Dom Eurico dos Santos Veloso
Arcebispo Emérito de Juiz de Fora (MG)
Vivemos tempos difíceis. Tempos em que a compreensão parece uma condição distante, inalcançável para a maioria de nós. Um distanciamento entre o que se diz e o que se faz. As palavras que louvam a Deus são ditas pelo mesmo corpo que prega a destruição. Nossa sociedade parece estar doente. Jesus Cristo nunca foi assim. Sempre agiu de acordo com o que pregava — e o que pregava era o verdadeiro propósito de Deus conosco: a misericórdia, o perdão, o amor, a paz, a salvação.
Toda vez que dissemos uma coisa e fazemos outra, estamos negando a Deus. Irmãos e irmãs, não devemos ser assim. Devemos ser totalmente fiéis a Cristo — sem meio termo, sem dúvida. Uma fidelidade inquestionável. Por isso, recordemos o exemplo de São Sebastião, cuja vida fiel aos desígnios de Cristo fora interrompida por homens que o condicionaram a desistir de sua fé para seguir vivendo. Mesmo diante de tal ameaça, São Sebastião seguiu fiel e acabou morto, ainda em juventude.
No dia 20 janeiro, a Igreja celebra a vida deste que é um dos santos mais conhecidos do Brasil, mártir e jovem padroeiro em muitas comunidades e paróquias. Por isso, na exortação pós-sinodal Christus Vivit, Papa Francisco lembra de vários santos jovens, entre eles, São Sebastião. “O coração da Igreja está cheio também de jovens santos, que deram a sua vida por Cristo, muitos deles até ao martírio. Constituem magníficos reflexos de Cristo jovem, que resplandecem para nos estimular e tirar fora da sonolência. O Sínodo salientou que ‘muitos jovens santos fizeram resplandecer os delineamentos da idade juvenil em toda a sua beleza e foram, no seu tempo, verdadeiros profetas de mudança; o seu exemplo mostra do que os jovens são capazes, quando se abrem ao encontro com Cristo” (Christus Vivit, 49).
E depois, o Santo Padre cita São Sebastião: “No século III, era um jovem capitão da guarda pretoriana. Contam que falava de Cristo por toda a parte e procurava converter os seus companheiros, até quando lhe foi ordenado que renunciasse à sua fé. Como não aceitou, fizeram cair uma chuva de flechas sobre ele, mas sobreviveu e continuou a anunciar Cristo sem medo. Por fim, açoitaram-no até à morte” (Christus Vivit, 51).
Sebastião era um corajoso membro da guarda do imperador Diocleciano, que perseguia duramente a Igreja e os cristãos. Era cristão e consolava presos com palavras de conforto, testemunho e evangelização. Mas foi denunciado a Diocleciano, que o ordenou a abrir mão de sua fé. Não o fez e foi preso a um tronco e alvo de muitas flechadas, mas sobreviveu com a ajuda de uma mulher que o resgatou secretamente. Quando se recuperou, foi aconselhado a fugir de Roma. Decidiu ficar e seguir proclamando sua fé. Ciente do que acontecia, Diocleciano, então, ordenou que Sebastião fosse açoitado até a morte. Seu corpo foi jogado no esgoto da cidade de Roma e resgatado por alguns cristãos que o sepultaram em uma catacumba clandestina.
Anos depois, já sob o domínio do imperador Constantino, que permitiu o cristianismo, foi construída uma Igreja em sua honra com o nome de “Basilica Apostolorum”, hoje conhecida como Basílica Menor de São Sebastião Fora dos Muros.
Que possamos todos nos firmar no exemplo de São Sebastião, seguindo a Deus sem contradições. Dizendo e praticando o bem, despretensiosamente, movidos pelo amor, pela paz e pela misericórdia.
Que possamos orar a “São Sebastião glorioso mártir de Jesus Cristo e poderoso advogado contra a peste, defendei a mim, minha família e todo o país do terrível flagelo da peste e de todos os males para que servindo a Jesus Cristo alcancemos a graça de participar de vossa Glória no céu. Amém”.
Saudações em Cristo!
