“Não quero ser você, quero ser eu, sem imitações ou limitações, sou preta resistência!”
(Grupo Kanaombo)
No ano de 2004 nasce a Rede de Mulheres Negras do Paraná e em sua base está uma das pautas importantes de sua missão que é o seminário de mulheres negras e saúde. Esse evento aconteceu nos dias 13 a 15 de novembro de 2009, estiveram reunidas mais de 250 mulheres negras no Hotel Paraná Suíte em Curitiba, mulheres negras vindas de 15 estados brasileiros para a realização do IV Seminário.
“A noite não adormece nos olhos das mulheres (Conceição Evaristo)”
O evento teve início com a programação de oficinas, na tarde de sexta feira, com as seguintes temáticas:
1. Segurança alimentar e nutricional e mulheres negras
2. História do feminismo e mulheres negras
3. Religião de matriz africana e saúde
4. Educação étnico racial e gênero-orientação sexual na educação
5. Racismo e auto-estima
6. Jovens Negras e Vulnerabilidade
Às 19 horas, o evento teve sua abertura solene com a apresentação do grupo afro kanaombo, a dança, a poesia, a arte afro brasileira, em seguida a fala de autoridades presentes seguida de uma mesa redonda com o tema: As políticas Publicas e as Mulheres Negras: Avanços e Desafios.
No sábado às 8 horas apresentou – se o filme: Eu mulher negra, seguida de várias mesas.
a) Direitos humanos a conquistar: universalidade, integralidade e direito à equidade
b) Saúde da mulher negra e mortalidade materna
c) Mulheres Negras e violência
d) AIDS e racismo, as interfaces da vulnerabilidade
e) Jovens negras e vulnerabilidade
Foram mesas riquíssimas de participação e reflexão, com profissionais negras que estão atuando no SUS, na comunicação, na educação, na política e na segurança Pública com enfoque nas questões étnicos raciais.
No sábado a noite houve o lançamento do livro Quilombolas saudáveis publicado por uma equipe de profissionais da Rede de Mulheres Negras do PR. Destaco aqui a participação das representações das várias comunidades quilombolas do Paraná e representação dos estados do Amapá e Rondônia nesse evento.
No domingo continuou-se com as mesas redondas com temas:
a) Racismo e saúde mental
b) Anemia falciforme no Brasil e no Paraná
c) Mulheres negras e comunicação
d) Saúde e saneamento nas comunidades quilombolas
e) Ações, controle social e a implementação da política integral de saúde da população negra.
f) Apresentação de pesquisa na questão afro brasileira/ trabalhos, experiências e pesquisas.
Falas…
O espaço de luta pelo direito a saúde das mulheres é uma conquista. O movimento está em movimento e a busca é para todas as pessoas que querem se libertar. Em 2004 foi criado a política para a população negra, existem seis secretarias sob a coordenação do ministério federal da saúde.
O Brasil tem a 4ª população encarcerada do mundo, com 229 679 mil negros entre 18 a 29 anos e com baixa escolaridade. Existe um grupo preferencial, alvo do sistema, que são os negros. Isso é impactante! Os Estados Unidos está importando um sistema prisional desumano para os países pobres, entre eles está o Brasil. É uma política de extermínio. As mulheres negras estão morrendo no sistema prisional.
Em 18 de março de 2004 foi criado o pacto nacional pela redução da mortalidade materna neonatal. Causas de morte materna: anemia falciforme, hipertensão arterial/ hemorragia/ complicação decorrente de aborto realizado em condições inseguras/ infecção pós parto/ parto cesária (cirurgia de grande porte. O que fazer? Pré natal, educação em saúde, criação de comitês de prevenção de parto normal, diminuição das técnicas intervencionistas, e outras…
Morrem 13,4 mulheres brancas de eclampsia e 43,92 mulheres negras. Morrem 7,62 mulheres brancas que praticam o aborto e 25,23 mulheres negras. È um genocídio que atinge a população jovem negra. Essas mortes acontecem nos hospitais, onde as mulheres estão internadas, mal cuidadas ou esquecidas.
Eu me escondia pra não morrer, hoje eu me mostro pra viver!
A bandeira dos portadores de HIV/ DST/ AIDS. (esteve presente algumas mulheres soropositivas que deram seu depoimento.
A situação da população negra na saúde é invisível, porque nos formulários de saúde não aparece o quesito raça/ cor.
A maior derrota de uma mãe é perder um filho. Os locais de crime são execução. Os jovens usam a noia – borra do craque e morrem mais rápido. São assassinados 3.05,85% de jovens assassinados. Todos os negros nasceram para ser Barak Obama, a sociedade não dá chance, a polícia não dá chance, o estado não dá chance.
O povo negro tem alta capacidade de enfrentamento, tiraram nosso sobrenome, nossas famílias. È uma História de resistência. Somos mais sofridos, mais injustiçados, somos mais alegres. Como pode ser mais sofrido e mais alegre? Essa é a capacidade de transformar dor em alegria – é a capacidade de resiliência.
A sociedade naturalizou a lógica racista, sexista minimizando a dor do negro e da negra. A mulher negra não é resistente por natureza, minimizaram a dor dessas mulheres, com esse mito de que as mulheres negras são mais resistentes biologicamente. Usam essa ideologia, tirando o direito da mulher negra ser anestesiada na hora do parto. Essa é uma das formas de discriminação e de racismo contra as mulheres negras.
“Precisamos enegrecer a política brasileira!
Que igualdade é essa num país campeão da desigualdade?
Irmã Silvana Sampaio Gomes