Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)

 

A Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro tem a alegria de receber, uma vez mais, a imagem peregrina de Nossa Senhora de Nazaré, trazida diretamente do Santuário Arquidiocesano e Basílica Menor de Nossa Senhora de Nazaré, em Belém, PA. Neste, o Círio no Rio tem como tema: “Maria, Mãe da Igreja”, que é mesmo que está sendo aprofundado em Belém. Esta será a 11ª. Edição do Círio de Nazaré em terras cariocas. Este ano ele inicia com o Dia do perdão de Assis (Porciúncula). Aqui já existiam antes as várias comemorações do Círio em Copacabana e Tijuca, além das Paróquias de dedicadas a Nossa Senhora de Nazaré em Acari e Anchieta, além das capelas e comunidades que levam o nome mariano. A vinda da imagem peregrina neste 11º ano vem confirmar a devoção dos paraenses aqui radicados ou os devotos da Virgem de Nazaré em pedir à Maria que reze por nós junto ao seu Filho Jesus. Damos graças a Deus pela graça de celebrar em nossa Arquidiocese o Círio de Nazaré. Na extensa programação da visita da Imagem Peregrina os cariocas e todos os amados devotos, particularmente os paraenses residentes na cidade do Rio de Janeiro, podem celebrar, viver e rezar o seu Círio de Nazaré no Rio de Janeiro.

Um pouco de história aqui no Estado do Rio de Janeiro da devoção da Virgem de Nazaré. No dia 8 de setembro do ano de 1630, após uma grande tempestade, um pescador saiu para ver suas redes no mar de Saquarema. Ao passar diante de um morro, onde hoje está erguida a Igreja Matriz dedicada à Nossa Senhora de Nazaré, viu uma forte luz e foi verificar o que era. No local do brilho, ele encontrou a imagem de Nossa Senhora de Nazaré. Levou a imagem para sua casa na vila dos pescadores, reuniu todos os pescadores, fizeram orações e foram dormir. No dia seguinte, a imagem reapareceu no local onde havia sido encontrada. Isso aconteceu por duas vezes.  Todos entenderam que era para construir uma capela naquele local. Muitos milagres aconteceram a partir de então e a capela ficou pequena, sendo necessário construir uma igreja bem maior. Sua festa é celebrada no dia 8 de setembro. A devoção mais antiga em nossa região situa-se, portanto, em Saquarema, Arquidiocese de Niterói. Depois vieram as migrações dos paraenses que, ao fixarem moradia na cidade do Rio de Janeiro trouxeram suas devoções para esta cidade.

Porém a repercussão maior continua sendo a de Belém do Pará.: Círio é uma palavra que significa vela grande.  A devoção à Senhora de Nazaré foi levada para Belém do Pará pelos padres Jesuítas há mais de 200 anos e se tornou a maior festa católica do mundo dedicada à Mãe de Jesus. A festa é celebrada desde 1793, e hoje, mais de 12 milhões de pessoas participam das 12 procissões todos os anos. A grande manifestação é celebrada no segundo domingo de outubro. Uma grande procissão com todos sai no sábado para a Catedral e retorna no domingo para a Praça diante da Basílica de Nossa Senhora de Nazaré. Esse percurso têm aproximadamente 5 quilômetros. Existe, também, a procissão de carros, motos e a grande procissão de barcos.

Na Exortação Apostólica Marialis Cultus, do Papa São Paulo VI para a reta ordenação e desenvolvimento do culto à Bem-Aventurada Virgem Maria ensina que:  “Maria é a Virgem que sabe ouvir, que acolhe a palavra de Deus com fé; fé, que foi para ela prelúdio e caminho para a maternidade divina, pois, como intuiu Santo Agostinho, “a bem-aventurada Maria, acreditando, deu à luz Aquele (Jesus) que, acreditando, concebera” (Sermão 215, 4; PL 38,1074); na verdade, recebida do Anjo a resposta à sua dúvida (cf. Lc 1,34-37), “Ela, cheia de fé e concebendo Cristo na sua mente, antes de o conceber no seu seio, disse: “Eis a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38 – ibid.); fé, ainda, que foi para Ela motivo de beatitude e de segurança no cumprimento da promessa: “Feliz aquela que creu, pois o que lhe foi dito da parte do Senhor será cumprido” (Lc 1,45); fé, enfim, com a qual ela, protagonista e testemunha singular da Encarnação, reconsiderava os acontecimentos da infância de Cristo, confrontando-os entre si, no íntimo do seu coração (cf. Lc 2,19.51). É isto que também a Igreja faz; na sagrada Liturgia, sobretudo, ela escuta com fé, acolhe, proclama e venera a Palavra de Deus, distribui-a aos fiéis como pão de vida (DV 21), à luz da mesma, perscruta os sinais dos tempos, interpreta e vive os acontecimentos da história. Maria é, além disso, a Virgem dada à oração. Assim nos aparece ela, de fato, na visita à mãe do Precursor, quando o seu espírito se efunde em expressões de glorificação a Deus, de humildade, de fé e de esperança: tal é o “Magnificat” (cf. Lc 1,46-55), a oração por excelência de Maria, o cântico dos tempos messiânicos no qual confluem a exultação do antigo e do novo Israel, pois, conforme parece querer sugerir Santo Irineu, no cântico de Maria convergiu o júbilo de Abraão, que pressentia o Messias (cf: Jo 8,56) (36) e ressoou, profeticamente antecipada, a voz da Igreja: “exultante, Maria clamava, em lugar da Igreja, profetizando: a minha alma glorifica o Senhor…”.(37) Este cântico da Virgem Santíssima, na verdade, prolongando-se, tornou-se oração da Igreja inteira, em todos os tempos”

(http://w2.vatican.va/content/paul-i/pt/apost_exhortations/documents/hf_p-vi_exh_19740202_marialis-cultus.html, ultimo acesso em 30 de julho de 2019).

São João Paulo II, em sua primeira Visita Apostólica ao Brasil, diante da imagem da Virgem de Nazaré ensinou: “1. Este momento de alegria e comunhão, nos encontra reunidos em Belém, “casa do Pão”, para receber o pão da Palavra de Deus e, dentro de momentos, o Pão eucarístico, Corpo do Senhor. Nosso encontro se realiza na Basílica de Nossa Senhora de Nazaré. Belém e Nazaré nos falam antes de tudo de Jesus, o Salvador, na sua vida oculta, criança e depois jovem, no cumprimento de sua missão: “Eis que venho, ó Deus, para fazer em tudo a Tua vontade” (Hb 10, 7). Belém e Nazaré nos falam também da Mãe de Jesus, sempre próxima ao Filho eterno de Deus, Seu filho segundo a carne, fiel ela também no cumprimento de um papel de primeira importância no plano da Salvação divina: “Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1, 38). Nossa Senhora avançou no caminho da fé, sempre em união com o seu Filho. Acompanha-O passo a passo, associando-se a Ele, alegrando-se e sofrendo com Ele, amando sempre aqueles que Ele amava. Depois, Cristo subiu de novo para junto do Pai. E nos dias que precederam o Pentecostes, o grupo dos discípulos, Igreja nascente, cheios de alegria e de fé, pelo triunfo de Cristo ressuscitado e ansiosos pelo Espírito Santo prometido, querem sentir-se muito unidos. Vamos encontrá-los em oração “com Maria, Mãe de Jesus” (At 1, 14). Era a oração de uma família: daqueles que o Senhor havia chamado para a sua intimidade, com a Mãe, a qual, “com a sua caridade cooperou para que nascessem na Igreja os fiéis, membros daquela Cabeça, da qual Ela é efetivamente Mãe segundo o Corpo”, como diria Santo Agostinho (S. Agostinho, De Virginitate, 6: PL40,399).”(http://w2.vatican.va/content/john-paul ii/pt/homilies/1980/documents/hf_jp-ii_hom_19800708_belem-brazil.html, último acesso em 30 de julho de 2019)

Abundantes graças Nossa Senhora de Nazaré está trazendo para a nossa Arquidiocese com a sua visita. Vamos viver esse momento de renovação, de santificação e de promoção para todas as vocações que vivemos no mês de agosto. Como estamos professando que “Maria é Mãe da Igreja” a Virgem de Nazaré irá abençoar o povo e, particularmente, nosso amado presbitério, reunido na manhã do dia 03 de agosto, na Sé Catedral de São Sebastião para louvarmos e bendizermos o sacerdócio de Cristo Bom Pastor na alegria de servir o Evangelho de todos os nossos presbíteros. Nossa Senhora de Nazaré como Mãe da Igreja e nossa Mãe irá abençoar as famílias, as comunidades, as Paróquias por onde vai peregrinar e toda a nossa Arquidiocese. Pedimos a sua intercessão como em Caná, Ó Virgem Bendita de Nazaré, que abençoe a Igreja de Cristo e a todos nós que queremos seguir Jesus professando a nossa fé católica e apostólica.

Rezemos com Nossa Senhora de Nazaré pedindo a proteção para todas as vocações que celebramos na Igreja no Brasil no mês vocacional de Agosto que estamos iniciando: os padres, os pais, as famílias, os religiosos, os consagrados, os leigos, os catequistas na busca da vocação comum: a vocação à santidade. Que Nossa Senhora de Nazaré nos ajude a crescer na unidade e na santidade pedida por Jesus para que todos sejamos um.

Vamos, com muita fé e devoção, agradecidos por Deus nos ter dado a Virgem de Nazaré como Mãe da Igreja e nossa Mãe, a sua oração: “Ó VIRGEM MÃE AMOROSA, SENHORA DE NAZARÉ, MULHER HUMILDE E SERVA DO SENHOR, QUE FOI ESCOLHIDA, ENTRE TODAS AS MULHERES, PARA SER A MÃE DO SALVADOR, ENSINAI-NOS A CUMPRIR A VONTADE DE DEUS, COMO FIZESTES. SEDE PRESENÇA EM NOSSAS VIDAS, POIS SABEMOS QUE POR TODOS OS CAMINHOS, DERRAMAIS GRAÇA E BELEZA, TRANSFORMANDO AS DUREZAS, EM SUAVIDADE DE FLORES. COMO O ARCANJO SÃO GABRIEL, QUEREMOS SAUDAR-VOS, “AVE, MARIA, CHEIA DE GRAÇA” NOSSA SENHORA DE NAZARÉ, DAI-NOS A BÊNÇÃO! AMÉM.

Que a visita Nossa Senhora de Nazaré ao Rio de Janeiro nos ajude a amar mais e servir à Deus e a trabalhar na Igreja pela santificação de todos que precisam da graça de Deus. Nossa Senhora de Nazaré, rogai por nós que recorremos a Vós!

 

 

 

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