Jesus é a Ressurreição e a Vida!

Dom Eurico dos Santos Veloso
Arcebispo Emérito de Juiz de Fora (MG)

 

 

Neste 5º Domingo da Quaresma, a liturgia garante-nos que o desígnio de Deus é a comunicação de uma vida que ultrapassa definitivamente a vida biológica: é a vida definitiva que supera a morte. Eu mesmo, em virtude da minha idade avançada, estou em quarentena. Estou vivendo uma quaresma mais intensa na oração, no jejum e na abstinência de carne rezando nas intenções da Igreja e para que os expertos possam logo desenvolver uma vacina que combata o corona vírus. O povo de Deus agora deverá participar da Santa Missa pelos meios de comunicação social. No dia de hoje, em consonância com a Campanha da Fraternidade 2020, nós somos chamados a valorizar, divulgar e fortalecer as inúmeras iniciativas já existentes em favor da vida. Por isso lembremos daquela exigente palavra de Nosso Senhor Jesus Cristo: “Se fores apresentar uma oferta sobre o altar e ali te recordares que o teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa lá a tua oferta diante do altar, e vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão; depois, volta para apresentares a tua oferta”(cf. Mt 5,23-24).

Na primeira leitura(cf. Ez 37,12-14), Deus oferece ao seu Povo exilado, desesperado e sem futuro (condenado à morte) uma vida nova. Essa vida vem pelo Espírito, que irá recriar o coração do Povo e inseri-lo numa dinâmica de obediência a Deus e de amor aos irmãos.

O tema central do Evangelho de hoje é a vida. Vida que foi restituída a Lázaro e que está ligada à amizade, ao amor fraterno, a compaixão, atitudes cristãos que estão presentes na glorificação de Deus, que é o destino dos homens e mulheres que creem verdadeiramente. A vida verdadeira, que o Cristo trouxe, tem face humana e face divina, que se misturam.

O Evangelho(cf. Jo 11,1-45) garante-nos que Jesus veio realizar o desígnio de Deus e dar aos homens a vida definitiva. Ser “amigo” de Jesus e aderir à sua proposta (fazendo da vida uma entrega obediente ao Pai e um dom aos irmãos) é entrar na vida definitiva. Os crentes que vivem desse jeito experimentam a morte física; mas não estão mortos: vivem para sempre em Deus. “Eu sou a ressurreição e a vida!”(cf. Jo 11,25). Antes mesmo de celebrarmos a Páscoa do Senhor, a liturgia nos apresenta o foco central do mistério pascal – a ressurreição de Jesus – como sendo o eixo da existência humana. Esta vida e a ressurreição, que são o próprio Jesus, não são realidades meramente físicas, mas espirituais, que transcendem a realidade humana. Todos nós temos de lidar com sofrimento, dor e morte de maneira cotidiana. Não temos como mudar isto. Porém, mais forte ainda que a morte física é a morte espiritual, a morte do pecado. A fé em Cristo, durante esta vida terrestre, não é capaz de impedir que a morte aconteça, mas é capaz de fazer um milagre ainda maior: devolver a vida da alma. De fato, que milagre é maior: devolver a vida do corpo a alguém que morreu(e que tornará a morrer depois, como Lázaro) ou perdoar alguém, devolvendo-lhe a vida da alma de uma forma que nem o demônio é capaz de tirar? Quem perdoa, quem contribui para a reconciliação dos outros, quem ama os “não-amáveis” – os inimigos, os marginalizados, os perseguidos etc. – está fazendo o maior de todos os milagres: infundir a vida do amor onde antes só havia a morte do pecado. E este milagre todos nós somos capazes de realizar, no poder da Santa Eucaristia, que é o Corpo de Cristo Ressuscitado, que em cada Missa recebemos.

A segunda leitura(cf. Rm 8,8-11) lembra aos cristãos que, no dia do seu Batismo, optaram por Cristo e pela vida nova que Ele veio oferecer. Convida-os, portanto, a ser coerentes com essa escolha, a fazerem as obras de Deus e a viverem “segundo o Espírito”.

“Eu sou a vida; eu sou o pão da vida, eu sou a luz da vida!”. Jesus veio ao mundo para despertar a criatura humana do sono. E esta vida nova só será possível àqueles que viverem, com dignidade, a grandeza do seu Batismo. Aderindo a Cristo o batizado deve viver uma vida realmente nova, animada pelo espírito de Cristo. Mas sem a fé, traduzida em obras, o batismo ficará morto. A vida da fé batismal se verifica, se atualiza, por exemplo, quando ela transforma a sociedade de morte numa comunidade viva de vida, de fraternidade e de comunhão. Como Lázaro, acolhamos a ordem de Jesus: “Sai para fora”. Peçamos ao Senhor que nos desperte e ressuscite do sono da morte e nos revista da Sua imortalidade com a Celebração da Festa da Páscoa que se aproxima, mesmo em que este isolamento social nos ajuda a termos o Senhor como companheiro de caminhada. O Senhor está conosco, caminha conosco e nos anima a darmos testemunho de que Ele é a Ressurreição e a Vida Plena!

 

 

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