Dom Alberto Taveira Corrêa 
Arcebispo de Belém do Pará (PA)

Há poucos dias participamos da Comemoração Litúrgica dos Fiéis Defuntos, e, logo em seguida, o ponto de chegada, a Solenidade de Todos os Santos. Muitas pessoas foram aos Cemitérios no dia dois de novembro, levaram orações, e flores, tantas derramaram lágrimas, e muita gente experimentou um sentimento legítimo e humano chamado saudade! E sabemos que faz parte de nossa existência nesta terra o ritmo da vida, que é gerada, nasce, cresce, chega ao ponto mais alto de suas forças, naturalmente entra numa curva descendente, para chegar ao final de seu curso nesta terra, desejando que todos os homens e mulheres deixem boas lembranças e agradável saudade! Tanto é verdade que o grande São Francisco de Assis, no Cântico das Criaturas, chamou de irmã a inevitável morte corporal! Como não sabemos o dia e nem a hora de nossa Páscoa pessoal na morte, vale sempre a palavra do Evangelho: “Vigiai!” (Cf. Mt 25,1-13) 

Entretanto, nossa visão sobre a vida e a morte muda de cor quando nos vemos cercados da violência, das guerras intermináveis em pontos cheios de conflitos em nosso planeta, como também em nossas guerras urbanas, feitas de roubos e assaltos, assassinatos, crises, traições, separações entre as pessoas, ódio, calúnias, inimizade ou indiferença. Um impasse nos cerca quando vemos os noticiários repletos de imagens de desespero, destruição e ódio, como estamos contemplando com tristeza nas últimas semanas. 

Diante do mistério de morte e vida, a Igreja, em sua milenar sabedoria, oferece aos cristãos, nas últimas semanas do Ano Litúrgico, ensinamentos precisos e oportunos. Ao participarmos da Santa Missa, no trigésimo segundo Domingo do Tempo Comum, acolheremos palavras esclarecedoras: “Irmãos, não queremos deixar-vos na ignorância a respeito dos mortos, para que não fiqueis tristes como os outros, que não têm esperança. Nós cremos de fato que Jesus morreu e ressuscitou; assim cremos igualmente que Deus, por meio de Jesus, com ele conduzirá os que adormeceram. E então ressuscitarão, em primeiro lugar, os que morreram em Cristo; depois, os vivos, que ainda estiverem em vida. E, assim, estaremos sempre com o Senhor. Reconfortai-vos, pois, uns aos outros com estas palavras” (Cf. 1Ts 4,13-18). O que tem a dizer a fé cristã sobre a morte? Ela existe, é o maior de nossos problemas, mas ela tem a dizer que Cristo venceu a morte: “A morte foi tragada pela vitória; onde está, ó morte, a tua vitória? onde está, ó morte, o teu aguilhão?” (1 Cor 15,55). Cristo venceu a morte passando por ela, transformando-a, em nosso favor, em Páscoa, passagem! “O amor de Cristo nos impele, considerando que um só morreu por todos e, portanto, todos morreram” (2 Cor 5,14). “Nós vemos Jesus coroado de glória e honra, por ter sofrido a morte. Assim, pela graça de Deus, ele experimentou a morte em favor de cada um” (Cf. Hb 2,9). 

No Evangelho, como sempre lhe agrada, Jesus conta uma Parábola, a das dez jovens com suas lâmpadas (Cf. Mt 25,1-13). Impressiona o fato que que o ambiente é uma festa de casamento. Um ritual bonito, que previa belas jovens com as luzes acesas para a chegada processional do noivo. Até hoje, todos os casais gostam de celebrar seu matrimônio em meio a luzes e brilhos! Para manter a serenidade na vida, devemos acreditar que Deus nos chama à festa do encontro com ele e entre nós. Nosso destino não é a escuridão ou a perdição! Até eventuais brincadeiras com a escuridão e o mal abaixam os legítimos desejos de alegria e luz em nossa existência. Lembremo-nos que Deus a seus filhos “conheceu desde sempre, também os predestinou a se configurarem com a imagem de seu Filho, para que este seja o primogênito numa multidão de irmãos” (Rm 8,29). 

Para exercitar a vigilância e manter acesas as lâmpadas da fé, do amor e da confiança em Deus, vale olhar ao nosso redor e identificar os inúmeros apelos de Deus, através dos acontecimentos e as necessidades das pessoas. Deus fala pelo livro da Bíblia e também pelo grande livro dos acontecimentos. O convite que ele nos faz é que não desperdicemos qualquer pequena ou grande oportunidade de fazer o bem. Para tanto, treinar uma visão de bondade, com a qual descobriremos o bem que as pessoas fazem ou podem fazer. Gente de mau humor e com permanente raiva da vida no mínimo desconstrói e acaba destruindo a vida dos outros e a própria vida. Além disso, quem está atento à presença do Senhor e à sua vinda, agora ou em qualquer momento, haverá de escolher o bem e detestar o mal, sem acostumar-se nem mesmo com os pequenos defeitos. É claro que o faremos primeiro com a nossa própria vida, evitando grossas lentes de aumento para analisar a vida dos outros. 

Vigilância pede reconhecimento dos próprios limites. Deixar que uma enfermidade física, emocional ou espiritual se agigante não é honesto com o plano de Deus a respeito de nossa vida. Ao identificar problemas e defeitos a serem superados, vale a simplicidade e a coragem de pedir ajuda. Recordo ainda uma frase, citada há algum tempo pelo Papa Francisco e conhecida por muitas pessoas: “É melhor ficar com o rosto vermelho e queimando de vergonha por alguns minutos, ao abrir o coração e contar um problema ou erro, do que ficar amarelo o resto da vida”. Nada contra as cores, mas é verdadeira a expressão! 

Quem mantém acesa a sua lâmpada será capaz de tomar iniciativa, como recomenda São Paulo: “O amor seja sincero. Detestai o mal, apegai-vos ao bem. Que o amor fraterno vos una uns aos outros, com terna afeição, rivalizando-vos em atenções recíprocas. Sede zelosos e diligentes, fervorosos de espírito, servindo sempre ao Senhor, alegres na esperança, fortes na tribulação, perseverantes na oração. Mostrai-vos solidários com os santos em suas necessidades, prossegui firmes na prática da hospitalidade. Abençoai os que vos perseguem, abençoai e não amaldiçoeis. Alegrai-vos com os que se alegram, chorai com os que choram” (Rm 12,9-15). 

Enfim, vigilância significa estar prontos para ouvir a voz do Senhor, prontos a tudo, pois ele nos chamará para estar diante dele no melhor momento de nossa existência, já que Deus é amor e não pode fazer nada fora do amor! De fato, “para o Senhor, um dia é como mil anos, e mil anos como um dia. O Senhor não tarda a cumprir sua promessa, como alguns interpretam a demora. É que ele está usando de paciência para convosco, pois não deseja que ninguém se perca. Ao contrário, quer que todos venham a converter-se” (2 Pd 3,8-9). 

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