Jesus Menino, o rosto da paz

Dom Adelar Baruffi
Bispo de Cruz Alta (RS)

Eis que o rosto de Deus se tornou visível em Jesus, o Cristo, nascido da Virgem Maria. Ele é o “Príncipe da Paz” (Is 9,5) e “para a paz não haverá limites” (Is 9,6). Cada vez que celebramos o Natal volta-nos novamente este espanto e admiração: Deus se fez um de nós, sem deixar de ser Deus, assumindo nossa humanidade, “fez-se carne e habitou entre nós” (Jo 1,14). Nele foi aberto definitivamente o caminho de Deus para a humanidade e, consequentemente, da humanidade para Deus e da fraternidade humana. Toda a procura pelo transcendente, que de muitos modos todas as culturas e povos tiveram, encontrou, nesta pequena criança, seu ponto de chegada e sua realização definitiva. Assim testemunha a Carta aos Hebreus: “O Filho é a irradiação da sua glória e nele Deus se expressou tal como é em si mesmo” (Hb 1,3).

Com que olhar iremos contemplar Jesus Menino? O olhar distraído de quem está ocupado e preocupado com tantas atividades, sobretudo num ano que está findando? Talvez algumas pessoas nem recordem que a notícia que motiva o Natal é única: “hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós o Salvador, que é o Cristo Senhor” (Lc 2,11). Ou o olhar autocentrado, voltado para si próprio, e indiferente ao que acontece ao seu redor, na família e na sociedade? O olhar da fé, porém, consegue ir além do que humanamente enxerga. Os personagens natalinos carregam este olhar: os pastores, que foram onde os anjos lhes indicara, viram o Menino, contaram aos outros e louvavam a Deus; o olhar de Maria, que “guardava todas estas coisas no seu coração” (Lc 2,19); o velho Simeão, que “tomou o menino nos braços e louvou a Deus” (Lc 2,28); os três sábios do Oriente que “ajoelharam-se diante dele, e lhe prestaram homenagem […] ofereceram presentes ao menino” (Mt 2,11); o olhar preocupado de José, diante do pedido do anjo “levante-se, pegue o menino e a mãe dele, e fuja para o Egito!” (Mt 2,13). O olhar da fé permite que concentremos nosso relacionamento com Deus e com os irmãos a partir de Cristo. Queremos superar uma religiosidade vaga de um “espírito natalino”, sem concretude, baseado em sentimentos e que acaba na ceia da noite de Natal. Não, nossa fé revela o Deus vivo, que tanto ama a humanidade a ponto de enviar seu Filho para ser nosso Salvador (cf. Jo 3,16). Nós o encontramos na concretude das palavras de acolhida, proximidade com os sofredores, atitudes misericordiosas e o amor como única motivação que moveu a vida de Jesus de Nazaré.

Assim, também as relações humanas são marcadas por esta referência para todos os tempos da história, visto que Jesus Cristo“revela o homem a si mesmo e descobre-lhe a sua vocação sublime” (GS 22). No dizer de nosso Papa, “devemos abrir o coração ao companheiro de estrada sem medo nem desconfianças, e olhar primariamente para o que procuramos: a paz no rosto do único Deus” (EG 244). No rosto do Deus Menino todos nos reconhecemos e os preconceitos, a violência, as desigualdades, as exclusões clamam para serem superados. Coloquemos este propósito em primeira pessoa, como nos diz o monge Thomas Merton: “Se amamos a paz, então, detestemos a injustiça, a tirania, a ganância – mas detestemos essas coisas em nós mesmos, não no outro.”

Contemplemos, com festa e alegria, o rosto do Deus Conosco. Permitamos que sejamos transfigurados à sua imagem. Construamos a paz a partir dele. Feliz e abençoado Natal a todos os diocesanos! “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por ele amados” (Lc 2,14).

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