Cardeal Sergio da Rocha
Arcebispo de Salvador (BA)
“Estender a mão é um sinal: um sinal que apela imediatamente à proximidade, à solidariedade, ao amor. Nestes meses, em que o mundo inteiro foi dominado por um vírus que trouxe dor e morte, desconforto e perplexidade, pudemos ver tantas mãos estendidas!” Assim o Papa Francisco se expressa, na sua Mensagem para o 4º Dia Mundial dos Pobres, elencando as mãos estendidas por muitos durante essa pandemia que tem causado tanto sofrimento, especialmente aos pobres e fragilizados. Ele nos recorda as mãos estendidas por homens e mulheres que atuam no cuidado aos enfermos, arriscando a própria vida; dos voluntários que socorrem quem vive nas ruas; de quem trabalha para prestar serviços essenciais; dos sacerdotes que continuam a abençoar e de tantos outros que poderiam ser enumerados “até compor uma ladainha de obras de bem”.
Em meio a tanto sofrimento causado pela pandemia, necessitamos reconhecer, com profunda gratidão e louvor, o coração generoso que move tantas mãos estendidas para cuidar, curar, partilhar e consolar. Têm sido inúmeras as iniciativas de solidariedade, de serviço e de partilha durante a pandemia, voltadas para os doentes, os pobres e fragilizados. Infelizmente, as más notícias e os males tendem a difundir-se rapidamente, fazendo obscurecer o bem imenso realizado por tantas pessoas e instituições. É verdade que há os que “conservam as mãos nos bolsos e não se deixam comover pela pobreza”. Mas as mãos estendidas são inúmeras e generosas. Entretanto, a pandemia Covid-19, no Brasil e no mundo, continua a exigir corações abertos e mãos estendidas. Não podemos jamais cansar-nos de estender as mãos, especialmente neste tempo dramático que vivemos. Há muita gente à espera de mãos estendidas!
O amor ao próximo, especialmente, aos mais necessitados, é sinal e consequência da fé. Francisco nos ajuda a refletir e a agir sobre como estender a mão, neste tempo de pandemia, fundamentando sua mensagem num versículo bíblico: “Estende a tua mão ao pobre” (Sir 7,32). Esta palavra, a ser vivida em qualquer contexto social, adquire significado e urgência ainda maiores, em meio a tantas vítimas da pandemia, especialmente os pobres e os enfermos. Não podemos ficar surdos ou indiferentes ao “clamor silencioso de tantos pobres”. Não podemos perder a capacidade de chorar e de ser solidário perante o sofrimento alheio. Num contexto social marcado pelo agravamento da pobreza, é preciso desenvolver ações, de caráter pessoal e comunitário, voltadas para os mais vulneráveis e sofredores, juntamente com a atuação indispensável dos Poderes Públicos.
O isolamento forçado durante a pandemia limita, mas não impede estender as mãos fazendo-se próximo, mesmo à distância, do outro que sofre. Erguer as mãos, em oração, poderá ajudar muito a estender as mãos, bem como, a sentir as mãos de Deus estendidas sobre nós.