Lei Seca e cultura de paz

A Lei Seca conta com 90% da aprovação da população brasileira. Deve-se aos meios de comunicação o mérito da divulgação clara e objetiva. Deve-se aos esforços dos órgãos públicos a sistemática fiscalização, realizada com sérias resistências dos que insistem em desmoralizar os ditames do bom senso em nome de um pretenso “comércio e geração de emprego”. O quadro de acidentes seguidos de mortes ou de graves conseqüências diminuiu substancialmente.

Com a Lei Seca diminui, também, o índice de violência congênere, porquanto com o excesso de bebedeira chega a confusão e depois a desgraça. Conclui-se que a violência no trânsito foi reduzida, principalmente nos finais de semana. O refrão já se popularizou: “se beber, não dirija, e se dirigir, não beba”. Confiar a direção do veículo a um condutor sóbrio, isso sim, gera “emprego”. A criatividade chegou a lançar o “disk-motorista” para evitar acidentes aos que caem na tentação de cometer excessos.

A Lei Seca cria novos hábitos mais civilizados, demonstrado pelos índices. A cada ano, 35 mil vidas eram ceifadas por imprudência no trânsito. Na época de Natal e Fim de Ano, Carnaval (também micaretas), Semana Santa (que perdeu sua sacralidade e de santa não existe mais nada) e nos feriadões civis ou religiosos, campanhas episódicas tentam disciplinar um pouco o pessoal. Esforço inútil, pois já nascem desmoralizadas. Campanhas episódicas não surtem efeito algum. As estatísticas reproduziam índices maiores ou menores das mesmas desgraças. Campanhas sem conteúdo e sem infra-estrutura de apoio estrutural servem para rebolar dinheiro no mato.

O que a sociedade espera? Primeiro, deve ser orientada, instruída. Segundo, precisa contar com uma organização suficiente, através de órgãos públicos. Terceiro, deve se sentir parceira efetiva de ações educativas. Deve participar da operação, “botar o bloco na rua”. Deve funcionar, agir. Numa palavra, comunicação e de articulação de forças. A Lei Seca é investimento em responsabilidade social. Não tira emprego de ninguém, a menos que se considere a indústria lucrativa dos vícios e dos que trabalham para aliviar o sofrimento das vítimas de acidentes que superlotam os centros hospitalares ou dos que são transferidos para a vida eterna, deixando a dor e as despesas dos funerais para os amigos e familiares das vítimas. Afinal, as agências funerárias também sobrevivem da morte.

A superação da violência no trânsito será uma das temáticas da próxima Campanha da Fraternidade, na Quaresma de 2009, ao tratar da superação de outras formas de violência generalizada. É importante aceitar a realidade de uma cultura profundamente sadia, como a educação para a convivência social, importando, também, a educação para a não violência ativa. A dimensão do trânsito é altamente significativa, conta com novas formas criativas por parte de todos nós, conscientes de que tudo concorre para o nosso próprio bem, para a evolução da cultura de paz e, enfim, para a qualidade da vida humana, para a preservação e segurança dos cidadãos e da sociedade.

Dom Aldo Di Cillo Pagotto

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