Dom José Francisco Rezende Dias
Arcebispo de Niterói (RJ)
“Eu vim para que todos tenham vida, e tenham vida em abundância” (João 10,10).
Esta é uma das frases mais conhecidas do Evangelho. Dos muitos vieses pelos quais pode ser lida, naturalmente, um do qual pouco se ouve é o da maturidade, metáfora sempre ligada ao amadurecer da fruta.
Uma fruta está madura quando se torna aquilo que deve ser a partir da sua natureza. É dessa forma que ela se torna agradável ao paladar. É assim que ela transmite toda capacidade nutricional.
Maduro é o ser humano que se desenvolveu a ponto de se tornar uma fonte de onde todos possam retirar alimento e vida. Mas isso não se adquire de um dia para o outro. Leva tempo! Leva o tempo que o tempo exige da planta, para que ela cresça, solte os primeiros botões, seja polinizada, enriquecida daquilo que, por conta própria e sozinha, não seria capaz. E mais: que se deixe banhar de chuva e de sol, de água e de luz, todos os dias, sem se cansar de esperar. Sim, porque o fruto é filho da espera, e a espera só acontece na paciência.
Maduro é um ser humano que se tornou coerente, que não se encontra mais dividido entre tormentas, necessidades, possibilidades. Como disse Anselm Grün, esse sujeito uniu tudo em si, tornou-se um consigo mesmo e, por isso e só assim, tornou-se inteiro.
Todo ser humano traz no íntimo esse desejo e essa semente.
Mas é preciso estar atento: maturidade não se desenvolve apenas em si e para si mesmo. É algo que sempre representa a parcela de si mesmo que trazemos e depositamos nos outros, ou porque nos aceitaram ou porque nos rejeitaram.
Por que, então, estamos tão, interiormente, fragmentados e desagregados, quando, na verdade, desejamos ser unos e inteiros? Essa é a pergunta que nos impulsionará nas próximas semanas. Da sua resposta brota um manancial de possibilidades. Podemos dele beber?