Maria no Advento: a mulher que acende a aurora

Dom Leomar Antônio Brustolin
Arcebispo de Santa Maria (RS)

 

No coração do Advento, quando a Igreja inteira respira espera, silêncio e promessa, surge uma figura que ilumina discretamente o caminho: Maria, a Mãe do Senhor, aurora da salvação, mulher do “sim” e do caminho, sinal de tudo aquilo que Deus pode realizar quando encontra um coração disponível. Não se compreende plenamente o Advento sem contemplar a Virgem Maria, pois nela o futuro de Deus começou a tomar forma humana. 

Maria é o ícone perfeito da espera cristã. Enquanto o mundo seguia distraído, ela guardava no coração as palavras de Deus e deixava que germinassem no segredo de sua interioridade. Numa cultura que valoriza a pressa, a eficiência e o imediatismo, Maria ensina a arte paciente da gestação: o Reino de Deus não nasce com ruído, mas na suave lentidão silenciosa de quem confia. Ela nos mostra que a esperança não é passividade, mas adesão ativa ao plano divino. No seu “faça-se”, toda a história encontrou um novo rumo. 

 

Maria, mulher da escuta e da disponibilidade 

 

No Advento, Maria aparece como a mulher que escuta. Antes de conceber no corpo, ela concebeu pela fé. A anunciação não é apenas um episódio distante: é a pedagogia do Advento. O anjo entra na casa humilde de Nazaré e encontra uma jovem capaz de dialogar, perguntar, acolher e decidir-se pela vontade de Deus. Diante dela, o Advento nos pergunta: estamos escutando a Palavra que nos visita? Estamos abrindo espaço para Deus em nossas escolhas? 

Maria também é a mulher que caminha. Assim que acolhe a Palavra, levanta-se “às pressas” e vai à casa de Isabel. A pressa de Maria não é ansiedade; é caridade. Ela dirige seus passos ao encontro da outra, e ali a presença de Deus faz João saltar no ventre. No Advento, o gesto de Maria nos revela que a espera cristã não é inércia: é movimento em direção ao próximo. Quem carrega Cristo dentro de si não se acomoda; ilumina, visita, sustenta, consola. 

 

Maria, primeira morada de Deus e sinal de esperança 

 

Em Maria, o Advento é também liturgia do corpo. Seu ventre, lugar sagrado onde o Verbo se fez carne, torna-se a primeira tenda da nova aliança. Ela encarna a maior verdade deste tempo: Deus quer aproximar-se, quer tocar a humanidade, quer habitar conosco. Maria é a primeira morada de Deus entre os homens. Nela, o mistério da encarnação se revela como gesto extremo de ternura. Contemplar Maria grávida é compreender que a fé cristã não é ideia abstrata, mas vida que pulsa. 

A Virgem também nos ajuda a entender o caráter escatológico do Advento. Ela viveu entre a primeira vinda de Cristo — aquela que crescia silenciosamente dentro dela — e a vinda futura, que ela mesma esperava com ardente esperança. Maria é, portanto, a mulher da vigilância. Através de seus olhos, aprendemos a olhar para o mundo com esperança ativa, reconhecendo os sinais discretos da presença de Deus nos pobres, na justiça que desponta, na vida que resiste, na paz que teima em nascer mesmo em cenários adversos. 

Por isso, a espiritualidade do Advento encontra em Maria sua melhor intérprete. Ela é Estrela da Manhã, aquela que anuncia que a noite está passando e o dia se aproxima. Em sua humildade, Deus inaugurou um futuro novo para a humanidade. Em sua docilidade, encontramos o caminho para acolher Cristo em nossas vidas. Em sua coragem, aprendemos que a fé sempre dá um passo além, mesmo quando tudo parece incerto. 

Que, neste Advento, Maria nos ensine a guardar silêncio sem perder a esperança, a caminhar sem temer o desconhecido, a servir sem esperar recompensas, a acreditar que Deus continua entrando na história pelos caminhos mais inesperados. E que, como ela, possamos dizer com verdade: “Faça-se em mim segundo a tua Palavra.”
 

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