Jesus é apresentado ao Templo

Dom Anuar Battisti
Arcebispo Emérito de Maringá (PR)

A Festa da Apresentação do Senhor já era celebrada no Oriente no séc. IV. A partir do ano 450, é designada, pelos nossos irmãos do Oriente, como “Festa do Encontro”: “encontro” de Deus com o seu povo, mas também encontro de Maria, José e Jesus com Simeão e Ana, os representantes do Israel fiel, que esperava a salvação de Deus. O “encontro” também é conosco: é o dia para encontrarmos Jesus, a “luz” que ilumina o mundo e as nossas vidas.

Na primeira leitura – Ml 3,1-4 –, o profeta Malaquias anuncia a proximidade do “Dia do Senhor”, o dia em que Deus vai entrar no seu Templo para purificar o seu povo, para lhe renovar o coração e para o capacitar para viver num dinamismo novo. Começará nesse dia um tempo novo, o tempo da nova Aliança entre Deus e os homens. O mensageiro de Deus virá para renovar a aliança entre Ele e seu povo mediante a purificação do coração para o dia do Senhor, que julgará a sociedade injusta. Deus tem seus tempos, diferentes dos nossos.

No Evangelho – Lc 2,22-40 –, Lucas mostra como Jesus, poucos dias após o seu nascimento, entrou no Templo de Jerusalém para concretizar a promessa outrora feita por Deus através do profeta Malaquias. Recebido por Simeão e Ana, representantes do Israel fiel que esperava ansiosamente o Messias de Deus, Jesus é apresentado como “luz para as nações” e “glória de Israel”. Ele traz ao mundo a salvação de Deus. A Sagrada Família faz parte da história do seu povo e do seu tempo, está inserida no contexto social e cumpre as determinações da Lei. Simeão e Ana reconhecem no menino a “luz que se revela às nações”. Jesus é o Messias que veio, como Servo do Senhor, para a obra da salvação que o Pai lhe confiou.

Nossa Senhora ao apresentar o Menino Jesus no templo ela o faz como uma oferta gratuita e genuína, ela sabe que isso lhe trará renúncias no futuro. O mistério do seu sofrimento tem início; desembocará na Cruz, a espada de dor que lhe transpassará a alma. Passados 40 dias do Natal Jesus é apresentado no templo por Maria e José, a fim de cumprir um ritual veterotestamentário; mas, na verdade, era Deus mesmo que vinha ao encontro de seu povo, ratificando que Ele era o novo e verdadeiro Templo. Ana e Simeão, presentes no Evangelho de hoje, tornaram-se o protótipo de pessoas que perseveram na fé: foram capazes de reconhecer o Senhor, mesmo recém-nascido. Hoje somos convidados a fazer o mesmo movimento: perseverar na fé, reconhecendo o Senhor, nossa Luz, em cada oportunidade do caminho.

Alguns dados importantes sobre Ana e Simeão devem ser destacados nesta liturgia. Eles eram idosos. Lucas enfatiza que Simeão era “justo e piedoso, e esperava a consolação do povo de Israel” (Lc 2,25). A respeito de Ana, informações importantes são destacadas: ela era profetisa, já bastante idosa e viúva. Tinha 84 anos e havia vivido sete anos com o marido. Os números são simbólicos e apontam para o ideal de plenitude. O número 84 corresponde a 7 x 12, multiplicação que envolve um número perfeito e o das tribos de Israel. De modo que Ana é representante do novo povo de Deus. Esse povo novo tem seus olhos voltados para Jesus. Isso se evidencia na expressão de Simeão: “meus olhos viram a tua salvação” (Lc 2,30). Os olhos de Simeão e de Ana são os olhos de todos os humildes do mundo que esperam o dia da libertação.

Na segunda leitura – Hb 2,14-18 – um catequista cristão, escrevendo “aos Hebreus”, apresenta Jesus como o irmão dos homens, que veio ao mundo para promover os “descendentes de Abraão” à categoria de Filhos amados de Deus. Oferecendo a sua vida por amor, ele introduziu na nossa débil, frágil e pecadora natureza humana, dinamismos de superação dos nossos limites, dinamismos de vida nova, de vida verdadeira e eterna. Os sacerdotes são “construtores de pontes” entre Deus e as pessoas. Em Jesus, Deus e a humanidade estão unidos numa mesma pessoa. Sumo sacerdote por excelência, Jesus é fiel e misericordioso, aquele que nos une diretamente a Deus!

À semelhança de Maria, José, Ana e Simeão, nosso coração também é consolado. Apesar de o mundo ainda estar cheio de sofrimentos, guerras, dificuldades, destruição, contemplando a Jesus – o Deus Menino – os nossos olhos são iluminados para fazer o bem hoje. Deus participa da nossa condição na fragilidade da criança recém-nascida e, por meio dela, revela sua salvação. Jesus é luz para as nações e nele se manifesta a glória celeste!

 

 

 

 

Tags:

leia também