Dom Anuar Battisti
Arcebispo Emérito de Maringá (PR)
Estamos iniciando mais um ano litúrgico, iniciando a nossa caminhada para o Natal. Advento é tempo de preparação para o Natal, de vigilância, tempo para despertar a expectativa da vinda gloriosa de Cristo no fim dos tempos. Na perspectiva do Advento, dentro deste percurso, somos convidados à oração e à vigilância, para não esmorecermos diante dos obstáculos na nossa vivência cristã.
Maranatá: “Vem, Senhor Jesus!”. Esse é o refrão de todo o Tempo do Advento, que nos coloca vigilantes e atentos ao Senhor que vem ao nosso encontro! O texto do Evangelho sintetiza a mensagem tanto deste primeiro domingo do Advento quanto de todo este tempo litúrgico: “ficai atentos e orai a todo momento!” (Lc 21, 36a).
A liturgia do primeiro Domingo do Advento convida-nos a encarar a nossa caminhada pela história com a certeza de que “o Senhor vem”. Apresenta também indicações concretas acerca da forma como devemos viver enquanto esperamos o Senhor.
A primeira leitura – Jr 33,14-16 – é um apelo dramático a Deus que é “pai” e “redentor”, no sentido de vir mais uma vez ao encontro de Israel para o libertar do pecado e para recriar um Povo de coração novo. Com Jerusalém em ruínas após o exílio, o profeta anima o povo a manter a esperança. Seu desejo é o nosso: um governo justo que defenda os pobres. O profeta está absolutamente convicto de que a essência de Deus é amor e misericórdia; e esses atributos de Deus são a garantia da sua intervenção salvadora em cada passo da caminhada histórica do Povo de Deus.
O Evangelho – Lc 21,25-28.34-36 – convida os discípulos a enfrentar a história com coragem, determinação e esperança, animados pela certeza de que “o Senhor vem”. Propõe que esse tempo de espera seja um tempo de “vigilância”, isto é, um tempo de compromisso ativo e efetivo com a construção do Reino.
A primeira parte do Evangelho de Lucas aborda a segunda vinda de Jesus: o fim dos tempos será precedido de sinais da natureza e do cosmo (Lc 21, 25-28). A segunda parte do texto – Lc 21, 34-36 – orienta os discípulos à oração e à vigilância, de modo a levar a vida de acordo com os ensinamentos do Mestre Jesus, uma vez que o dia a dia da vinda do Senhor é como uma armadilha (Lc 21,35b), ou seja, apresenta um “perigo ou risco” inesperado, pois não se sabe quando será.
Diante da destruição de Jerusalém pelos romanos, a comunidade de Lucas é exortada a ser vigilante. Cumpre ao cristão confiar no Senhor e saber resistir a temores e projetos enganadores. As tragédias não apontam para o “fim do mundo”, mas nos convidam a ficar alertas e não perder a esperança.
A segunda leitura – 1 Ts 3,12-4,2 – mostra como Deus Se faz presente na história e na vida de uma comunidade crente, através dos dons e carismas que gratuitamente derrama sobre o seu Povo. Sugere também aos crentes que se mantenham atentos e vigilantes, a fim de acolherem os dons de Deus. São Paulo ensina como agradar a Deus. O amor é a base da vida cristã e a melhor maneira de aguardar a vinda do Senhor. Cabe-nos progredir sempre mais no amor mútuo, sinal de santidade.
O Tempo do Advento é um tempo de vigilância e de oração! Para não sermos pegos distraídos ou dormindo, somos convidados a estar vigilantes. Não nos é facultado ser cristãos adormecidos e sem entusiasmo no anúncio e testemunho do Evangelho. A autoreferencialidade impede que vislumbremos horizontes mais amplos e nos deixa estacionados entre duas concorridas estações denunciadas pelo amado Papa Francisco: a comodidade mundana e a mediocridade espiritual. Por isso é preciso vigiar!
O Advento é feliz tempo de espera e vigilância. Preparamos o nosso Natal condignamente, de maneira pessoal e comunitária, para que os males que asfixiam o bem comum sejam afastados do meio de nós. Por isso devemos cantar todos os 24 dias do Advento: “Vem, Senhor Jesus”. Vigilantes e confiantes vamos ao encontro do Menino Deus, no presépio, cantando com fé: “Vem, Senhor Jesus!”