Mensagem do Papa Bento XVI aos presbíteros durante sua homilia na Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo
(Missa celebrada na Basílica de São João de Latrão, dia 11 de junho de 2009)
Faço um apelo especial a vós, queridos sacerdotes, a quem Cristo escolheu, para que junto dele possam viver a vossa vida como sacrifício de louvor para a salvação do mundo. Só a partir da união com Jesus pode-se ter aquela fecundidade espiritual que é fonte de esperança em seu ministério pastoral. Recorda São Leão Magno que “a nossa participação no corpo e sangue de Cristo não tende a nada mais que nos transformar naquilo que recebemos” (Sermão 12, De Passione 3/7, PL 54).
Se isto é verdade para cada cristão, é ainda mais para nós sacerdotes. Ser Eucaristia! Seja este o nosso desejo e esforço constante, para que a oferta do corpo e sangue do Senhor que fazemos sobre o altar esteja acompanhada do sacrifício das nossas vidas. Todos os dias, cultivemos pelo Corpo e Sangue do Senhor aquele amor livre e puro que nos faz dignos ministros de Cristo e testemunhas da sua alegria. É aquilo que os fiéis esperam de um padre: o exemplo de que é uma verdadeira devoção à Eucaristia; o amor que se vê ao passar longos momentos de silêncio e de adoração diante de Jesus, como fazia o Santo Cura d’Ars, que será lembrado de modo especial durante o Ano Sacerdotal.
São João Maria Vianney gostava de dizer aos seus paroquianos: “Venham para a comunhão… É verdade que não somos dignos, mas precisamos” (Bernard Nodet, Le Curé d’Ars. Sa pensée – Filho coeur, éd. Mappus Xavier, Paris 1995, p. 119). Com a consciência da inadequação por causa dos pecados, mas com a necessidade de nutrir-nos do amor que o Senhor oferece no sacramento eucarístico, renovamos esta noite nossa fé na presença real de Cristo na Eucaristia. Não se deve ter como um dado adquirido esta fé! Há hoje o risco de uma secularização intrínseca na Igreja, que se pode traduzir em um culto eucarístico formal e vazio, em celebrações destituídas daquela participação do coração que se exprime na veneração e no respeito pela liturgia. É sempre forte a tentação de reduzir a oração a momentos superficiais e apressados, deixando-se submergir pelas atividades e preocupações terrenas. Quando em breve recitarmos o Pai Nosso, a oração por excelência, vamos dizer: “O pão nosso de cada dia nos dai hoje”, a pensar, naturalmente, no pão de cada dia. Esta questão contém, no entanto, algo mais profundo. O termo grego epioúsios, que traduzimos como “quotidiano”, poderia também aludir ao pão “supra-substancial”, o pão “do mundo a advir”. Alguns Padres da Igreja viram aqui uma referência à Eucaristia, o pão da vida eterna que é dado na Santa Missa, a fim de que desde agora o mundo futuro comece em nós. Com a Eucaristia, portanto, o céu vem sobre a terra, o advir de Deus ergue-se no presente e o tempo é abraçado pela eternidade divina.
Queridos irmãos e irmãs, como todos os anos, no final da Santa Missa, teremos a tradicional procissão eucarística e elevaremos, com orações e cantos, um coro de imploração ao Senhor presente na hóstia consagrada. Diremos a Ele em nome de toda cidade: permanece conosco, Jesus, concede a nós o dom de ti e nos dê o pão que nos alimenta para a vida eterna! Liberte este mundo do veneno do mal, da violência e do ódio que polui as mentes, purifica-o com a força do seu amor misericordioso. E a ti, Maria, que se fez mulher “eucarística” em sua vida, ajuda-nos a caminhar juntos rumo à meta do céu, alimentados pelo Corpo e Sangue de Cristo, pão da vida eterna e remédio da imortalidade divina. Amém!
[Traduzido do original italiano por Zenit]
