Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)

 

Estamos chegando quase no final do Tempo Comum e no Evangelho deste 27º Domingo do Tempo Comum (Mc 7,31-37), Jesus se encontra com os fariseus que sempre querem pô-Lo à prova. Eles colocam para Jesus uma questão da vida cotidiana: o divórcio que era permitido. Querem saber se Ele dirá alguma coisa contra a própria lei instituída por Moisés.

Jesus diz que Moisés escreveu esse mandamento pela dureza do coração deles e mostra que a lei apenas existe para dar lugar ao que é conveniente aos homens, feita para enfrentar a maldade humana. Ele retoma o projeto original usando as Palavras da Sagrada Escritura como autoridade para o Seu ensinamento: “o que Deus uniu, o homem não separe!”. Jesus não dá importância à lei exclusivamente, porque ela não corresponde à vontade de Deus.

O encontro com os fariseus leva Jesus a ensinar Seus discípulos em particular. Ao chegar em casa com eles, na intimidade de irmãos, Jesus orienta sobre a importância da fidelidade entre esposos, pois acredita que seus discípulos são capazes de compreender, como as criancinhas perante o Reino de Deus, pois elas ouvem, acolhem e confiam totalmente nos ensinamentos de seus pais, livremente.

Os discípulos, porém, parecem evitar ouvir a verdade e afastam as pessoas que levam os pequeninos até Jesus que fica indignado com eles e as acolhe com muito amor, impondo as mãos sobre elas abençoando-as, e repreende os discípulos pela atitude contrária ao que Ele prega e vive. Jesus proclama que só a confiança igual das crianças permite aos cristãos viverem os Seus ensinamentos. Por isso, Ele enfatiza tanto o Seu amor por elas, que confiam e se entregam totalmente ao Pai.

Jesus lembra a unidade: “… e os dois formarão uma só carne.” (Mc 10,8), isto é, quase uma só pessoa, com a concórdia nos mesmos projetos e sentimentos; implicitamente inculca a construir sobre a unidade e renová-la cada dia. Procurando resolver logo que surgem os problemas, as incompreensões, as friezas. Depois, a confiança recíproca; esta é como um lubrificante; falar, comunicar as próprias dificuldades e tentações. Enquanto há confiança recíproca, o divórcio fica longe.

Devemos nos convencer de que tudo isto não basta e que são necessários os meios espirituais: sacrifício e oração. Se o matrimônio encontra tanta dificuldade de se manter unido, é porque enfraqueceu o espírito de sacrifício e se quer só receber do outro antes de dar ao outro.

A dignidade do matrimônio e a sua estabilidade é um dos temas que mais importa defender e fazer com que muitos compreendam. Pois a saúde moral dos povos está ligada ao bom estado do matrimônio. Quando este se corrompe, podemos afirmar que a sociedade está doente, gravemente doente.

A família sempre deve ser o centro da vida da Igreja e da sociedade. O lema da semana nacional da vida é “Família Santuário da Vida. Fechar-se ao matrimônio que evita ter filhos vai na contramão da própria gênese da vida matrimonial.

Os que se casam iniciam juntos uma vida nova que devem percorrer na companhia de Deus. É o próprio Senhor que os chama para que cheguem a Ele por esse caminho, pois o matrimônio é uma autêntica vocação sobrenatural. Sacramento grande em Cristo e na Igreja (Ef 5,32), diz São Paulo; sinal sagrado que santifica, ação de Jesus que se apossa da alma dos que se casam e os convida a segui-Lo, transformando toda a vida matrimonial num caminhar divino sobre a terra.

Não esqueçamos que a primeira coisa que o Messias quis santificar foi um lar. O primeiro milagre que Jesus fez foi no casamento, em Caná da Galiléia (Jo 2, 1-11). E que é precisamente nas famílias alegres, generosas, cristãmente sóbrias, que nascem as vocações para a entrega plena a Deus na virgindade ou no celibato. Todas elas representam um dom que Deus concede muitas vezes aos pais que rezam pelos filhos de todo o coração e com constância.

Que as famílias possam manter-se fiéis à sua vocação em cada época da vida, “na alegria e no sofrimento, na saúde e na doença”, como prometeram no rito sacramental. Conscientes da graça recebida, possam os cônjuges cristãos construir uma família aberta à vida e capaz de enfrentar unida os numerosos e complexos desafios deste nosso tempo. Hoje, há particularmente necessidade do seu testemunho. Há necessidade de famílias que não se deixem arrastar pelas correntes culturais inspiradas no hedonismo e no relativismo, e estejam prontas a realizar com generosa dedicação a sua missão na Igreja e na sociedade.

A família, tal como Deus a quis, é o lugar idôneo para tornar-se, com o amor e o bom exemplo dos pais, dos irmãos e dos outros membros do círculo familiar, uma verdadeira escola de virtudes em que os filhos se formem para serem bons cidadãos e bons filhos de Deus. É no meio da família firmemente voltada para Deus que cada um pode encontrar a sua própria vocação, aquela a que Deus o chama. Numa época em que muitos procuram destruir ou desfigurar a família, é urgente proclamar o Plano de Deus sobre o Matrimônio e a Família. Não é uma norma da Igreja, é Plano de Deus, reafirmado por Cristo.

O Documento de Aparecida diz: “Cremos que a família é imagem de Deus que em seu mistério mais íntimo não é uma solidão, mas uma família. Na comunhão de amor das Três Pessoas Divinas, nossas famílias têm sua origem, seu modelo perfeito, sua motivação mais bela e seu último destino” (DAp 434).

Rezemos pelos casais e para aqueles que estão se encaminhando ao matrimônio; que o Senhor afaste deles o divórcio do coração e o divórcio jurídico. Sobre todas as famílias, especialmente sobre as que estão em dificuldade, invoquemos a proteção materna de Nossa Senhora e do seu esposo São José.

 

 

 

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