Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba
O tempo corre, os fatos vão ocupando seus espaços e a história não se dá por terminada. Tudo na vida tem significado e deixa suas indeléveis marcas. Mas o mundo é uma construção progressiva, onde cada “peça” existe para desempenhar seu próprio papel. É lamentável quando uma das peças, um alguém, só age para desconstruir o que já existe para a harmonia da natureza.
O que se lê nas Escrituras Sagradas é um despertar para coisas novas e um olhar para frente. Os autores sagrados querem provocar nos leitores uma vida de fertilidade e de construção do bem. Os provocadores da morte são penalizados, porque passarão pelo julgamento de Deus. São como o joio no meio do trigo e, no final da colheita, o trigo será guardado e o joio colocado no fogo.
Encontramos a cena de Moisés, refém dos faraós do Egito, mas ele não se deixou levar pelo desânimo e a infertilidade. Vendo o sofrimento do povo eleito, escravo no Egito, ouve a voz de sua consciência, de seu compromisso como líder dos desprotegidos, conseguiu organizá-los e fugir da força de desconstrução das autoridades egípcias. Moisés revelou sua capacidade de fazer o bem.
A violência presente na sociedade brasileira é uma visível desconstrução, uma infertilidade e uma clara realidade de opressão. Tanto é verdade que milhares de pessoas, sem culpa nenhuma, são assassinadas de forma totalmente irresponsável. Também em nome do mercado e do desenvolvimento, mas sem preocupação com a dignidade das pessoas, a vida vai sendo ceifada injustamente.
Jesus fala de uma figueira estéril, que ocupava espaço e não permitia a presença de outros elementos com capacidade de produzir frutos. Ainda é pior quando alguém, que não produz nada de bom, é também parasita, que vive sugando dos frutos de outros, causando prejuízo para a comunidade. A infertilidade de uns pode causar desânimo na vida de quem tem forças para produzir.
A Quaresma é tempo de conversão e de esperança. São quarenta dias de reflexão, saída da infertilidade, do indiferentismo e da acomodação, abrindo caminho para a graça de Deus e preparação para a Páscoa do Senhor. Superar a imagem negativa da figueira estéril, sabendo que Deus é capaz de agir com misericórdia e transformar a vida das pessoas para produzir abundantes frutos.