Dom Jaime Vieira Rocha
Arcebispo de Natal (RN)
Na próxima quarta-feira, 8 de dezembro, a Igreja celebrará a Solenidade da Imaculada Conceição. É um dia santo de guarda, um dia em que não se pode esquecer de que fazemos parte de um povo sacerdotal, devotado ao culto divino porque vive da relação existencial com o Deus que se revela como amor e misericórdia para com todos os homens e mulheres.
Estamos no Tempo do Advento e a solenidade da Imaculada Conceição se insere no mistério da vinda do Filho eterno que se faz Homem no seio virginal de Maria. Celebramos a Solenidade da Imaculada Conceição de Maria e adoramos o mistério da preparação da vinda do Senhor. Sim, se o Advento é tempo de preparação para o Natal, a Imaculada Conceição significa que Deus preparou uma “Mulher”, para ser a primeira casa, o primeiro lugar da morada do Senhor.
A doutrina do dogma da Imaculada Conceição é expressa na Bula de proclamação do Papa Pio IX, “Ineffabilis Deus” de 8 de dezembro de 1854: “Para a honra da santa e indivisa Trindade, para adorno e ornamento da Virgem Deípara… com a autoridade do nosso Senhor Jesus Cristo, dos bem-aventurados apóstolos Pedro e Paulo e nossa, declaramos, proclamamos e definimos: a doutrina que sustenta que a beatíssima Virgem Maria, no primeiro instante de sua conceição, por singular graça e privilégio do Deus onipotente, em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano, foi preservado imune de toda mancha da culpa original, é revelada por Deus e por isso deve ser crida firme e constantemente por todos os fiéis” (DENZINGER-HÜNERMAN, Compêndio dos símbolos, definições e declarações de fé e moral, 2803).
A Solenidade da Imaculada Conceição dentro do Tempo do Advento lembra-nos que não devemos esquecer jamais o “princípio mariológico fundamental”, isto é, a Maternidade divina. De fato, antes mesmo da proclamação do dogma da Imaculada Conceição, a Igreja reconheceu, com a carta de São Cirilo de Alexandria, escrita entre 26 de janeiro e 24 de fevereiro de 430, que “os Santos Padres não duvidaram chamar a santa Virgem de Deípara (Theotokos em grego), Mãe de Deus, não no sentido de que a natureza do Verbo, isto é, do Filho, ou sua divindade tenham tido origem da santa Virgem, mas no sentido de que, por ter recebido dela o santo corpo dotado de alma racional ao qual também estava unido segundo a hipóstase, isto é, pessoa, o Verbo se diz nascido segundo a carne” (DENZINGER-HÜNERMAN, Compêndio dos símbolos, definições e declarações de fé e moral, 251).
A solenidade da Imaculada Conceição é a festa do puro princípio, daquela realidade que põe a existência e que em Maria é principio de vida, de plenitude de graça. É o princípio pleno, absoluto, não o vazio, o nada, mas uma realidade pessoal, antes, uma Trindade de Pessoas que, sendo princípio é também fim, pois no princípio já se contém o fim, um fim de plenitude no qual cada homem e cada mulher é envolvido. E esse princípio foi revelado em Jesus Cristo, manifestação e envolvimento completo do princípio com a realidade criada. Para entendermos a Imaculada Conceição é preciso que que entendamos que esse princípio é também nosso. Portanto, é a nossa festa, enquanto estamos todos nós inseridos no plano de Deus de sermos santos e imaculados por causa da revelação do princípio acontecida em Jesus Cristo (cf. Ef 1,4).
Que todos se alegrem por essa festa da Imaculada Conceição. Penso nas tantas Paróquias a ela dedicada. Mas, o pensamento se alarga para todos os católicos, especialmente neste tempo em que refletimos a Sinodalidade: em Maria Deus se faz presente, caminha com ela e é a referência existencial determinante para sua história. Sigamos juntos assim: Deus nos quer juntos porque ele se junta a cada um de nós, para ser plenitude de vida para todos.