Dom Anuar Battisti
Arcebispo Emérito de Maringá (PR)
Queridos filhos e filhas,
O calendário da Igreja é a cadência do nosso coração. Com a chegada do Advento, viramos uma página importante na nossa fé. Deixamos para trás o Ano C, guiados pelo evangelista Lucas, o doutor da misericórdia, para nos encontrarmos com São Mateus, o companheiro que nos conduzirá através de todo o Ano Litúrgico A.
Eu gosto muito de meditar sobre a história pessoal deste nosso novo guia. Antes de ser Mateus, ele era Levi. Um homem que tinha sua vida resolvida, sentado na sua banca de cobrança de impostos (cf. Mt 9,9). Sua preocupação era o cálculo, o dinheiro, o ter. Ele estava no centro do seu próprio mundo, mas, talvez, vazio por dentro.
E então, Jesus passou. Ele não parou para condenar Levi por sua profissão. Não fez um sermão sobre a justiça dos impostos. Apenas pousou sobre ele o olhar de amor. Um olhar que via não o cobrador, mas o potencial de santo. E disse apenas duas palavras: “Segue-me”.
Este é o poder da conversão. Mateus se levantou imediatamente. Deixou a banca, deixou as moedas, e ganhou uma riqueza que não se conta em valores terrenos. Ele ganhou a missão de escrever sobre o Reino, de ser uma testemunha.
Meus irmãos, a Campanha para a Evangelização é exatamente este momento de “se levantar”. É quando Jesus passa pela nossa rotina, pela nossa “banca” de trabalho e de preocupações, e nos convida a partilhar aquilo que temos, deixando a mentalidade de acumulação.
O Evangelho de Mateus, o “Evangelho do Reino” e o “Evangelho da Comunidade”, é a nossa escola para este ano. É ele quem nos presenteia com o Sermão da Montanha. Subir a montanha com Jesus é aprender as Bem-aventuranças, que nos ensinam o contrário do que o mundo prega.
Por exemplo, ele nos diz: “Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia” (Mt 5, 7).
Para nós, cristãos, a misericórdia não é apenas um sentimento bonito; é um modo de vida. A misericórdia é o braço estendido da caridade. Eu penso no trabalho de nossas pastorais, na visita ao doente, no prato de comida partilhado, no trabalho de tantas pessoas generosas em nossos hospitais, clínicas, casas de recuperação e em todos os que trabalham curando o corpo e a alma. Isso é viver as Bem-aventuranças na prática. Quando somos misericordiosos com o próximo, nós nos preparamos para o grande encontro onde o próprio Cristo nos perguntará sobre a nossa capacidade de amar (cf. Mt 25, 31-46).
A nossa Campanha para a Evangelização traduz esta misericórdia em recursos. A obra de evangelização da Igreja no Brasil é imensa. Há lugares remotos que só recebem a Palavra de Deus e os sacramentos graças ao esforço missionário que esta campanha sustenta.
A missão não é sustentada por anjos, mas por pessoas que se levantam de sua “banca” e partilham seus dons, seu tempo e seu dinheiro. Lembremo-nos de Nossa Senhora, a primeira a se levantar e a primeira a evangelizar na pressa e alegria de visitar sua prima Isabel. Maria não ficou parada; Ela se fez a primeira missionária. A contribuição de cada um de nós é o fiat moderno, que permite à Igreja levar a graça de Deus aos seus filhos.
Ao longo deste Ano A, que Mateus nos ensine a não ter medo de deixar para trás o que é passageiro. Que tenhamos a coragem de sair do apego e da mesquinhez para investir naquilo que é eterno. A verdadeira alegria do Natal, que se aproxima, é a alegria da doação, do esvaziamento, de se fazer pequeno.
Que a Virgem Santíssima, a Mãe da Conceição Aparecida, que nos ensina a contar as bênçãos de Deus em vez de contar os problemas do mundo, interceda por nós. Que tenhamos um Ano A cheio de luz e que a nossa Campanha para a Evangelização seja o sinal concreto da nossa fé e da nossa esperança.
Com minha bênção pastoral e orações,
