Dom Adelar Baruffi
Bispo de Cruz Alta (RS)
Em Jesus, a oração era o lugar onde ele se encontrava diretamente com o Pai e o Espírito Santo. Sabia que tudo vinha dele. Ele compreendia sua vida a partir deste caminho, único para ele. No encontro cotidiano com o Pai, sabia que tudo vinha dele e para ele voltava. Nele tinha sua identidade, era o filho amado. Nele tinha sua segurança, mesmo quando lhe roubavam a sua vida e ele nada tinha a dizer. Ele, quase tranquilo e impaciente, mantinha seu olhar em Deus Pai. Jesus sabia em quem tinha confiado a sua vida.
Este é um ensinamento de Jesus. Como ele rezava? Não se tem grande matéria sobre sua vida de oração, o que ele rezava. Contudo, sua oração, provavelmente, devia ser um encontro tranquilo, por isso escolhia os lugares mais retirados, para com o Pai. No silêncio da oração, sem muito barulho, Jesus rezava. Diante do Pai, colocava sua vida, suas alegrias e suas preocupações. Numa oportunidade, no evangelho, Jesus falou: “Naquela ocasião, em resposta, Jesus proclamou: “Graças te dou, ó Pai, Senhor dos céus e da terra, pois escondeste estas coisas dos sábios e cultos, e as revelaste aos pequeninos. Amém, ó Pai, pois assim foi do teu agrado! Todas as coisas me foram entregues por meu Pai. Ninguém conhece o Filho senão o Pai; e ninguém conhece o Pai a não ser o Filho, e aquele a quem o Filho o desejar revelar” (Mt 11,25-27). Ele olhava para o Pai e o Pai olhava para Ele. Sabemos o quanto isto tem a nos dizer hoje, no “mercado religioso” que temos. Precisamos, verdadeiramente, saber, de Jesus, o que é rezar e como rezar. Não são, certamente, a relação de compra e venda que, às vezes sem pensar, atribuímos a Deus. Deus é bom e, absolutamente, gratuito. Sempre é assim. Nosso modo de rezarmos, como Jesus rezou, é este: no silêncio da oração do dia, recolher-se ou recolher a família. Todos os dias, sempre, é tempo de dialogar com Ele, donde viemos e para onde vamos. Como Jesus, mergulhar na intimidade do amor paterno, onde toda a alma tem sede: “Sois vós, ó Senhor, o meu Deus. Desde a aurora ansioso vos busco” (Sl 62,2).
“A oração é o leme que guia a rota de Jesus. Não é o sucesso, não é o consentimento, não é aquela frase sedutora ‘todos te procuram’, que ditam as etapas da sua missão. É o modo menos confortável que traça o caminho de Jesus, mas que obedece à inspiração do Pai, que Jesus ouve e acolhe na sua prece solitária” (Francisco, 04/11/2020). Este é o testemunho de Jesus, o porquê de sua missão, a razão de seu projeto: amava o Pai e, do Pai, amava os irmãos e irmãs. Neles Jesus se vê, como uma grande família. Não porque sejam melhores, não, mas porque são um com o Pai e Jesus sente misericórdia no seu interior por eles. As orações “testemunham claramente que mesmo em momentos de maior dedicação aos pobres e doentes, Jesus nunca negligenciava o seu diálogo íntimo com o Pai. Quanto mais estava imerso nas necessidades do povo, tanto mais sentia a necessidade de descansar na Comunhão trinitária, de voltar para o Pai e para o Espírito” (Francisco, 04/11/2020).
“A oração é como o oxigênio da vida” (Francisco, 11/11/2020). No momento da provação e das dificuldades, nunca desistir! Sempre em frente, até conversar com ele sobre o que se passa em nós! Daí o “oxigênio” para a vida. Todos têm momentos em que não são escutados, não são ouvidos, como os grandes santos tiveram, contudo, nestes momentos, ir em frente, sem desistir. “Ele cobrir-te-á com as plumas, sob as suas asas encontrarás refúgio. A sua fidelidade ser-te-á um escudo de proteção” (Sl 90, 4).