Jesus ilumina a nossa vida! Transfiguremos! 

Dom Eurico dos Santos Veloso
Arcebispo Emérito de Juiz de Fora (MG)

 

 

No segundo domingo da Quaresma, a Palavra de Deus define o caminho que o verdadeiro discípulo deve seguir: é o caminho da escuta atenta de Deus e dos seus projetos, da obediência total e radical aos planos do Pai. Vamos com Cristo ao Monte Tabor contemplar o clarão de sua glória. A Quaresma nos faz trilhar um caminho batismal, nos fazendo experimentar, com força transformadora, as exigências da missão de nosso Batismo. A Campanha de Fraternidade deste ano nos aponta para a prática concreta da partilha e da uma maior consciência da realidade de fome que assola o Brasil e o mundo. 

O Evangelho (Mt 17,1-9) relata a transfiguração de Jesus. Recorrendo a elementos simbólicos do Antigo Testamento, o autor apresenta-nos uma catequese sobre Jesus, o Filho amado de Deus, que vai concretizar o seu projeto libertador em favor dos homens por meio do dom da vida. Aos discípulos, desanimados e assustados, Jesus diz: o caminho do dom da vida não conduz ao fracasso, mas à vida plena e definitiva. Segui-o, vós, também. 

Transfiguração é mudar de aparência, de forma, é transformar-se. Como discípulos e discípulas de Cristo, em nossa caminhada quaresmal, devemos orientar nossa vida em direção à Páscoa de Jesus, escutando o que Ele nos diz e ensina como Filho amado do Pai. A conversão verdadeira passa pela escuta e pela vivência de todos os ensinamentos de Jesus. Nesse sentido, pela conversão a Jesus crucificado, seremos por Ele transfigurados e, no fim de nossa missão neste mundo, participaremos, por dom da bondade divina, de sua glória, a glória futura da ressurreição. Glória e luz da ressurreição que o episódio da Transfiguração antecipa e prefigura.  

Duas são as ordens, para os três discípulos e para nós. A primeira ordem vinda do Pai, é para ouvir o Filho amado. Ouvir é a atitude fundamental dos discípulos. Ouvir Jesus é entender o que disse e fez, para que seu ensinamento oriente nossa vida e assim, de algum modo, possamos continuar a mesma missão que o Pai lhe confiou. A segunda ordem vem do próprio Jesus, que, após tocar os discípulos, diz que se levantem e não tenham medo de enfrentar os desafios da realidade. 

Na primeira leitura (Gn 12,1-4a), apresenta-se a figura de Abraão. Abraão é o homem de fé, que vive numa constante escuta de Deus, que sabe ler os seus sinais, que aceita os apelos de Deus e que lhes responde com a obediência total e com a entrega confiada. Nesta perspectiva, ele é o modelo do batizado que percebe o projeto de Deus e o segue de todo o coração. A leitura apresenta a vocação do pai do povo de Deus. Abrão é convidado a abandonar suas seguranças – terra e família – e sair em busca de nova terra, onde será pai de um grande povo. A seu exemplo, sejamos atentos à Palavra de Deus e deixemo-nos guiar por ela a fim de buscar nova proposta de vida, seguindo o caminho que o Senhor nos indica. 

Na segunda leitura (2Tm 1,8b-10), há um apelo aos seguidores de Jesus, no sentido de que sejam, de forma verdadeira, empenhadas e coerentes, as testemunhas do projeto de Deus no mundo. Nada – muito menos o medo, o comodismo e a instalação – pode distrair o discípulo dessa responsabilidade. A partir do batismo, todos recebemos uma vocação santa, que nos compromete com o projeto de Jesus e com todos os que sofrem. Essa é a experiência de Timóteo, convidado por Paulo a participar do seu sofrimento por causa do Evangelho. 

Neste ano, no qual a Campanha da Fraternidade quer nos fazer refletir sobre a fome, rezemos para que essa realidade triste e humanamente vergonhosa seja transfigurada pela luz gloriosa de Jesus crucificado e ressuscitado. E é certo que o Senhor espera que cada cristão e cada comunidade comprometida com seu Evangelho sejam testemunhos de fraternidade, de solidariedade e, acima de tudo, de partilha. Pela fé, nós cremos que toda realidade de morte – e de fome! – será transfigurada por Jesus e esperamos por isso, mas também que seja transformada pelo testemunho cristão do amor e pela acolhida mútua entre os irmãos. 

 

Tags:

leia também