Jesus chora ao ver Jerusalém e nós choramos ao ver o que?

Dom José Ionilton Lisboa de Oliveira
Bispo da Prelazia de Itacoatiara (AM)

“Quando Jesus se aproximou de Jerusalém e viu a cidade, começou a chorar” (Lc 19, 41).

Depois de ter lido e meditado pessoalmente o evangelho da quinta-feira da 33º semana do tempo comum, veio-me a seguinte inquietação: olhando nossa cidade, nosso Estado e nosso País, o que nos faz chorar, como Jesus ao ver Jerusalém?

Resolvi postar esta minha inquietação no whatsApp e pedi que quem lesse a minha postagem me enviasse sua opinião, porque desejaria escrever um artigo inspirado no choro de Jesus sobre Jerusalém e no “nosso choro” hoje, a partir de onde vivemos.

Confesso que não esperava muitas respostas, mas vieram e aqui quero partilhar estes nossos “choros”, atualizando o choro de Jesus.

O que nos faz chorar hoje?

<> A inversão dos valores;

<> A corrupção;

<> O esfriamento e a falta do amor para com o próximo;

<> Ver muitas desigualdades, muita fome, muito desemprego e muita falta de respeito com os pobres;

<> A violência contra crianças, mulheres e negros;

<> O abandono dos projetos que ajudariam os moradores das áreas que alagam com as chuvas;

<> A falta de apoio aos projetos e às pastorais sociais;

<> A indiferença ante o sofrimento alheio;

<> O relativismo diante da fé;

<> A desunião dos cristãos em torno das escolhas políticas (brigas por causa de partidos e candidatos);

<> A falta de atendimento adequado na saúde;

<> O descaso com as vias públicas (estradas, ruas e avenidas esburacadas);

<> A resistência para o uso do capacete, para respeitar o sinal de trânsito, para o uso do cinto de segurança, enfim, a tudo que se refere a um trânsito mais seguro;

<> A perda de direitos conquistados com muita luta;

<> O congelamento dos recursos para as áreas sociais;

<> O voto dado sem avaliar as consequências;

<> O grande número de abstenções, de votos branco e nulos nas últimas eleições;

<> A proposta de se resolver o problema da violência com a liberação do uso de armas, ter recebido apoio de cristãos de todas as Igrejas;

<> A indisponibilidade de muitos cristãos quando são convidados para assumirem lideranças em nossas Comunidades e Pastorais;

<> Quando se acredita somente no poder do dinheiro e da influência política;

<> Os governantes não querem olhar para o mais fraco, para o menos favorecido;

<> A falta de amor e de paz;

<> As desigualdades sociais, que nos faz ver tanta gente mendigando pelo que lhe é de direito;

<> O extermínio da juventude;

<> Ver meus irmãos que vivem nas ruas, dormindo nos bancos das praças, nas portas das igrejas ou de lojas, sujos e mal alimentados, mal vestidos e abandonados pelos seus amigos e familiares, também pelos crentes, cristãos, católicos;

<> Ver os bares e clubes cheios de gente e as igrejas com poucas pessoas;

<> Ver pessoas usando drogas em plena luz do dia;

<> Os ricos de bens materiais serem pobres na caridade, na solidariedade e na honestidade;

<> A falta de uma boa formação política;

<> Ver que a nossa democracia, tão jovem, conquistada à custa da vidas de muitos, está  sendo atacada pelos poderes constituídos do país;

<> Ver o governo federal acabando com as políticas  públicas de Saúde, Educação, Moradia, Segurança, Políticas  para as Mulheres, para a Promoção  da Igualdade Racial, para a Juventude, para as Pessoas com deficiências, para as Minorias, deixando as famílias  pobres cada vez mais vulneráveis;

<> Quando vejo o poder legislativo legislando em causa própria, sem se preocupar em defender os direitos dos trabalhadores conquistados a duras penas;

<> Quando vejo o poder judiciário agir politicamente, atendendo a interesses de grupos, sem critérios transparentes, usando de dois pesos e de duas medidas;

<> Quando vejo que o presidente eleito, pelas providências já tomadas na composição de seu ministério e outros cargos do primeiro escalão do governo, indica que teremos dias muito sombrios, direitos subtraídos, soberania ameaçada, patrimônio nacional delapidado, ameaças de privatizações;

<> Quando vejo que a política econômica do governo atual e do governo recém eleito é de favorecer para que os ricos fiquem cada vez mais ricos e os pobres fiquem cada vez mais pobres;

<> A falta de moradia e de emprego;

<> Os direitos que são negados ou retirados das nossas crianças e adolescentes;

<> As intolerâncias com determinadas situações que envolvem o bem comum, onde o “meu” e o “eu” sempre prevalecem;

<> Ver as áreas periféricas de nossas cidades serem tão esquecidas por nossos governantes, onde não tem fiscalização da vigilância sanitária, as ruas com muitos buracos, crianças no meio do lixo, deixadas às margens das ruas;

<> A ganância pelo poder;

<> A má administração do dinheiro e dos bens públicos na sociedade e na Igreja;

<> O descaso pela vida humana;

<> O desrespeito pela Natureza, ameaçando nossos biomas;

<> Os ataques aos Povos Indígenas, seus territórios e suas culturas;

<> A discriminação racial e social;

<> O Fake News (falsas notícias) que ilude o povo, inclusive recurso ilegal muito usado na campanha eleitoral de 2018;

<> Ver tantos cristãos e cristãs indiferentes e compactuando com o sistema de morte;

<> A desigualdade ou o contraste social entre os que têm demais e a maioria das pessoas que quase nada tem;

<> Ver de um lado os que tem oportunidade de trabalho, atendimento de saúde, educação, transporte, asfalto, limpeza pública e iluminação e do outro lado a ausência de políticas públicas, abandono, descaso, indiferença, levando à extrema pobreza, a exclusão social;

<> O analfabetismo o conformismo, a acomodação;

<> Os políticos que fazem a manipulação das pessoas simples e humildes;

<> A discriminação e a exclusão dos vulneráveis;

<> A difusão da cultura de violência;

<> A falta de transparência no uso dos recursos públicos;

<> ver os médicos cubanos que tanto contribuíram com a saúde das populações mais afastadas indo embora e deixando estas comunidades sem o serviço de profissionais humanos e competentes;

<> sentir mais insegurança de ver nosso projeto (uma Amazônia verdadeiramente vivendo em harmonia) ser ameaçado;

<> Ver que o viver no campo com mais tranquilidade e dignidade, com o reconhecimento dos territórios das populações tradicionais, está cada vez mais distante;

<> Ver que os seringueiros do Acre vivem esquecidos, no tocante às políticas públicas e vivem constantemente ameaçados;

<> A falta de respeito às pessoas idosas…

Quero agradecer a todas as pessoas que contribuíram com esta atualização do “choro de Jesus”. Percebemos assim como é sempre atual a Palavra de Deus.

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