Leigos e Leigas, construtores da justiça e da paz

Dom Edney Gouvêa Mattoso
Bispo de Nova Friburgo (RJ)

 

Caros amigos, neste último domingo, na Solenidade de Cristo Rei do Universo, a Igreja no Brasil celebrou o Dia do Leigos (as), dia em que também foi encerrado o Ano do Laicato.

Durante este ano celebrativo, as paróquias e comunidades de fé dedicaram-se à reflexão do tema “Cristãos leigos e leigas, sujeitos na ‘Igreja em saída’, a serviço do Reino”, iluminado pelo lema “Sal da Terra e Luz do Mundo” (Mt 5, 13-14). A proposta deste Ano Nacional do Laicato pretendeu, além de celebrar a presença e a organização dos leigos no Igreja e na sociedade, aprofundar a sua identidade, vocação, espiritualidade e missão de testemunhar Jesus Cristo e seu Reino nos diversos ambientes da sociedade.

Grande destaque neste período, foi o processo democrático em que foram eleitos os representantes políticos. Sem dúvida estas últimas eleições evidenciaram a importância da conscientização e participação do povo de Deus na vida pública. Neste sentido, espera-se que os esforços deste Ano produzam muitos frutos que permaneçam no campo missionário, e, principalmente, na elaboração e implementação de políticas públicas abrangentes e justas (cf. Mensagem dos Bispos aos Cristãos Leigos e Leigas do Estado do Rio de Janeiro, 24 nov. 2018).

É importante cuidar para que, neste momento de grandes transformações socioculturais, os progressos no campo social sejam respeitados e promovidos os valores fundamentais que regem a vida humana em comunidade.

Atento às urgências de nosso tempo, o Concílio Vaticano II alerta para a necessidade de cuidarmos com empenho da educação política dos cidadãos, para que possam desempenhar o seu papel na vida pública. Deste modo, se evitará o equívoco de atribuir competências indevidas às autoridades, exigindo delas inoportunamente privilégios e proveitos exagerados, de tal modo que se diminua a responsabilidade dos indivíduos, das famílias e dos grupos sociais (cf. Gaudium et Spes, 75).

O Santo Padre, o Papa Francisco, fez um interessante diagnóstico da atualidade na Exortação Evangelii Gaudium, quando escreveu: “Em uma cultura em que cada um pretende ser portador de uma verdade subjetiva própria, torna-se difícil que os cidadãos queiram inserir-se num projeto comum que vai além dos benefícios e desejos pessoais. Na cultura dominante, ocupa o primeiro lugar aquilo que é exterior, imediato, visível, rápido, superficial, provisório. O real cede lugar à aparência.” (n. 61-62).

A crise no compromisso comunitário é real e pode levar ao colapso social. Ela se manifesta de várias formas e pode ser identificada como uma crise na consciência de “direitos e deveres”.

Reivindicar direitos é algo essencial à sociedade. Ela é como um “organismo vivo”, onde cada parte precisa ser atendida para que o conjunto esteja sadio e prospere. Assim, os direitos das “maiorias” e “minorias” precisam ser levados em conta para o bem de todos. Em íntima relação com esta verdade, está a assertiva de que todos precisam conhecer e cumprir seus deveres, pois somente quando cada um cumprir suas obrigações, a sociedade crescerá e prosperará.

Pois, “os que reivindicam os próprios direitos, mas se esquecem por completo de seus deveres ou lhes dão menos atenção, assemelham-se a quem constrói um edifício com uma das mãos e, com a outra, o destrói” (Pacem in Terris, 30).

Neste sentido, toda reflexão promovida neste Ano Nacional do Laicato, unida à Doutrina, auxilia e promove a reta consciência social e política dos direitos e deveres de todo cidadão, habilitando-o a construir um mundo de justiça e paz.

 

 

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