no encontro realizado em Brasília, que consolidou um espaço de coordenação entre o Celam, a CNBB e diversas organizações preparatórias da COP30. A formação também foi destacada como eixo essencial, com iniciativas como a jornada realizada em Bogotá, em abril, voltada à capacitação e à construção de estratégias conjuntas.
A voz profética do Sul Global
Como segundo ponto de sua exposição, dom Jaime apresentou o documento “Um Chamado para a Justiça Climática e a Casa Comum: conversão ecológica, transformação e resistência às falsas soluções””, elaborado por Conferências Episcopais da África, Ásia, América Latina e Caribe. Ele classificou o texto como um marco histórico, fruto de discernimento coletivo e de um processo sinodal entre Igrejas do Sul Global.
Inspirado na Laudato Si’ e na Laudate Deum, o documento reforça a interdependência entre ser humano, sociedade e natureza, e afirma que a crise climática é uma questão de justiça e dignidade, não apenas técnica. Diante de um planeta que registrou 1,55°C de aquecimento em 2024, a mensagem é um chamado urgente à ação transformadora – rejeitando soluções falsas e insuficientes.
O cardeal ressaltou que a Igreja do Sul Global assume compromissos concretos: defender os mais vulneráveis em decisões climáticas, promover educação para a ecologia integral, incentivar economias solidárias e resgatar sabedorias ancestrais:
“Trata-se de uma resistência ao consumismo e de uma necessária transformação cultural”, afirmou.
Missão profética e esperança
Por fim, dom Jaime descreveu a Arruta Laudate Deum como uma reafirmação da missão profética da Igreja, que há décadas denuncia injustiças ecológicas e sociais no continente, mesmo quando suas contribuições não alcançam plena visibilidade nos meios de comunicação ou nos espaços de decisão política e econômica.
Ao recordar que “o clamor da terra é também o clamor dos pobres”, ele afirmou que a COP30 representa uma oportunidade histórica de iniciar uma transformação estrutural real, impulsionada pela esperança que brota das comunidades.
“Que Deus nos ajude e que nós colaboremos nesse processo de transformação”, concluiu.
Assista o painel na íntegra:
Por Larissa Carvalho | Fotos: Paulo Augusto Cruz | Ascom CNBB
