Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)

A Igreja, Mãe e Mestra, durante o ano litúrgico, além da liturgia, sempre muita rica em sinais e temas, também aproveito alguns eventos durante o ano para dias, semanas, meses e anos temáticos, como agora temos ao iniciar o mês de outubro: mês missionário por excelência.

O tema escolhido para este ano “A vida é missão” e o lema “Eis-me aqui, envia-me” (Is 6,8) irão nos ajudar no crescimento da consciência missionária. Ser discípulo missionário está além de cumprir tarefas ou fazer coisas.

A cada ano, o mês missionário tem o tema para animar os fiéis nessa missão que é tão cara a Igreja. O tema desse ano é bem propício e chamativo a todos nós. O lema é também o tema da carta do Papa para o dia mundial das missões (Isaías 6,8), é a nossa resposta ao chamado que Deus nos faz. De certa maneira, dizendo que estamos prontos para a missão na qual Deus nos chamou.

Nós somos chamados para a missão desde o nosso Batismo, quando somos marcados pelo Espírito Santo que é o protagonista da missão. E somos chamados a ser sal na terra e luz no mundo, ou seja, a nossa vida deve dar sabor às pessoas, a nossa fé deve ser alimentada sempre e devemos ser luz para quem encontrarmos, levando sobretudo a palavra de Deus para os desanimados e tristes.

Todos os batizados são chamados a ser discípulos e missionários de Jesus Cristo e a contribuir na construção do Reino de Deus. Já nos dizia o Papa emérito Bento XVI, durante a V Conferência Geral do Episcopado Latino-americano, realizada em Aparecida (SP), em 2017. Devemos ir ao encontro, sobretudo, daqueles batizados que se encontram afastados da Igreja por algum motivo; que se encontram desanimados com algumas situações da vida, para que retornem ao primeiro amor no qual eles foram mergulhados nas águas do batismo e voltem a professar a sua fé.

Devemos ir além da sacristia, como nos alerta o Papa Francisco, ser uma Igreja em saída. Não devemos parar no tempo esperando as coisas acontecerem ou caírem do céu, mas sair de nossos comodismos, de dentro das nossas igrejas e ir ao encontro daqueles que precisam ouvir a palavra de Deus. Ir atrás das ovelhas perdidas para que elas novamente encontrem o caminho da felicidade e da alegria em Deus.

Nesse mês missionário em especial, vivemos uma realidade diferente do que aconteceu em anos anteriores, causada pela pandemia da Covid-19. Muitas famílias enlutadas por causa de entes queridos que se foram; muitas pessoas que sentiram a sensação da morte pois tiveram a doença. Muitas pessoas revoltadas com Deus e com a fé abalada.

Por isso, no mês missionário deste ano somos chamados a ir ao encontro dessas pessoas, para consolá-las e reavivar nelas a chama da fé e da esperança em Deus. Rezar juntos para que essas pessoas voltem a professar a sua fé e tenham confiança em Deus para passar essa fase difícil.

Todos nós devemos ter esse impulso missionário, até mesmo em nossa comunidade quando vamos à missa aos domingos. Não devemos apenas “participar” da missa do banco da Igreja. Mas devemos ter o impulso missionário de fazer uma leitura, de ajudar no ofertório, de acolher as pessoas que chegam na porta da Igreja; de fazer parte do coral ou participar efetivamente de uma Pastoral, associação ou movimento. Enfim, de diversas outras maneiras que podemos contribuir na construção do Reino de Deus em nossa comunidade, e ser ali um sinal da presença de Deus.

Portanto, quando participamos ativamente da celebração Eucarística, estamos sendo missionários, pois contribuímos com Deus na missão de evangelizar. A própria celebração Eucarística nos envia para a missão. Ao final da missa, quando o padre diz “Ide em Paz e que o Senhor vos acompanhe”, termina a missa, mas inicia a nossa missão.

O Papa Francisco lembra que “a missão no coração do povo não é uma parte da minha vida ou ornamento a ser posto de lado. É algo que não posso arrancar do meu coração” (cf. Alegria do Evangelho, 27). Nós cristãos somos convidados a defender e cuidar da vida em todas as suas dimensões. Jesus de Nazaré definiu sua ação no mundo como o Divino Cuidador: “Eu vim para que todos tenham vida e vida em abundância” (cf. Jo10,10). Esse também deve ser o compromisso de todos os missionários e missionárias, pois a vida é missão. A vida é o bem fundamental e básico em relação a todos os demais bens e valores da pessoa. Para a ética, a vida é um bem, mais que um valor. Deus, ao contemplar a criação, “viu que tudo era muito bom” (cf. Gn 1,31). Todo missionário é convidado a educar o olhar sobre as realidades de dor e, sobretudo, saber contemplar o belo, como fazia São Francisco de Assis, encantando-se com as criaturas presentes pelo caminho.

A nossa missão consiste em levar para aqueles que ficaram em casa ou nossos vizinhos e amigos, aquilo que ouvimos da palavra de Deus durante a celebração Eucarística. Imbuídos do Espírito Santo e da Eucaristia que nos revigora e alimenta a nossa fé, podemos alimentar a fé daqueles que vamos encontrar no próprio domingo ou durante a semana.

Portanto, meus irmãos, respondamos com coragem ao convite do Senhor para irmos à missão. Que estejamos sempre dispostos a dizer “Eis-me aqui, envia-me” e que a nossa missão seja permanente, não somente em outubro, mas durante todos os meses do ano. Que o Senhor nos encha de coragem e alegria para sermos testemunhas da fé a quem encontrarmos em nosso caminho.

 

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